O Algarve, que teve a honra de ouvir, como o Minho, partindo da sua cidade de Lagos, nesse mesmo dia histórico de Maio florido, o sinal da arrancada, muito se sensibilizou com o convite feito ao general Leonel Vieira para fazer parte da comissão organizadora como representante dos oficiais que tomaram parte no 28 de Maio.

Sendo então distinto e decidido capitão, foi ele que comandou as tropas revolucionárias do regimento de infantaria n.º 33, que iniciaram sem hesitações de qualquer espécie a marcha sobre Lisboa logo ao badalar da primeira hora do dia 28 de Maio, conforme a palavra dada.

Esse mesmo 33 que foi alma do movimento precursor de 5 de Dezembro e tropa fiel do presidente Sidónio Pais.

À sua atitude no desencadear do movimento e à firmeza que manteve quando nessa primeira hora de indecisão se perderam as ligações e não se sentia apoio visível se deve a animação da revolução a sul do Tejo.

Entrou o 33 em Lisboa desacompanhado, atravessando-a sempre vitoriado pelo povo, que começou a acreditar na virilidade do movimento.

Aqui, foi surpreendido pelo silêncio de uma guarnição e por uma intriga no Terreiro do Paço, em pleno departamento do Exército.

O Sr António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - O silêncio só foi quebrado quando as tropas revolucionárias do Norte e do Sul deram as mãos na Amadora, onde o general Gomes da Costa mandou apresentar os comandantes das unidades e deu conta da sua adesão.

O Sr. António Santos da Ganha: - Muito bem!

O Orador: - A intriga, mercê do bom senso e noção das responsabilidades por parte dos oficiais, que do Algarve tinham vindo, acabou quando foi interrompido o diálogo travado no Terreiro do Paço, com agentes de conhecidos políticos, que punha em perigo a unidade das forças revolucionárias.

Procurava-se turvar as águas para pescar nelas o peixe que tinham como seguro e sentiam que lhe fugia das mãos.

E se chamava mais uma revolução para substituir no Governo um partido por outro partido.

O que o Exército tinha na ideia e ambicionava era aquilo que depois foi. Uma revolução para arrancar das mãos fracas e doentes dos partidos o Poder, para o entregar nas mãos sadias e fortes da nação organizada.

A estátua a levantar em Braga ao marechal Gomes da Cesta não bem apenas gesto de homenagem a um dos mais categorizados condutores da Revolução, mas também para glorificar tão famoso militar que tantas vezes desembainhou á sua espada vitoriosa em terras do ultramar e da França, honrando o Exército e servindo a Pátria.

E esse mesmo Exército que ora está dando, nessas mesmas terras do ultramar, o mais puro e nobre exemplo de patriotismo e de compreensão pelo cumprimento do sagrado dever de tudo sacrificar pela Pátria, o dever que é de todos os portugueses, qualquer que seja o labor que exerçam e o local onde se encontrem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -A sua atitude heróica e disciplinada exige, portanto, das retaguardas o mesmo sentimento e força de ânimo no desempenho chis suas tarefas quotidianas, para assegurar a vitória dos que se batem nas frentes, de forma que todos sejamos dignos do amor da Pátria. O sangue derramado na sua defesa é testamento e mandato.

Sr. Presidente: No movimento geral das manifestações deste quadragésimo ano da Revolução, devemos ter bem presentes os princípios fundamentais que estão na origem dos acontecimentos e caracterizam o Estado Novo.

As mais significativas e estimadas homenagens serão aquelas que, espontaneamente, prestarão os homens justos e de boa memória, em momento de meditação, despertando no mais íntimo da sua consciência um sentimento de gratidão para com o homem que inspirou os princípios, os vive e faz lembrar no dia a dia da sua vida simples e austera.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Homem que é exemplo de abnegação, razão de ser de um prestígio, que é força que o impõe e o faz respeitado por gregos e troianos.

A verdade dos princípios, que apesar do tempo e dos tempos se mantém válida, e a firmeza e constância da acção governativa são as maiores virtudes do Regime.

As apreensões que podem perturbar o justificado estiado de euforia de que estamos possuídos, ao revermo-nos na cidade nova que edificámos e onde vivemos como o permite a modéstia dos nossos recursos e nos ensina a escola do passado, são os procedimentos e métodos em que se não tem em conta o calor humano que irradia da doutrina bem expressa na letra do nosso estatuto constitucional.

É este estado de alma que faz acorrer aos lábios a palavra «revisão», que convida a debruçarmo-mos neste momento sobre os acontecimentos e seus agentes.

Os pioneiros da Revolução, que pela força da ronda implacável do tempo vão, pouco a pouco, sendo rendidos nos postos que ocupam no tabelado das actividades nacionais, sentem mais do que ninguém a urgência e o alcance de o fazer.

O que mais ardentemente desejamos é adquirir a convicção e a certeza de que o Regime perdurará para além da sua ausência e que não se voltará ao passado triste que viveram.

Para tanto se recomenda o revigoramento das raízes Atices dês instituições e a escolha de meios mais potentes e adequados para dar à juventude a formação moral, cívica e política que faça florescer nela o espírito de missão dos homens da primeira hora. Temos de lhe dar a alma e a armadura para lutar e vencer o egoísmo e o espírito mercenário, que são os males da época.

Época de acentuado materialismo, em que pontifica o técnico dominando a inteligência das elites e promovendo a mecanização das massas.

Época de dias amargos e duros em que se debatem os destinos do (Mundo e o futuro dos homens, na procura de uma sociedade para os tempos modernos, com as mais desorientadoras actuações.

Fala- se com obsessão da paz e pratica-se a guerra com desvario.

A experiência portuguesa, com a sua fundamentada arquitectura, será contributo sério para se atingir, naturalmente, sem violência a justiça social de que a humanidade está ávida, se lhe formos fiéis e servidores dedicados.

Com mercenários vencem-se batalhas, mas não se conquista a alma do povo. E é isto que importa para que