Que significado poderá atribuir-se à exaltação de certos pedagogos ao contrário e de certas personalidades literárias adversas efectuada em algumas das nossas tribunas escolares?

Fala-se muito de juventude e de quem ensina: Mas quem é português - que ensine portuguesismo; quem é patriota - que ensine patriotismo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Temos visto bons ensinamentos que não são difundidos; temos visto bons valores que não são nomeados.

O silêncio também constitui grande perigo.

Às vezes interrogam-nos como se não existisse o que já existe, ou como se não houvesse sido escrito ou dito aquilo que já se escreveu e disse.

A escola e o ensino, afinal, dependem dos que possam educar e não eduquem e dos que possam ensinar e não ensinem.

Sr. Presidente: Os triunfos ideológicos são os mais custosos de manter, pois jamais cessam de exigir o valor activo dos princípios e o empenho constante dos homens. E talvez devesse agora alongar-me, produzindo outras considerações a propósito. Mas por hoje limito-me a submeter alguns temas à reflexão de todos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Horácio Silva: - Sr. Presidente: São para V. Ex.ª, Sr. Presidente, as minhas primeiras palavras, as primeiras palavras de Deputado da Nação pelo círculo de Angola que pronuncio nesta alta Assembleia da política nacional. E não o faço por mero cumprimento de uma praxe, a que, aliás, presto a devida homenagem, por excelente que é, reveladora do alto sentido de urbanidade que é timbre desta Casa.

Faço-o, sim, e com o maior prazer, porque, além do largo conhecimento que já possuía de V. Ex.ª, de tradição e de informação, nas minhas três dezenas de anos de jornalismo, tenho seguido de perto, há longos anos, o desenvolvimento da política nacional, da qual é V. Ex.ª das suas figuras mais eminentes. A esse largo conhecimento do estadista e catedrático ilustre Prof. Mário de Figueiredo associo agora o conhecimento directo da acção de V. Ex.ª na presidência desta Assembleia.

E ela é, para mim, como sem dúvida para toda a Câmara, uma digna lição de lhaneza, de saber, de justiça, de senso político, de integridade e constância, de pontualidade e ordem, de fidelidade aos princípios - os quais exprimem, aliás, os dos mais altos interesses nacionais. Daí o prestígio espontâneo que envolve a personalidade de V. Ex.ª e a minha respeitosíssima admiração, que é afinal, ao que tenho observado, a de toda a Câmara.

Bem haja por isso V. Ex.ª, Sr. Presidente.

Srs. Deputados, meus ilustres colegas: Também a VV. Ex.ª consigno uma palavra de consideração e simpatia pelo muito que já devo a muitos em benevolência, em cordialidade e até mesmo em estima. Mas também e principalmente pelo seu exemplo de seriedade mental e política, feita de estudo atento e abnegado dos problemas nacionais, de abrasado fervor patriótico, de noção clara e bem realista, constantemente evidenciada, do que são as fronteiras da Nação Portuguesa, que não se situam contra o que muitos, seguramente os mais ignaros ou os mais egoístas, pensam ou sentem entre o Minho e o Algarve, mas sim entre o Minho e Timor.

E não foi das menores satisfações morais da minha presença entre vós a verificação da independência política de que muitas das intervenções aqui escutadas têm dado provas, intervenções feitas com a integridade de carácter e o pleno desassombro que não excluem a adesão plena aos princípios norteadores do que, sem partidarismos estreitos - e no nosso tempo já vazios de conteúdo válido - é realmente fundamental para a vida e a sobrevivência da Nação; intervenções realizadas serenamente, com espírito de livre exame e crítica, muito embora sem as truculências demagógicas que ainda conheci e, muitas vezes, quando não visavam fins inconfessáveis, serviam de capa à sem-razão.

Aceitem, pois, VV. Ex.ªs, Srs. Deputados e meus ilustres colegas, os protestos da minha gratidão, do meu melhor apreço e, com as homenagens devidas, os propósitos de uma colaboração inevitavelmente modesta, mas dada sempre com inteira lealdade.

Meus senhores: Sou Deputado por Angola - um dos 23 Deputados eleitos pelos círculos do nosso ultramar -, mas de modo algum um Deputado tão-sòmente de Angola. Sendo de facto português de Angola, porque em Angola nasci, nem por isso me julguei nunca simplesmente um angolano - e muito menos no sentido atrabiliário e falso que lhe querem emprestar certos internacionalismos videirinhos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É com emoção e orgulho que assim presto daqui, da mais alta tribuna da Nação, esta singela mas bem justa homenagem ao nobre patriotismo das forças armadas portuguesas de aquém e de além-mar, ao não menos acendrado portuguesismo dos meus conterrâneos e, de uma maneira geral, ao de todos os portugueses de Angola.

O amor pela nossa terra e pela nossa gente, na minha sensibilidade e no meu espírito, não distingue, aliás, o ultramar da metrópole. Para aqui vim muito cedo, entregue por meu pai aos cuidados de minha avó, ambos beirões das faldas da serra da Estrela. Ali, feitos os meus estudos em Lisboa, haveria de constituir família