jornalista Correia Marques, director de A Voz, ali presente, disse então:

Há 40 íamos, Manuel Guimarães Pestana da Silva, comerciante e economista do Porto, escreveu em. A Época uma série de artigos a propor que em todo o Império Português a moeda fosse uma só. Não será este o momento para se introduzir o sistema proposto por Pestana da Silva?

O Ministro respondeu:

A moeda única é um objectivo que não podemos abandonar, mas corresponderá no plano monetário ao termo do processo da integração, e não ao seu começo. Deus queira que ainda perante VV. Ex.ªs eu lhes possa dizer que o Governo decidiu a moeda única.

Como se vê, não parecem fora da razão ou da lógica os portugueses de Angola quando anseiam portuguêsmente ver um só e mesmo escudo em. circulação por todo o território nacional.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Não desejaria exceder - e até nem mesmo ocupar - a meia hora que o Regimento da nossa Assembleia me faculta para debater problemas antes da ordem do dia. Mas quanto à moeda de Angola e ao seu candente problema de transferências gostaria de transmitir também a VV. Ex.ªs a esperança que me anima de que não tardará talvez muito que a situação evolua para melhor, com a maior importação metropolitana de ramas de petróleo da mossa província de Angola e com a sua prevista exportação maciça do ferro de Cassinga.

A previsão permite-nos conceber o salto de 1 milhão para 5 milhões de toneladas de exportação anual de minério dentro de dois anos, graças à construção do porto mineiro de Moçâmedes e do respectivo caminho de ferro, contrução cujo "arranque" acaba de ser anunciado. E uma boa notícia de Angola para todo o País, e é, sem dúvida, uma demonstração mais da cuidadosa atenção que ao Governo merecem os problemas nacionais. É que a obra, pertencendo embora (à Companhia Mineira do Lobito, com o volume da ordem do milhão e meio de contos, seria, no emtanto, irrealizável sem o aval concedido pelo Estado à operação, financiada por grande organização industrial alemã.

Mas, apesar desse valioso e decisivo aval, julgo de toda a justiça tributar aqui a homenagem devida à memória de alguém - à memória de João de Sousa Machado, um grande homem de acção e um grande português de Angola - que já sexagenário ideou a obra notável e foi capaz de a erguer e pôr em marcha à custa de inúmeros sacrifícios e canseiras. O caminho de ferro e o porto mineiro de Moçâmedes e a exploração e exportação de ferro do Cassinga serão a cúpula da sua obra, com a qual terá prestado um alto serviço a Angola e à Nação.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Vou terminar, mas não porque dos meu(r) apontamentos mão constem ainda outros prementes assuntas de interesse para as regiões e populações que represento aqui. Cito, entre outros, a promoção regional-municipal, a que já brilhantemente se referiram na actual sessão alguns ilustres oradores; também cito uma das necessidades prementes na minha zona de residência, necessidade que não tem podido, em longuíssimos anos, ser satisfeita pelos meios provinciais, não obstante o seu reduzido custo de poucas dezenas de milhares de contos e as altas vantagens sócio-económicas que se aufeririam, da ordem das centenas de milhares de contos anuais de produções, com a concomitante colocação de numerosos trabalhadores de Angola e da metrópole: quero referia-me, à irrigação do fecundo vale do Cavaco, nos subúrbios de Benguela, com águas do rio Catumbela; citarei ainda a necessidade sócio-política de estender quanto antes a Angola a Radiotelevisão Portuguesa - por meio de emissores regionais -, como foi aqui preconizado no mês findo pelo nosso ilustre colega Dr. Neto de Miranda, cumprindo-nos, entretanto, apoiar desde já iniciativas como a do Rádio Clube de Benguela, que se propõe instalar, a expensas suas, um emissor regional de televisão, para o que requereu há meses a autorização respectiva ao Governo, facto de que tem conhecimento o conselho de administração da R. T. P.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Não me alongarei por agora em considerações a respeito destes assuntos pelo motivo que já aleguei: o de não ocupar por tempo demasiado a atenção de VV. Ex.ªs Mas não concluirei o meu trabalho de hoje sem transmitir a VV. Ex.ªs, Sr. Presidente e Srs. Deputados, quanto são altos o respeito, a admiração, a gratidão e o carinho que ao ilustre Chefe do Governo tributam os portugueses de Angola pela sua dádiva exemplar e total à causa pública nacional no decurso de tão longos anos e pela sua obra imensa - no cimo da qual está a própria salvação de Angola e do ultramar, determinada pela decisão de 13 de Abril de 1961, tão intransigente e firmemente mantida até hoje.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas por maior que seja essa obra - assim o disse aos que viriam a ser meus eleitores e aqui repito -, obra que é, na verdade, enorme e multiforme, abrangendo todos os sectores da vida nacional, acima de todas está, precisamente, aquilo que pode porventura a muitos não ser tangível: a expansão cada vez maior do espírito nacional no ultramar; e a promoção geral em curso das massas nativas, obra honrada e digna de um século de ouro; ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... a abolição plena e a perseguição até de quaisquer resquícios de discriminação racial, social, económica ou política; e, na cúpula, o êxito de aguentar a gigantesca luta que a Nação trava em três frentes de batalha, não para dominar, submeter ou espezinhar quem quer que seja, e sim para salvar, defender, assegurar a sobrevivência do ultramar como parcelas do todo nacional e a própria sobrevivência da nossa pátria; para assegurar e desenvolver o nosso processo de autodeterminação natural, que é o acesso de todos a todos, os direitos e a todos os deveres, e não a autodeterminação forçada e imposta que certas oligarquias internacionais, por motivos que não confessam, mas saltam à vista, pretendem aconselhar-nos como um elixir mágico; ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... sim, para salvar o destino comum de todos nós, portugueses, brancos, pretos ou mestiços.

É um dever de consciência proclamá-lo " é esse dever que eu acabo de cumprir.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.