mica do País tornaram mais extensa do que habitualmente costuma ser, convém assinalar alguns pontos de interesse.

Em primeiro lugar, há a notar que, apesar das condições favoráveis em que tem evoluído a situação em África, não será fácil reduzir apreciavelmente as despesas militares nos anos próximos, embora devam ser feitos esforços nesse sentido, quer por maior comparticipação dos orçamentos e recursos das províncias ultramarinas, quer pelo escrutínio pormenorizado das próprias despesas.

Em segundo lugar, não se pode dizer que tudo seja escuro nos acontecimentos impostos por ambições externas, fundadas muitas delas em cobiças de natureza material, sob um véu altruísta. A guerra de África, com as exigências do abastecimento e a circulação de oficiais, soldados e civis, deu a um numeroso grupo de pessoas uma noção mais exacta da existência e condições de territórios nacionais, que só o tempo, num caminhar vagaroso, poderia oferecer. A solidariedade entre a metrópole e as províncias ultramarinas, com melhor conhecimento individual, robusteceu-se e o País no seu conjunto tem ideia mais nítida do agregado nacional.

A integração de aspirações e de interesses económicos e culturais tornou-se mais real e parece estar provada a estreita e mútua dependência das províncias que constituem a Nação. Se outra recompensa não tivessem os sacrifícios feitos pela metrópole, esta solidariedade de aspirações e interesses representa no activo dos acontecimentos uma parcela de não pequena valia. Mas todos os esforços e sacrifícios ruirão, serão inúteis, se não se afirmar a unidade de opiniões e se em cada um deixar de existir a vontade de superar todos os obstáculos. A unidade nacional, tão necessária a todos os povos no momento grave que o Mundo atravessa, não se obtém apenas através de intenções, só com palavras: manifesta-se mais utilitàriamente no comportamento de cada um em relação ao objectivo anal que é a paz e a prosperidade em todos os territórios nacionais.

Para atingir esse objectivo a situação económica e social tem de ser encarada de frente, com realismo. O aproveitamento dos recursos potenciais existentes na metrópole e no ultramar só .pode ser feito com a canalização para fins produtivos dos investimentos disponíveis.

Não se põe o problema de saber se uma elevação acelerada dos níveis de consumos conduz a maior felicidade e bem-estar, como parece estar hoje em moda e pode ser posto em dúvida em muitos aspectos. Simplesmente não é realístico, nem política nem econòmicamente, no estado actual das relações internacionais, um grande desfasamento de condições de vida entre povos afins.

Na situação actual a actividade privada, com seus recursos, tem de se orientar no sentido de extrair dos seus investimentos e do seu poder de organização muito maior produtividade do que actualmente, e esta necessidade aplica-se a todas as formas de actividade e a todos os sectores: à engrenagem burocrática, aos múltiplos organismos económicos criados com o fim de melhorar a produção, ao crédito nos organismos bancários, quer oficiais, quer particulares, à indústria e à agricultura.

Não é sistema, nem implica justiça, condenar o Estado por todos os males, e a ele recorrer para todas as dificuldades. Os interesses privados só podem prosperar por uma coordenação mais eficaz; as lutas ou dissídios de interesses não podem auxiliar a prosperidade do conjunto. E o Estado tem o dever de impor a ordem económica onde não exista e dobrar os abusos, incluindo os dos seus serviços, e os interesses que prejudiquem a unidade nacional e o robustecimento da economia considerada no seu todo. A resistência em África depende tanto do esforço económico, como da força militar.

E se neste delicado momento da vida nacional se impõem deveres às forças armadas no sentido de rechaçar ataques a territórios ultramarinos, não é incongruente impor orientação utilitária e coordenada às forças responsáveis pela economia nacional, nos sectores oficiais e privados. Quando, vai para vinte anos, a seguir à guerra, já saneada a situação financeira, houve tempo e necessidade de intensificar a tarefa de renovação económica, devida há dezenas e dezenas de anos, a mentalidade nacional, em quase todos os sectores, não estava adaptada aos processos e princípios correntes em países que, na sua evolução, haviam cometido erros e dissipações de investimentos a evitar noutros em vias de crescimento. A tendência inata em cada um de nós, que nos leva à ideia de superioridade e enciclopedismo sobre todos os problemas intrincados, de natureza económica ou não, e, por vezes, a falta de preparação utilitária e prática na concepção e realização de projectos e planos coordenados podem levar ao desgaste de investimentos e de oportunidades, no decorrer dos anos.

E a pecha nacional de tentar exercer influências, nem sempre com origem em benefícios materiais, mas muitas vezes perniciosas, sobre problemas de projecção na economia nacional conduziu a caminhos que nem sempre foram os melhores e à execução de (projectos insuficientemente amadurecidos, em detrimento de outros mais produtivos.

Por outro lado, subiu do fundo das ambições de cada um a miragem da inesgotabilidade de recursos financeiros, como se fosse possível a país de incipiente economia acumular disponibilidades de investimentos em proporções ilimitadas. Este mal colectivo de uma suposição que se não fundamenta, nem podia fundamentar, em factos tem levado a realizações sem. grande projecção na economia, quer através de redundâncias em instrumentos de produção, e nos próprios órgãos que pretendem orientá-los e o fazem muitas vezes sem proveito, quer ainda na execução e nas reclamações de toda a ordem sobre melhoramentos susceptíveis de ser adiados para melhor ocasião.

Há muitos males a corrigir e são e serão oferecidas resistências a quem procurar corrigi-los. Mas não haverá outro remédio porque há necessidade de os corrigir para bem da economia n acional. Se fossem avaliadas pelos números globais expressos na Conta Geral do Estado, as receitas públicas mostrariam grande aumento em 1964.

Com excepção de 1961, em que se produziram acontecimentos excepcionais, 1964 é o ano de maior aumento de receitas em valor absoluto.