Não é fácil encontrar justificação apropriada para o lento progresso económico desta província. Viu-se acima, ao tratar do problema ultramarino em conjunto, que o índice de aumento das receitas e despesas na base de 1938 = 100 era o mais baixo de todo o ultramar. Considerando a desvalorização do escudo a partir daquela data, é pouco provável que as receitas e despesas em 1964, em valores reais, ultrapassem as daquele ano.

Não é fácil determinar os índices indicativos da evolução do comércio externo, das importações e exportações, relacionados com o ano anterior à guerra, porquanto durante muitos anos aos consumos ou exportações da província se juntava o movimento do porto de S. Vicente. Mas, neste aspecto, o exame das cifras relativas aos anos mais recentes, em que se fez a discriminação, dá ideia do lento progresso, se acaso o houve.

Não se pode dizer que as condições em que vive a província não tenham sido examinadas profusamente por comissões e entidades espe cialmente encarregadas de estudos sobre os diversos aspectos das suas possibilidades, ou que não se tivessem poupado esforços no sentido de melhorar as condições actuais. Mas o marasmo persiste e de ano para ano este parecer regista a semelhança de índices na muito lenta evolução da economia provincial.

Ora, a partir de 195á, utilizaram-se no I e II Planos de Fomento perto de medo milhão de contos. Gastaram-se 97 000 contos no I (Plano e 374 000 contos no II Plano de Fomento até 31 de Dezembro de 1964. O não se obterem resultados sensíveis da utilização de tão elevada soma faz sugerir a ideia de que uma grande parte se utilizou em consumos, provavelmente em despesas improdutivas. A falta de rendimentos adequados não permite a elevação do nível de vida, e até para conseguir vislumbres de subsistência se utilizam subsídios e empréstimos metropolitanos. Já se sugeriu nestes pareceres um estudo aprofundado dos gastos, no passado, das obras e outras empresas financiadas e ainda dos erros, se os houve, de modo a corrigidos no futuro.

A pesca, a indústria de conservas de peixe, talvez indústrias baseadas no sal, as possibilidades do porto de S. Vicente, as disponibilidades de pozolanas e outras matérias talvez pudessem, num prazo relativamente curto, melhorar decisivamente a vida do arquipélago.

Comércio externo Os resultados do comércio externo relativos a 1964 não são animadores. O deficit atingiu uma cifra muito alta. Subiram muito as importações e as exportações mantiveram-se em nível idêntico ao dos anos anteriores. As exportações de 1964 são iguais às de 1961 e apenas em cerca de 9000 contos superiores às de 1963.

Por outro lado, as importações atingiram o valor máximo dos últimos anos, com mais de 200 000 contos. Assim, o deficit, com o valor de 173 182 contos, exerce uma pressão angustiosa na vida da província.

Se as cifras da actualidade forem comparadas com as do período anterior à guerra, em que o porto de S. Vicente, com o seu movimento, supria deficiências de outra origem, a posição não pode deixar de ser difícil. Cabo Verde parece ser um ou dois exemplos demonstrativos dos perigos que podem advir para um território da existência de uma única fonte de rendimentos.

Neste caso trata-se do porto de S. Vicente, que perdeu uma parte da sua grande importância, com situarão geográfica, por um lado, e por atrasos no seu apetrechamento em obras fixas e utensilagem. Também o movimento do cabo submarino enfraqueceu.

Cabo Verde contém o vírus que corrói outros territórios - o de assentar a sua economia sobre uma única actividade, tal como o que aconteceu com o café em Angola e ainda prevalece com o cacau de S. Tomé. A diversificação de culturas ou de fontes de actividade é essencial em países novos, ainda que tal diversificação possa trazer sacrifícios nos primeiros tempos. O saldo negativo da balança do comércio, em 1964, atingiu 173 182 contos e foi em grande parte devido ao aumento excessivo nas importações, como se nota a seguir:

Discriminar-se-ão mais adiante os dois termos do comércio externo, mas não pode deixar de se lamentar o. fraco acréscimo nas exportações. A subida para 27 500 contos é, na verdade, paradoxal, e o seu fraco desenvolvimento nos quatro anos não se torna compreensível.

Os deficits atingem cifras variáveis, como se nota no quadro seguinte: