torna-se espessamente majestoso, que é um louvar a Deus, a Alameda de, D. Afonso Henriques, que nos leva em voo às grandes capitais do Mundo, a auto-estrada e a marginal devem-se ao homem magnífico e aos seus herdeiros, que, muito louvavelmente, se mantiveram fiéis ao seu espírito e puderam continuar a sua obra.

Ele tinha mais do que bastava - a inteligência que comunica e convence, a exposição que atalha direito, o ardor de um combatente de 24 horas e um entusiasmo que passou a distintos engenheiros, arquitectos, paisagistas e aos esplêndidos homens de estado que herdaram seus pensamentos.

E, numa Europa desentendida e convulsa, numa América confusa e despertada, num novo reino do obscurantismo da África nova, Lisboa cresceu e surgiu outra, talhada por largo com seu jeito moderníssimo e com recurso às novas formas e aos novos materiais, mas não totalmente isenta como toda a obra humana.

A cidade capital tem uma alma.

Tem uma fisionomia urbana.

Concentra a expressão superior de uma civilização definida.

Mas Lisboa é lisboeta, ou melhor, é alfacinha porquê?

Mas o que prende nela?

Decerto o que todos reconhecem sem dificuldade para além do seu estilo, do seu elemento gerador, da sua origem, adolescência e maturidade?

O geógrafo Pierrô Lavedan fala na geografia humana, na vitória do homem sobre a natureza, onde apenas contam os interesses colectivos e uma rede de interdições.

Raymond Lopez destaca a unidade na diversidade da obra secular, das funções, dos meios e dos estilos ...

Piero Bottoni cinge-se a uma urbanística capaz de fornecer elementos e base de reorganização da vida colectiva actual.

Abercombie aponta a força construtora e directiva e o planning.

Duarte Nunez de Leão, panegirista ampliativo, explicava que o Tejo ao chegar aqui encontrava o paraíso terreal e o porto mais formoso.

Matos Sequeira sublinhava o gesto de cativar.

Norberto de Araújo encontrava um sentimento.

Proença fazia ressaltar a sugestão do passado, a paisagem e uma alma.

Paulino Montês anotava a fábrica original, o belo, o expressivo ...

Lord Byron - como tantos outros deslumbrados pela panorâmica - sublinhava a beleza à primeira vista.

Uma beleza que entra, convence e ninguém ousa impugnar.

Depoimentos significativos mas dispersos.

Testemunhos convictos mas não coincidentes, provas do mesmo processo, verdadeiras sim, mas de alcance diverso.

Os seus coeficientes de favor não se resumem, mas enumeram-se; não se desfibram, mas hão-de apreciar-se em conjunto.

A claridade da luz, que surpreende ao deixar uma cidade do mesmo paralelo como Nova Iorque, a transparência do céu, do azul ao nácar, diáfano quase sempre, a majestade e o capricho do estuário, tão diverso do Rio e de Haifa, a policromia dos bairros e quarteirões, o carácter próprio das ruas, dos monumentos, jardins e miradouros, a (beleza não exótica, qualquer coisa de requinte e delicado que outras urbes não possuem, os motivos constantes da arte e da literatura, plasmados, amassados, erguidos e analisados depois dão um brasão, uma alma, um fácies á Lisboa.

Buliçosa e viva não é alegre nem excessivamente apressada.

Como as canções transmontanas e alentejanas, que são musicais mas tristes, a cidade de hoje possui uma espiritualidade dolente e elegíaca, talvez bastante derivada do feitio português, irreversível. Os que a cantaram e exaltaram verberaram os servilismo do estrangeiro, as alterações apressadas, a indisciplina, a descaracterização, quer dizer que se tenha por vezes adulterado o jeito, a fisionomia, a vida própria, a tradição augusta.

Ou seja - o alfacinha dentro do lisboeta.

O caracter de Lisboa aí está, manifesto e delicado, policromo mas muito seu. E há-de pedir-se aos planeadores, arquitectos, homens de estado e publicistas que não o obliterem ou esqueçam.

E agora mais do que nunca quando a cidade se apresta para galgar o Tejo.

Mas falemos do essencial - planeamento urbanístico.

As escolas, dispersões de critério, as mudanças de estilo e gosto corresponderam - no capítulo especial de planeamento urbanístico - às exigências naturais, ao respeito devido aos locais históricos e às construções seculares, às concepções próprias de cada país e cada cidade. E cada uma encontrou-se com diferentes remédios.

Luís XIV e Napoleão preocuparam-se com a harmonia entre a urbanística e a arquitectura.

Hausseman modernizou depois, ordenou, esclareceu e limpou.

Os Alemães e Austríacos tomaram partido pelos anéis concêntricos e pela penetração dos meios urbanos.

Sitte, o romântico, queria novas áreas construtivas emoldurando os velhos edifícios, libertos e evidenciados. Howard propôs a fusão da cidade com o campo.

Os Americanos reclamaram um centro cívico rodeado de vias radiais e quadrículas.

Os Nova-Iorquinos professaram a zonificação em altura.

Corbusier - diversamente - queria os arranha-céus dispersos, isolados e rodeados de jardins.

Parker e Gauchou bateram-se pelo favo de mel com quarteirões hexagonais.

Niemeyer e Lúcio Costa fixaram um módulo e concluíram pelo arco de pernas para o ar.

Os arquitectos ingleses requererem amenidade, ar e luz.

Na Península campeou até certa altura o individualismo, aliado à diversidade dos traçados. Mas apareceram depois os campeões da ordem, do equilíbrio do conjunto disciplinado.

Com uma tal feira de ideias e de estéticas cresceram em número e variedade as técnicas correspondentes. Planificaram-se cidades e grandes povoações em pinha, em cardos, em radioconcentração, em tabuleiro de xadrez, em curvas longas e acidentadas, em direcção à vertical e até se recorreu ao plano inorgânico para que o pitoresco triunfasse da geometria. E viram-se ainda as palmas, os leques, o amontoamento, a maçã, sem contar com as fórmulas revolucionárias.

Para obviar a umas e outras, para manter os critérios aprovados, recorreram-se, ensaiaram-se ou decretaram-se novas autoridades e novas técnicas jurídicas.

Criaram-se órgãos e comissões especiais. Conciliaram-se entidades, coordenou-se e também se repartiram de novo as funções do serviço.

Uma imensidade institucional! - que sei eu? Da urbanística persuasiva até à urbanística draconiana, os métodos sobraram.

Exemplo de regularidade e esteticismo nos seus parques, nos espaços livres, no aproveitamento, em termos menos