Edifícios e quarteirões, ao invés de Paris e até de Madrid, sem pátios interiores com acessos a carruagens, nem garagens subterrâneas;
Amplas construções, tais como teatros, cinemas, grandes armazéns, hotéis, etc., sem largo fronteiriço ou praça;
Frequentemente tolhidas as panorâmicas, ás vistas do Tejo e da outra banda, as perspectivas grandiosas;
Falta de praças de estacionamento ou acanhadas para 3 ou 4 táxis. Em Roma contei 29;
Falta ou obstrução de avenidas marginais. O erro já se estendeu a Almada. Lembremos Nova Iorque, o formosíssimo Rio, que é afilhado querido desta Lisboa, a Avenida Forestier, de Buenos Aires, chamada costanera ...;
Muito espaço que deveria ser livre sacrificado ao casario e, em compensação, outro ocupado supèrfluamente;
Parece erro o apontar a uma zona oficial de trabalho burocrático como o Terreiro do Paço as legiões crescentes da outra banda. Nem tudo virá dar à ponte.
Em resumo:
Espaço precioso perdido, outro inutilizado sem vantagem, e a bela cidade atravancada, lutando com um sistema transportador deficiente.
Estes defeitos vêm a ser agravados:
Por estacionamentos indefensáveis;
Pela guerra de trincheiras, sem ordem nem nexo. das empresas concessionárias, a que ninguém põe termo;
Pela tendência dispersiva do público, a que se corresponde com multiplicidade de traçados e zebras e uma definição deficiente dos seus direitos.
Mas esta Lisboa vê-se maculada, molestada e lastimosa por ser uma capital de ruídos, onde os carros eléctricos, os corredores bárbaros e os amadores fragorosos tornam agitadas as poucas horas de sono.
O problema das comunicações é dos que requerem pronta análise, vigilância constante e intervenções judiciosas e instantes como solução.
Todas as capitais lutam com as dificuldades de congestionamento, as irregularidades na distribuição, o que produz uma crise de abundância no acesso nos transportes colectivos.
Entre nós o problema deixa-se arrastar, deixa-se que supere as realidades, aguardando anelas medidas, e, além dos atrasos, sofre de incompreensões e discussões que desorientam o público.
Devia haver um órgão eficiente sempre em acção, presidindo às mudanças e dificuldades, resolvendo como os generais no campo de batalha.
Que batalha foi a construção do metropolitano - devida à iniciativa obstinada de Melo e Castro e do presidente Barreto e ao alto empenho do Sr. Presidente do Conselho!
Desde que se notou que os cálculos financeiros* estavam correctos e que era menos dispendioso e mais frequentado do que se pensara, devia-se ter andado depressa no estabelecimento de novas linhas..
Quanto às regulamentações e à escassez de táxis, que está Câmara tem criticado com autoridade, não se podem aguardar as calendas gregas como os estudantes crónicos esperam ...
E depois- porque as autoridades do trânsito não estudam um tipo apropriado aos passageiros e um financiamento para fazer dos profissionais honrados profissionalmente livres.
Como vai ser valorizada a urbanística lisboeta com a gigantesca ponte sobre o Tejo?
Creio que o exemplo similar de S. Francisco, se não responde cabalmente a esta pergunta, esclarece bastante a questão.
Claro que & ponte tirou-lhe algo do sabor da poesia antiga, mas em compensação deu-lhe vida, dinamismo, modernidade e até ligeireza, atenuando a opacidade dos seus bairros descomunais.
Isto sem esforço, sem servilismo, se poderá vir a dizer de nós.
Tanto os escritores americanos como os guias estrangeiros apregoam ainda que a ponte de S. Francisco deu um banho de saudável alegria à cidade das colinas do Pacífico e às suas multidões rumorosas.
Não esperemos que Lisboa se descaracterize, que mude de tom musical, mas não erraremos se uma parte do abatimento elegíaco e passadista puder vir a ser superada.
Uma nova cidade, uma .cidade radiosa, que seria construída- em terraços e jardins, desafogada, sem erros, sim, cidade radiosa, onde seria invejável viver, poderá ser construída do outro lado da ponte.
Uma cidade gémea?
Não - uma irmã nova sem a pressão do passado e com a libertação e a compreensibilidade humana e cultural do nosso tempo.
Ficaria incompleta esta desataviada intervenção se não mie referisse a duas escolas urbanísticas, que se digladiam sobre a expansão das mais consagradas capitais.
Deixemos de parte a ideia de uma cidade verde como Grunwald, em Berlim, ou como a grande cosmopolis de três dimensões, com andares subterrâneos, praças comerciais subterrâneas e comunicações subterrâneas em linha recta.
Deixemos as novas capitais geométricas, como Brasília e Chandigahr, que revelam um esforço deliberado para inovar e progredir, trabalhando num deserto.
O problema de Lisboa futura, o problema de Lisboa das duas margens e da sua ponte monumental, não será inteiramente diverso do de Paris, Londres, Marselha ou Nápoles. Cidades em crescimento contínuo, plenas de respeitos humanos, e de protecções familiares, onde a juventude virá a obter lugar mais folgado, vagares mais saudàvelmente preenchidos e serviços sociais menos distantes.
Duas escolas se digladiaram já.
Uma, a de uma cidade oficial, um Versalhes de vanguarda, que acobertasse os- serviços oficiais.
Nós em Portugal sabemos os transtornos e dificuldades que cria a localização do Instituto. Nacional de Estatística, que é um serviço central.
Outro projecto seria a de uma cidade gémea, complementar do actual Paris, realizada em moldes lineares e desempoeirados, servida por eixos e comunicações subterrâneas ou aéreas e situada a alguns quilómetros dos bairros históricos.
Afastar do centro significa racionalizar, melhorar e construir mais progressivamente, mas cria ulteriores problemas e dificuldades.