mais se atingiu esta desproporção, nem. se repetiu, aliás, o facto de o número de emigrantes por ano ser superior ao salda fisiológico anual, mas a população do arquipélago, que era em 1950 de 269 769 habitantes, baixou em 1960 para 268 937.

Embora nas circunstâncias actuais não haja mão-de-obra disponível no Funchal, porque a população activa da agricultura busca em muitos trabalhos de obras públicas ocupação para as suas folgas, há sempre um problema de excedentes populacionais mais ou menos correspondente aos saldos fisiológicos que têm de ser colocados. Não vai pensar-se somente no turismo para os absorver, até porque neste sector os operários ou empregados pouco qualificados não auferem proventos suficientes para terem um nível de vida regular. Deve continuar a pensar-se na emigração como válvula de escape, que se não pode fechar de um momento para outro.

E tem de olhar-se em primeiro lugar para o nosso ultramar. Pouco a pouco, fecham-se as portas dos países estrangeiros para onde costumam emigrar OS Madeirenses, dificultando-se a sua entrada ou impedindo-se-lhes a transferência das suas, poupanças. Dentro em breve reduzir-se-ão muito os 300000 contos anuais que se calcula provirem dos emigrantes dispersos pela Venezuela, África do Sul, índias Ocidentais, América do Norte, etc.

E altura de estabelecer-se um fluxo contínuo para as nossas províncias ultramarinas, não só relativamente à Madeira, se não tombem a toda a metrópole.

Transcrevo do parecer sobre as Contas Gerais do Estado de 1964, de que é relator, como todos sabem, o Sr. Deputado Araújo Correia, as seguintes opiniões, que me parecem certíssimas:

Com efeito, a corrente emigratória para Portugal de além-mar ainda não encontrou caminho fácil. O povoamento promovido pelo Estado não é suficiente nem em escala adequada e é muito dispendioso. Não haverá possibilidade de orientar a emigração, que, sendo um mal, é uma realidade para o ultramar?

Só o desenvolvimento intensivo da economia em Angola e Moçambique, que permita a criação de empregos convenientemente remunerados, poderá incentivar uma corrente emigratória adequada, tal como acontece em quase todos os países em evolução.

No entanto, não se tendo ainda atingido esse desenvolvimento, pode promover-se uma emigração de famílias devidamente seleccionadas, após uma preparação profissional e moral que cada vez parece ser anais útil nos deslocados.

O problema é grave e difícil. Urge equacioná-lo e resolvê-lo. E um assunto do Governo que implica decisões de vários Ministérios, porque toca no económico, no social, no moral e, sobretudo, no político.

Sr. Presidente, vou finalmente terminar pedindo novamente que os problemas económicos da Madeira, alguns dos quais acabo de referir, sejam revistos para que se lhes encontre actual solução. Dar-me-ei por muito satisfeito se tiver contribuído de algum modo para avivar esses problemas e para fazer incidir sobre eles a atenção dos mais responsáveis.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Elmano Alves: - Sr. Presidente: Está marcada para o dia 6 de Agosto a inauguração da ponte sobre o Tejo.

Não me cumpre nesta intervenção fazer o panegírio da maior obra pública realizada nestes últimos 40 anos no sector das comunicações. Esse elogio terá a sua oportunidade e os seus qualificados oradores na cerimónia soleníssima a que presidirá S. Ex.ª o Chefe do Estado.

Quero apenas salientar que no longo processo do desenvolvimento da região de Lisboa, tão pródigo em teses de antecipação que não lograram passar de sonhos grandiosos contrariados pelas duras antíteses da realidade económica e política do País, a ponte surge hoje como uma síntese.

Síntese de uma época. Resultante de uma política.

A obra de engenharia, grandiosa em si mesma, torna-se expoente de um estádio decisivo no desenvolvimento regional e nacional. Mas os seus alicerces não mergulham só na firme rocha das camadas profundas do leito do Tejo. Nem só assentam na técnica nacional, apoiada embora em experiência estrangeira. Nem tanto, talvez, no crédito externo indispensável que foi ao financiamento.

Os alicerces da obra estão mais fundo no espaço, mais longe no tempo. Resultam da estabilidade política destes 40 anos, em que foi possível aos Portugueses construir na paz, realizar com esperança e reabilitar externamente, na confiança dos Estados e da banca internacional, um pequeno grande país que a política interna trazia desacreditado. Por isso, a ponte sobre o Tejo é uma síntese.

Mas ela é também e sobretudo um acto de fé. Fé em que Portugal sobrevive, constrói e não se detém, apesar dos ataques e das demolições dos "ventos da história".

E, porque vai lançada bem em direcção ao Sul, traduz, por si mesma, um acto de fé no futuro económico e social dessa metade do País que se estende até ao Algarve. Esse meio País que historicamente, mercê das dificuldades de transposição da fronteira líquida do Tejo, tem sofrido o maior atraso de sempre, desde o fraco povoamento de séculos à rotina atávica com que caminha quase exclusivamente debruçado sobre a enxada na terra ardente alente j anã ou sobre a rede do pescador na orla do litoral oceânico.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Para o comum dos portugueses e no âmbito das comemorações nacionais dos 40 anos da Revolução a inauguração da ponte em 6 de Agosto é uma meta de chegada.

Porém, para os homens comprometidos no desenvolvimento do Sul e do alémTejo, mais que uma meta, ela é ponto de partida.

Por isso prefiro situar-me em 7 de Agosto. Um dia após a inauguração. Na primeira madrugada em que a brisa do Tejo irá levando para longe os restos das flores, das fitas, o eco das manifestações. Na madrugada de 7 começam de facto para os responsáveis pelo futuro dia região, e mais particularmente da situada a sul do Tejo, os grandes, os avassaladores problemas. Para eles a ponte já não constitui síntese. E tese, é. premissa de um novo silogismo que cumpre às gerações vindouras equacionar e resolver.

E o primeiro grande problema que nos coloca é o da organização do espaço. Esse espaço que através da ponte se vê inundado de novas perspectivas, aberto para mais rasgados horizontes de progresso económico, mas que também trará consigo todo o cortejo de responsabilida-