realiza na terra que afirma e conquista o seu destino eterno.

A acção é o cadinho onde se plasmam as almas e a matriz onde se apura e fluidifica a liberdade espiritual.

Pelo poder criador da técnica, da arte e da ciência, o homem colabora no acabamento da natureza, enquanto pelas suas realizações na ordem do amor e do espírito impele a história para a sua maturação moral e espiritual e para o seu fim último e meta-histórico.

A acção, em abertura generosa a Deus e ao próximo, é o eixo essencial da metafísica e da sociologia cristã.

Acção movida pelo espírito e paio amor, mas realizada, concreta e eficazmente, na carne palpitante das realidades sociais e das comunidades humanas.

Move-se nas realidades deste mundo que aperfeiçoa e organiza, mas o seu acabamento último ordena-se ao sobrenatural.

Como disse o filósofo Blondel, "a natureza está pré-adaptada ao sobrenatural".

E é neste salto sobre o abismo da transcendência que a mensagem cristã difere radicalmente dos desvios naturalistas dos messianismos políticos e temporais e dos humanismos existencialistas ateus.

Se é certo que o homem não esgota o seu destino nas dimensões deste mundo, também é verdade ser este mundo o lugar onde o seu destino se realiza na capacidade de amar e servir a Deus e a grande família universal dos homens.

E eis-nos chegados ao ponto aurorai do raciocínio.

Se as dimensões do destino do homem são eternas, a grandeza da sua personalidade é ímpar e a sua dignidade deverá ser salvaguardada, como valor primeiro, por todos os possíveis meios de promoção humana e social do homem.

Antes de ser filho de Deus, na ordem sobrenatural da graça, devemos torná-lo plenamente homem na desabrochada realização do seu destino terrestre. As soluções, quer individualistas, quer colectivistas, do destino humano desconhecem a sua dignidade essencial, que resido na sua capacidade de transcendente e de infinito, e reabsorvem a sua singularidade no anonimato de um destino colectivo e amorfo.

Só a mensagem cristã é capaz de salvar o homem total nas suas simultâneas dimensões de tempo e de eternidade. Mas este dever impõe-se absolutamente às sociedades cristãs como imperiosa obrigação que não pode ser iludida por falseadas formas de cristianismo ataráxico, imobilista e burguês, sob pena de sanções turbilhonadas pelas ressacas da história.

Contra essa cousificação do cristianismo ergue-se a palavra viva de Cristo e a clara doutrina social da Sua Igreja, demolidoras de todos os egoísmos mutiladores da pessoa humana.

Eis definidas algumas razões da alta dignidade do trabalho e de todas as obrigações que se entrelaçam para assegurar a sua autêntica afirmação coimo elemento essencial do destino humano.

Todas as técnicas e todas as ciências devem ser postas ao serviço do homem, porque elas são meio e o homem vale mais do que todas elas, pois ele as criou e as sobreleva.

Urge humanizar as técnicas e fazer delas dóceis instrumentos ao serviço do homem. Para isso é preciso imprimir-lhes o sentido do amor e do serviço da comunidade e do bem geral.

O removente surto de progresso económico-social que soergue o País e constitui condição de continuidade das imensas responsabilidades do seu destino histórico exige um simultâneo esforço de valorização ido fundamental factor humano pela elaboração de uma ampla e fecunda política da saúde.

Dentro desta, daremos particular relevância, por sua ainda mal esboçada estrutura e estreita franja de existência, às expressões de prevenção médica e técnica dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais.

A sociologia, a psicologia industrial e psicotécnica, a psiquiatria, o serviço social, a pedagogia, a engenharia humana (como definem os americanos), a medicina do trabalho (fecundo desdobramento da medicina social), devem confluir para assegurar a promoção da dignidade do trabalho e a protecção da saúde e do bem-estar social do homem.

Uma eficiente cobertura sanitária da população constitui processo fundamental de valorização do elemento humano como dado primeiro e essencial.

Por isso o tema que vamos focar não constitui matéria morna e amorfa, pois que interessa vitalmente à saúde da população activa. Como afirmou Disraeli:

A saúde do povo é realmente o fundamento de que depende toda a sua felicidade e todo o seu poder como estado.

E, na hora tormentosa em que a Nação é chamada a responder heroicamente às exigências do seu destino histórico, ->tudo o que conduza à renovação e reestruturação humana e social constitui missão eminentemente digna e profundamente séria e criadora.

A nossa luta na retaguarda será a da reorganização cada vez mais efectiva e fecunda, ao lado dos combatentes da primeira linha, que se batem nas frentes onde vertem o sangue e a vida preciosa.

Não nos ocuparemos hoje de problemas de assistência e de medicina curativa, mas da medicina do trabalho, de feição eminentemente preventiva, e de algumas das suas implicações mais prementes.

Se observarmos a fenomenologia do trabalho, somos impressionados pela elevada expressão estatística do risco de sinistralidade e da patologia profissional.

Se por breves instantes respigarmos um capítulo sobre "História da medicina industrial" no livro Modern Occupational Medecine, por exemplo, encontramos aí recordações de um mundo profundamente dramático.

Em certa passagem podemos ler:

Entre 1700 e 1800 tornou-se evidente, em regiões como Inglaterra, França, Alemanha e Itália, que a morte constituía um pesado tributo em muitas indústrias. Roscher afirmou, em 1761, que 50 por cento da população inglesa morria antes dos 20 anos. Uma boa percentagem dessas mortes devia resultar de doenças profissionais.

Outra referência fragmentária, mas igualmente significativa, é nos transmitida pelo National Safety Council ao informar que, na América e em 1952, os gastos directos e indirectos com acidentes atingiram 2900 milhões de dólares.

São golpes de sonda que lançamos ao acaso em dois sentidos, com a intenção de situar o problema e dar a noção dos seus verdadeiros parâmetros.

Mas o que mais profundamente nos interessa é conhecer a nossa verdadeira situação, enquanto relembramos o muito que já se fez, na ordem de consciencialização, por múltiplas actividades culturais - campanhas, con-