Estou certa de que esta Junta continuará a ter a seu cargo toda a assistência aos deslocados, mesmo aos que não possam ser integrados pelo trabalho, pelo menos enquanto não for criado um organismo centralizador, que se impõe, para tratar dos assuntos do Estado da índia.

Às três organizações nascidas do ideal de bem servir a Humanidade, a Pátria e a Igreja, a saber: a Cruz Vermelha Portuguesa, Movimento Nacional Feminino e a Caritas Portuguesa, muito devem os indo-portugueses que por elas foram recebidos e acolhidos quando chegaram à metrópole. O extraordinário trabalho desenvolvido por essas organizações tocou-lhes bem fundo na sua sensibilidade.

Cumpre-me aqui fazer especial referência à longa assistência de vários anos dada pela Caritas Portuguesa, que, graças à boa vontade da sua presidente, proporcionou meios de valorizar os deslocados menos preparados, criando escolas da língua para crianças e adultos, dando aulas de corte, costura, bordados, rendas e de culinária, e minorando, na medida do possível, as dificuldades materiais de muitas famílias.

Bem hajam por esta grande obra!

O Mundo, fascinado com a civilização milenária da índia, da sua espiritualidade e talvez pelos seus marajás, parece não dar conta dos métodos dos tempos medievais empregados pelos seus dirigentes. Só assim se compreende que assista, passivu, aos crimes por ela perpetrados.

O imperialismo indiano, com o aval dessa espiritualidade, esforça-se por se apossar não só das terras mas até das consciências dos povos por meio de uma das mais poderosas máquinas de propaganda do Mundo.

A confusão criada em muitos espíritos carece de todos os meios de esclarecimento, dentro e fora de Portugal. E verdade que a imprensa tem relatado alguns factos, mas necessário se torna dar-lhes todo o relevo para se apreender coinpletamente o significado e o seu reflexo nos nossos territórios da Índia Portuguesa.

Não lhe negamos qualidades e sempre mantivemos com essa nação relações de boa vizinhança. Mas a ganância dos seus governantes, e principalmente a deliberação de se imiscuírem nos nossos assuntos internos contra a nossa vontade - basta dizer que entre 80 000 goeses que vivem em Bombaim a polícia indiana não conseguiu obter 50 assinaturas a favor da integração, não obstante a coacção exercida e até a expulsão de alguns, usando a calúnia e a falsa propaganda, criou entre nós e eles um verdadeiro abismo.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Tentei aqui dar uma pálida ideia, muito pálida mesmo, da actual situação em. Goa, Damão e Diu. Os nossos patrícios estão lutando contra o usurpador com os meios ao seu alcance. Mas é triste reconhecer que, praticamente, se encontram sós. Para que não se sintam abandonados temos de cumprir o dever de lhes dar todo o possível e urgente apoio...

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - ... com a força do direito que nos assiste, e não podemos, como o Mundo também não deve, assistir, por comodismo ou interesse, ao genocídio lento mas constante de um povo que traduz uma das realizações mais brilhantes do intercâmbio de duas civilizações.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - E terminarei este meu apelo com um grito de alma: Salvem aquele nosso povo e a terra que serviu de berço ao venerável padre José Vaz e de túmulo ao apóstolo do Oriente, S. Francisco Xavier!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. José Vicente de Abreu: - Sr. Presidente: No passado dia 3 do corrente perdeu a vida no ultramar, em defesa da nossa soberania, o tenente piloto aviador Joaquim António Braga Gonçalves. A notícia veio nos jornais e todos ficámos sabendo que mais um heróico combatente tombou em África, na defesa dos superiores interesses da Pátria.

Sucede, porém, que laços de família ligam o extinto a uma ilustre família de Eivas, motivo por que vim a tomar conhecimento de factos que de tal modo me impressionaram que não quero deixar de os referir nesta Câmara para prestar homenagem à memória desse jovem oficial, que soube sempre sentir-se fiel a si próprio, constituindo um exemplo das mais altas virtudes militares e morais.

Tive na minha mão cartas suas, enviadas à sua extremosa esposa, sogros e pais, cartas que são um hino de louvor ao esforço que estamos fazendo em África e sobretudo uma manifestação do mais puro e elevado portuguesismo.

Ainda na metrópole, e a propósito de comentários de que teve conhecimento (em que se atribuía a morte de um seu camarada a deficiência de material e consequente desapreço pela sua vida), afirmava o tenente Braga Gonçalves, em carta escrita a sua mulher (de Lisboa para Elvas):

... Se alguma vez me acontecer o mesmo, não consintas a quem quer que seja que, na tua frente, responsabilize seja quem for pela minha morte, pois ninguém quer que se lhe aumentem as contribuições, todos querem maiores proventos, e não compreendem que somos um país pobre a lutar com países ricos, que somos pequenos a lutar com grandes e que temos que nos cingir aos limitados meios de que dispomos para defender o que é nosso e um ideal pátrio.

Já em Moçambique (Nampula), em carta datada de 28 de Janeiro deste ano, escreve à esposa:

... Quanto à minha vida não é muito sossegada, mas eu gosto, pois luto por algo que sinto, porque somos nós que temos de fazer em pouco tempo o que os nossos antepassados não puderam fazer em 400 anos de civilização.

Em 1 de Fevereiro diz:

... Lembra sempre aos nossos filhos que o pai os adora e que tudo quanto faz é a pensar neles e na mãe para que nada lhes falte: carinho, muito amor, conforto e honra.

... O trabalho aqui é duro, pois voa-se muito, estamos mal instalados e a minha responsabilidade é grande, pois sou eu que comando o aeródromo de manobra, que tem uma área de trabalho enorme; o que vale é a camaradagem e a vontade fantástica que toda a rapaziada tem de agradar e trabalhar, quase só por um ideal, pois que da nossa retaguarda o apoio não é famoso! ... Se na metrópole sonhassem o que aqui sofre o nosso maravilhoso e excepcional soldado, talvez que isto fosse de outra forma; mas isso são contas largas de 400 anos! Só o que te peço é que na