Como há pouco referi, procuro exercer a minha acção parlamentar sob o signo de uma preocupação dominante: a política.

E se este é o terreno em que me situo, ninguém estranhará que eu mantenha o meu espírito desperto para as realidades da vida política portuguesa.

Para além de certas belas palavras e de alguns meritórios esforços, pelo que diz respeito à acção política não vejo razões de tranquilidade e de confiança.

Por isto, ou por aquilo, não foi possível até agora a institucionalização do Eegime, não foi possível estruturar convenientemente as forças políticas para o seu apoio, nem criar fontes renovadoras da sua vitalidade e da sua continuidade.

E isto eu o reputo essencial.

Já o disse nesta Casa e repito-o agora com a mesma séria e profunda convicção: não basta governar para a Nação; é preciso governar com ela.

Esta modesta forma de expressão parece não estar longe do alto pensamento de Salazar, quando, vai para um ano, se queixou de não ter conseguido que o Governo se convencesse da necessidade de um apoio político.

Que a minha pobre voz se perca no deserto da rotina e da indiferença, pode não ser um bem ...

Mas que o sábio e prudente aviso de Salazar não tenha despertado, alvoroçado, a consciência dos responsáveis é que não pode admitir-se.

E, como um dia aqui afirmei, não se culpe a União Nacional por responsabilidades que não tem.

Estou à vontade para o dizer, pela dupla circunstância de não exercer neste momento quaisquer funções directivas nos seus quadros, e ... por as ter exercido já noutras oportunidades.

A despolitização a que assistimos - lesiva para o interesse nacional, que eu identifico com o destino da nossa Eevolução - filia-se por inteiro em acções, ou omissões, de quem detém e exerce o poder governativo, que em muitos sectores se considera como elemento único da nossa vida política.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E um erro grave que carece de pronto remédio se quisermos manter forte e viva a chama do ideal revolucionário do 28 de Maio, se quisermos projectá-lo no futuro como alicerce seguro da continuidade do Eegime.

O desequilíbrio de poderes a que aludi pode ilustrar-se com vários exemplos, que vão desde a frágil actuação política desta Câmara na sessão legislativa prestes a findar até à defeituosa estruturação das comemorações do 40.º aniversário da Eevolução Nacional, comemorações aqui assinaladas já por ilustres colegas e por V. Ex.ª, Sr. Presidente, em termos de alto nível intelectual e doutrinário, a que dou, naturalissimamente, a minha mais franca e total adesão.

Mas quando digo que as comemorações estão mal estruturadas, quero referir-me aos quadros que se criaram para as realizar.

Não compreendo, nem aceito, que, havendo, como há, uma força política de apoio ao Eegime - a União Nacional -, se lhe não tivesse confiado, como condição dfi sua força e do seu prestígio, e com as colaborações oficiais indispensáveis, a tarefa de levar por diante as referidas comemorações.

O Orador: - O que se passou só pode ter resultado de uma reprovável minimização do factor político e de uma pertinaz afirmação do desequilíbrio de poderes já salientado.

Tudo o que é institucional não funciona, ou funciona deficientemente.

O que vem de dizer-se não envolve o menor desrespeito ou desconsideração seja para quem for, nomeadamente pela comissão nacional encarregada das comemorações, a que preside - quero crer que com pesado sacrifício - um amigo querido, o nosso antigo colega nesta Casa Dr. Baltasar Eebelo de Sousa.

Eu nunca trato dos problemas nesse terreno.

Determino-me por critérios, que, podendo ser errados, se esforçam por ser fundamentados e por ser justos. De resto, temos de vencer o falso tabu político de que cada opinião discordante é uma heresia e de que cada crítica ou reparo é um agravo.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Considero excessiva a presença estatal no plano das comemorações. Desejaria que ao menos as erguessem com mais fundas raízes nas terras e nas gentes, com um carácter mais fortemente representativo das forças sociais e cívicas da Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Colho a sensação de que tudo se burocratiza.

Ora, eu tenho para mim que estes 40 anos de acção governativa mereciam mais e melhor, e, sobretudo, merecia-o - e há-de tê-lo - o ilustre Chefe do Governo, Dr. Oliveira Salazar, a quem o País deve o testemunho inequívoco do seu agradecimento e da sua confiança.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para além de fórmulas pouco significativas, à margem de "vedetismos" que ninguém compreende ou aceita, o povo português, fiel às suas melhores tradições, ao espírito de justiça que domina o seu carácter, e ao avisado sentido que sempre tem do interesse nacional, saberá encontrar os caminhos autênticos para afirmar aquele reconhecimento e a sua fidelidade às linhas mestras do ressurgimento nacional.

Menos que a consagração de uma obra - espantosa em tantos domínios, mas incompleta noutros que temos por essenciais ... -, as comemorações que se avizinham deverão lançar o Eegime em nova e decidida arrancada, sacudindo, com naturalidade, o peso morto do conformismo e da rotina, afirmandoo seu espírito de vanguarda como expressão da validade actual do seu travejamento ideológico e como imperativo da lição que colhemos, dia a dia, em nossas próprias casas, de um mundo que se consome e des.trói, no meio de tremendas confusões e condenáveis denúncias, na anarquia e na subversão.

Sr. Presidente: A continuidade da Eevolução depende, fundamentalmente, da fidelidade que soubermos manter ao magistério político de Salazar: doutrina e acção.

Nenhuma revisão quanto aos princípios essenciais, às grandes certezas, até porque se identificam com a própria sobrevivência nacional.

Eevisão de algumas estruturas e de métodos, actualização de processos administrativos, isso sim, e depressa, ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem!