que muito e muito mais difícil, muito e muito mais árduo, é o que se deixa aos empresários industriais privados ou candidatos a essa condição - essa tarefa de calcular-se o dimensionamento producional na base fundamental do conhecimento dos mercados, para o que tais empresários eu tais candidatos, se encontram, por via de regra, inermes, ao contrário do que será de supor aconteça com o Estado, que haverá de ter os seus departamentos especializados à altura de melhor conhecerem esses termos desejáveis de dimensionamento, como que em tipo de infra-estrutura.
Afirma-se no referido preâmbulo:
Em virtude da nossa participação nos movimentos de integração económica europeia, deixará de haver, na maior parte dos casos, motivo que justifique a reserva do mercado do continente e ilhas adjacentes para um número restrito de unidades produtivas, uma vez que esse mercado será enormemente alargado e passará a estar aberto à concorrência estrangeira.
E como se dá ao pensamento do leitor estarem ao nosso alcance os mercados estrangeiros - naturalmente, à cabeça os formados pelos países nossos parceiros na E. F. T. A.
Ora, também aqui farei um aparte: com o devido respeito, considero excessivamente optimista essa ideia de os mercados estrangeiros - mesmo os da E. F. T. A. restante - estarem ou ficarem abertos a toda a indústria metropolitana.
Sr. Presidente: Alais do que de mim próprio, socorrer-me-ei, em palavras a seguir, de asserções ou trabalhos de personalidades de relevo, alheias ao elenco dos legisladores, porém, sem deixarem de ser conhecedoras profundas dos movimentos (e dos próprios fundamentos dos mesmos) que estão a afligir a indústria nacional. Personalidades às quais presto as minhas homenagens pelo contributo que têm dado à divulgação dos nossos principais problemas industriais - divulgação no sentido amplamente construtivo.
O Sr. Dr. Fernando Cruz, que é personalidade que todos bem conhecemos e cuja opinião é altamente considerada, escreveu, há tempos, um estudo sobre Política Industrial, suscitado pela realização do II Congresso da Indústria Portuguesa, estudo que contém palavras de amplo sentido responsável e que desejo dar à consideração de quem me ouve. Aquele observador da nossa vida económica, principalmente no campo industrial, cuja legaílstica encontra nele mestre incontestado (aliás, é também industrial de reconhecida visão), vai servir-me, com o que escreveu, de suporte de muito apreço, como veremos.
Nesse seu estudo, o Sr. Dr. Fernando Cruz submeteu o assunto do condicionamento industrial à própria óptica do que ele - estava-se em 1957 - chamou uma "zona
europeia de trocas livres", exactamente a actual e muito falada E. F. T. A., de que Portugal metropolitano é membro, como se sabe.
Considero de muita importância a opinião do Sr. Dr. Fernando Cruz a tal respeito, opinião que trarei para aqui na sua expressão fundamental. O antigo secretário-geral da prestigiosa Associação Industrial Portuguesa (outro pergaminho que acredita o referido jurista e economista como autoridade nestes assuntos por de mais complexos da indústria nacional) começou por formular a seguinte interrogação:
... considerando as características da estrutura económica portuguesa, as coordenadas dentro das quais se operou a sua evolução, as limitações da posição relativa do nosso mercado e a orientação da Europa no sentido da constituição de uma zona de trocas livres, que atitude deve tomar-se perante o condicionamento industrial?
E, intermediàriamente, vai dizendo:
Começamos por dizer que há um ponto fundamental que não temos visto suficientemente evidenciado: a nossa falta de tradição industrial.
De qualquer modo - fosse por falta de gente, lançada na voragem das conquistas, fosse por dificuldades do meio, fosse por qualquer outra razão -, as iniciativas industriais nunca proliferaram. Impressiona reler hoje os autores que a partir do século XVI se ocuparam dos problemas económicos portugueses. Ressalvadas as diferenças inerentes às circunstâncias de tempo, quantas palavras de um Duarte Ribeiro de Macedo ou de um Manuel Severim de Faria mantêm plena actualidade!
Quando os países da Europa sofriam as profundas modificações de estrutura determinadas pela chamada Revolução Industrial, Portugal - ainda apoiado nos restos dos rendimentos do Brasil e resolvendo com péssimas soluções de emergência as dificuldades financeiras que começavam a avolumar-se - mantinha-se um país agrícola, inteiramente subordinado à importação de produtos manufacturados, muitos dos quais produzidos a partir de matérias-primas locais.
Isto significa que, enquanto os países que criavam indústrias formavam em devido tempo uma consciência económica nacional, acumulando experiência, constituindo quadros técnicos, fixando correntes comerciais, Portugal manteve-se na linha das anteriores- circunstâncias de vida que já não podia conservar.
Sem curar de discutir razões, pretendemos apenas apurar este facto: andávamos sempre arredados da indústria.
Assevera ainda o Sr. Dr. Fernando Cruz:
É que a falta de tradição industrial não envolve apenas insuficiência de quadros e meios de trabalho: trouxe consigo a falta de mentalidade económica, problema de natureza individual que se avoluma terrivelmente nos domínios do colectivo e aí se desdobra nas mais variadas manifestações, escalonadas ao longo dos diversos sectores da vida portuguesa, da produção ao consumo, da escola à política.