Sr. Presidente, prezados Colegas: Estive propositadamente a transcrever "em exaustivo" as opiniões do Sr. Dr. Fernando Cruz, mesmo porque elas têm também uma notável actualidade; aliás, são essas as grandes, as construtivas, as proveitosas, opiniões - as que, cumpridos os elementos proféticos ou ainda mantidos com vida, à espera desse cumprimento, valem porque nos fazem ligar o passado ao presente e este ao futuro.

E que não nos devemos esquecer de que, como nos ensinam os bons pensadores, "... aquele que não compreendeu o passado está condenado a revivê-lo uma vez mais!".

Fiz há pouco referência ao Sr. Eng.º Mercier Marques, bastonário da Ordem dos Engenheiros, e, repito, figura notável dos nossos meios industriais. E como que vem, no seu trabalho Mentalidade Industrial, responder àqueles que têm os empresários industriais portugueses, pelo menos na sua maioria, senhores de uma nova mentalidade - essa mesma "mentalidade industrial". Vejamos, então, o que nos vai dizendo o Sr. Eng.º Mercier Marques:

As causas remotas da nossa falta de mentalidade industrial e as da nossa lenta e precária industrialização confundem-se e têm provavelmente as suas raízes na própria história do País.

Asseverando que só recentemente se criara ambiente para iniciativas industriais de apreço, favorecido pela nossa não interveição na II Grande Guerra, o Sr. Eng.º Mercier Marques diz:

Na realidade, nada na história do povo português contribuiu para lhe criar uma mentalidade industrial.

O nosso passado é, indiscutivelmente, uma pesada herança. Os extraordinários feitos dos Portugueses, recompensados pela conquista de riquezas prodigiosas, perdidas a seguir, criaram-lhes uma mentalidade sui generis tão profundamente vincada que não foi possível até hoje sobrepor-lhe qualquer outra mais construtiva em relação aos tempos modernos, em que forçosamente têm de integrar-se.

E, afirmando que a nossa falta de mentalidade industrial não se verifica em um ou outro sector, mas que é, sim, quase geral, o ilustre bastonário da Ordem dos Engenheiros não hesita em dizer:

Finalmente, o próprio Estado tem também de criar a sua mentalidade industrial.

Sr. Presidente: Estive a citar o depoimento do Sr. Eng.º Mercier Marques com todo o interesse - porque ele não parece que concorde exactamente com a quase euforia que se apossou de muitos que sem fundamento nenhum julgam (ou dizem julgar ...) que essa "mentalidade industrial" já se instalou entre nós - erro tremendo que aos prevenidos cabe ir desfazendo convenientemente, ao mesmo "tempo lhes competindo contribuir para o aperfeiçoamento de instituições como o condicionamento industrial, que, tendo embora defeitos, tem também vantagens fartas, ponto sendo que se eliminem os defeitos e se reforcem as causas das vantagens.

Se voltarmos numa última vez ao Sr. Dr. Fernando Cruz, veremos que este jurista e economista disse, ainda na sua Pòliima Industrial:

[...] sabe-se que existe sempre um nível mínimo de produção conducente aos melhores custos.

E a sua ideia era que esse mínimo andava e anda ligado às questões do dimensionamento producional dos estabelecimentos, isso que, no preâmbulo do Decreto n.º 46 666, parece não merecer que o Estado continue a encarar convenientemente, nestas actuais delicadíssimas circunstâncias, como sendo uma tarefa em que tem de se envolver, deixando pura e simplesmente tal tarefa para os próprios empresários industriais ou candidatos a essa condição.

E cabe então aqui socorrer-me de um outro especialista de alto coturno - o Sr. Dr. João Cruzeiro, através de um seu estudo apresentado ao Colóquio sobre a Posição de Portugal perante a Cooperação das Economias Europeias, realizado em 1960, estudo a que deu o título de A Dimensão dos Estabelecimentos Industriais em Portugal e Nalguns Países Estrangeiros. É o que farei dentro de pouco.

E, mesmo assim, as dificuldades são enormes! Até porque não são só enormes quando se considera a dimensão à escala de mercados integrados a que tenhamos aderido - um G. A. T. T., uma E. F. T. A., amanhã uma C. E. E. -, elas, tais dificuldades, são já enormes mesmo quando se considerar apenas o mercado nacional!

Acho então oportuno trazer para aqui o depoimento do Sr. Dr. João Cruzeiro pelo seu trabalho a que me referi há pouco - um trabalho que fez com a qualidade de assistente do Instituto Nacional de Investigação Industrial.

Pois o Sr. Dr. João Cruzeiro, logo na nota introdutória, vai dizendo:

Por outro lado, a participação do nosso país num movimento livre-cambista veio dar maior urgência à necessidade de reorganização da nossa indústria, a qual há-de normalmente assentar no esclarecimento de diferentes problemas, entre os quais o do dimensionamento das unidades de produção. Por esta razão e também porque praticamente não existem em Portugal publicados nenhuns elementos de informação internacional sobre a dimensão, julgámos útil apresentar os dados estatísticos imediatamente disponíveis sobre este problema, acompanhados de um breve comentário, que, pelas razões que a seguir se indicam, deverá ser entendido como uma simples hipótese de interpretação dos mesmos.

Os dados que o Sr. Dr. João Cruzeiro apresenta e com os quais deseja dar uma ideia do dimensionamento a que obedecem os estabelecimentos industriais que aponta (e que divide por várias actividades: têxtil de lanifícios, têxtil do algodão, curtumes, artigos de borracha e amiante, adubos, tintas e lacas, vidro e cabos eléctricos), esses dados são os advindos da mera consideração de número de estabelecimentos; e pessoal empregado nas suas quantidades por vários países: o nosso, alguns outros da