especializados em boa função, pois, como o disse, isso será uma como que infra-estrutura posta a favor dos empresários industriais privados.

Aliás, deve o Estado mostrar-se atento quanto a qualquer abuso, donde quer que possa surgir, mas até isso pressupõe uma intervenção, que não um abandono - um abandono espectacular -, como o pedem aqueles que suponho não estarem ao par do verdadeiro interesse de uma indústria que, acima de tudo, precisa do amparo moral e efectivo do Estado!

Sr. Presidente, prezados Colegas: Sou industrial e sei bem o que é isso de se conduzir uma grande indústria no encapelado mar que já a rodeia, e encapelado, às vezes, porque em pouco ou nada são escutadas quando se pretende modificar (ou se modifica) um status que que, devendo mudar-se, embora, estaria ou estará certo que o fosse ou seja por gradual aplicação de medidas mutativas - que não por "saltos mortais", como no dizer de pessoa muito categorizada ao referir-me o que se julga ir passar-se com o condicionalismo industrial! -, mesmo porque natura non facit saltus, no incumprimento desta máxima não podendo deixar de considerar-se o quanto de traumatizante resultará para a indústria já instalada!

Tem defeitos o condicionamento industrial que se revoga, considerando os tempos que correm? Mas ninguém o negará! Só que não se pode sair de afogadilho de um para outro estádio sem profundos traumatismos, principalmente porque estão em jogo patrimónios enormes, patrimónios que foram confiadamente postos ao serviço da Nação!

Se há algo que modificar - e há -, que se considere francamente que "no meio é que está a virtude"!

E que se considere também que lá fora parece que as coisas correm em termos de mais "protecção" às indústrias internas, como se prova por um comunicado que as agências de informação divulgaram - por sinal pouco tempo depois da emissão do Decreto-Lei n.º 46 466 -, comunicado que teve o seguinte teor (arquivado pelo nosso Banco de Portugal numa publicação sua):

Ao discursar numa reunião da Associação Nacional dos Industriais, o presidente da General Electric exprimiu a sua inquietação relativamente ao que se chamou tendência a favor de uma reaparição do nacionalismo nos negócios económicos em numerosas partes do Mundo. Aquela individualidade insurgiu-se contra novas restrições impostas ao comércio internacional e aos investimentos. Este movimento, uma vez desencadeado, será difícil de se reprimir ecair-se-á então numa escalada de proteccionismo.

Ora, diante de um estado de espírito como o que ressalta do comunicado transcrito, de mais a mais referindo-se a um discurso de tão destacada personalidade no mundo dos negócios, não me parece muito de interesse, em matéria de cautelas, isso da eliminação total, ou mesmo em parte apreciável, do nosso condicionalismo industrial!

Aliás, devo dizer que a Corporação da Indústria tem entre mãos estudos em certa profundidade de problemas - e, naturalmente, de soluções adequadas- que se prendem com o binómio "regulamentos e condicionamento", certo estando eu de que o resultado desses estudos não contrariará o ponto de vista que me conduziu nesta minha intervenção.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Campos Neves: - Sr. Presidente: Ao usar pela primeira vez da palavra nesta Assembleia, desejo teste-munhar publicamente o meu maior respeito e a mais elevada consideração por V. Ex.ª, professor distintíssimo e eminente homem público, que com raro brilho, inexcedível zelo e invulgar inteligência sempre serviu a Pátria nos elevados cargos que foi chamado a desempenhar, desde Ministro a Presidente da mais alta assembleia política do País.

Pertenceu V. Ex.ª àquela geração académica de há meio século, que, com Salazar, Cerejeira, "Manuel Eo-drigues e outros, deixou marcada com traços indeléveis a sua passagem pela Universidade de Coimbra e que mais tarde tanto se viria a prestigiar, quer no exercício do magistério, quer na renovação da política do País ou da Igreja.

Para V. Ex.ª, Sr. Presidente, os meus mais respeitosos cumprimentos e a expressão da minha maior admiração e apreço.

Srs. Deputados: quero igualmente aproveitar esta ocasião, não só para saudar muito cordialmente VV. Ex.ªs, mas ainda para lhes oferecer toda a minha leal, embora modesta, colaboração e lhes desejar as maiores felicidades no desempenho do vosso mandato parlamentar.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pedi hoje a palavra para expor a VV. Ex.ªs um problema que foi já motivo de brilhantes intervenções na VIU Legislatura desta Assembleia por parte dos ilustres Deputados Drs. Santos Bessa e Nunes Barata, mas o qual, mesmo assim e apesar do interesse que a imprensa e as forças vivas locais lhe têm dedicado e das várias exposições enviadas superiormente, quer pelo Senado Universitário de Coimbra, quer pela Escola de Farmácia, o Governo não procurou ainda resolver. Trata-se da restauração da Faculdade de Farmácia de Coimbra.

Sr. Presidente: Orgulha-se a Universidade de Coimbra - a mais velha e tradicional- Universidade portuguesa - de nela se vir professando o ensino da Farmácia ininterruptamente desde o reinado de D. Sebastião.

O verdadeiro ressurgimento da farmácia portuguesa foi iniciado, podemos dizê-lo, com a Keforma de 1902, que, unificando o ensino farmacêutico, lhe deu a categoria de superior e lhe atribuiu, pela primeira vez, verdadeiro prestígio científico. A esta tão celebrada reforma, a que para sempre ficou ligado o nome do conselheiro Ernesto Bodolfo Hintze Ribeiro, cuja memória perdurará eternamente no coração agradecido da classe farmacêutica, seguiu-se, em 1921, outra igualmente importante, pela qual as três escolas existentes foram elevadas à categoria de Faculdades.

Infelizmente, porém - "não há bem que sempre dure" -, as recém-nascidas Faculdades de Lisboa e de Coimbra não tiveram muito tempo para se congratularem com a sua criação. Com efeito, motivos meramente económicos levaram o Governo, em 1928, a extinguir as Faculdades de Direito de Lisboa e de Letras do Porto e, sem qualquer outra razão justificativa que não fosse a de uma contrapartida à extinção destas duas Faculdades, a extinguir também a Faculdade de Farmácia de Coimbra. Quatro anos depois, uma nova reforma do ensino farmacêutico reduz a Faculdade de Farmácia de Lisboa à categoria de escola e cria, agora, a Escola de Farmácia