Quando ao âmbito regional, creio-manterem actualidade as exigências que, noutra intervenção, sintetizei nestes termos:

Uma definição geográfica das zonas turísticas do País, em correspondência com as regiões consideradas num plano de desenvolvimento económico-social;

A outorga às comissões regionais de uma autoridade efectiva, com uma melhor ligação aos serviços centrais;

A possível manutenção de órgãos locais, atentos aos «pequenos pormenores», mas sempre colaborantes dos esforços de desenvolvimento turístico regional e nacional.

Quanto ao debate entre o turismo de massas e o turismo de escol, parece-me oportuno reproduzir aqui um passo do notável discurso que o Dr. Miguel Quina proferiu em Outubro de 1964 no encerramento do Congresso Nacional de Turismo:

Não creio admissível aqui soluções extremistas. Não podemos esquecer que os aumentos explosivos do turismo moderno se devem principalmente ao turismo de massas. Ignorar essa realidade e dimensionarmo-nos apenas ou principalmente para o turismo de escola, o turismo das camadas de mais alto nível económico è social, arriscar-nos-ia a ficar colocados fora das correntes turísticas da actualidade, pois tudo indica que, a curto prazo, fatalmente o turismo de massas será um importantíssimo componente da procura no nosso país. A opção consiste em retermos esse caudal, criando estruturas adequadas e permitindo o aproveitamento de preços que compensem as distâncias a percorrer, ou assistir à, absorção dessas correntes pelos países do litoral mediterrâneo.

Finalmente, em matéria de planeamento parece-me largo o caminho a percorrer. O capítulo sobre o turismo, no Plano Intercalar do Fomento, foi em si mesmo um testemunho das insuficiências que nos dominam, e a própria Câmara Corporativa, no respectivo parecer, enumerou alguns erros e dificuldades.

Mas se uma planificação não se pode realizar sem programas gerais, também é evidente que o seu sucesso, nomeadamente em matéria turística, depende do que se fizer no âmbito regional.

Importa definir em Portugal as grandes regiões turísticas, esboçar e articular os respectivos planos e executar uma política de desenvolvimento, na convicção de que o País é todo o território.

A Suíça optou sempre por uma programação de pequenos espaços, talvez na certeza que de outro modo o país em poucas horas seria percorrido e o turista deixaria de se instalar.

Guardadas as devidas .diferenças, talvez não fosse inteiramente despiciendo recordar entre nós a sabedoria deste pequeno grande povo.

Sr. Presidente: Chegou assim ao ponto fulcral desta intervenção: a defesa de uma política de desenvolvimento regional turístico e, mais concretamënte, a recomendação de que se considerem as potencialidades da região de Coimbra para aí a tornar efectiva.

No Centro do País acümulam-se riquezas turísticas de todos os matizes: cidades monumentais e de cultura, regiões montanhosas, estâncias secularmente consagradas, termas ricas de equipamento, praias de areia fina.

Em pouco tempo o turista salta da serra para o mar, da convivência com obras de arte para a contemplação do grande livro aberto da natureza.

Há, pois, uns tantos pólos de atracção que garantem o sucesso no desenvolvimento turístico da região.

Comecemos pelo mar.

A Figueira da Foz, já hoje de larga projecção internacional, merece sempre os mais rasgados elogios: o azul do céu, a rever-se na toalha líquida-, a intensa claridade, a passear pelos areais cristalinos, a silhueta de uma serra onde a luz se compraz em tons de doçura e de nostalgia.

O Sr. Aníbal Correia: -Muito bem!

O Orador: - A praia de Mira, menos conhecida, é igualmente importante, nomeadamente para o turismo médio. Foi ela, com sua paisagem natural e humana, o motivo de inspiração para algumas páginas dessa «elegia diáfana» que Eaul Brandão compôs - Os Pescadores.

O Sr. Júlio Evangelista: -Muito bem!

O Orador: - Se do mar regressarmos à zona de transição entre planície e a montanha, detemo-nos em Coimbra.

Que dizer desta terra maravilhosa que outros já não tenham dito? Como cantá-la, se ela foi sempre a grande inspiradora dos poetas de Portugal?

Na, verdade, casa-mãe da poesia, Coimbra evoca o amor, a grandeza ou até a desventura de tantos altos espíritos que no recolhimento das arcadas dos seus templos, no isolamento de miradouros famosos ou até nos ardores de um bulício todo feito de inconformismo juvenil abriram os caminhos da cultura, compuseram as mais belas páginas de uma literatura poética que não é pobre.

A sinfonia das inigualáveis matizes verdes da paisagem tradicional da região, que, em sua orquestração de tonalidades múltiplas e gritantes, constituiu estímulo aos almejo do poeta do Só, conjuga-se com a variedade, riqueza e equilíbrio do conjunto monumental e urbanístico, que se desenvolveu à volta do velho centro universitário, tudo compondo cartaz turístico, principal entre os primeiros da nossa terra.

E desta cidade podemos irradiar para estâncias como o Buçaco, termas como a Cúria .e o Luso, sítios históricos como Conímbriga ou Lorvão, regiões de montanha como toda a Beira interior.

No ano de 1965 pernoitaram em Coimbra 52 302 turistas estrangeiros e na Figueira da Foz 18 966.

Estes números, que não deixam de ser expressivos, devem ligar-se ao intenso turismo de passagem e ao movimento do turismo interno para permitir uma visão da actual importância turística da região.

Mas, se atendêssemos ao depoimento de muitos destes homens que avolumam as estatísticas, talvez fosse possível seriar alguns problemas que nos envergonham e enfraquecem. Porquê estradas tão necessitadas de rectificações, alargamentos e revestimento betuminoso? Porquê aglomerados urbanos típicos sem acesso ou abandonados ao mau gosto dos novos ricos? Porquê lagoas sem um mínimo de aproveitamento desportivo? Porquê praias maravilhosas sem urbanização, água e luz? Porquê florestas sem repovoamento cinegético ou inacessíveis aos campistas? Castelos restaurados estão desertos, sem qualquer aproveitamento. Campos de aviação encontram-se fechados à aviação civil ou não beneficiam de um .mínimo de reparações que os tornem praticáveis. Hotéis, pensões e restaurantes não dispõem de uma exploração equilibrada ou acusam uma ausência de ajuda material que lhes torna a existência penosa. A própria vida nos centros urbanos