Vozes: - Muito bem!

O Orador: - ... tão duramente atingida pela conjuntura económica que o País atravessa, frente a dilemas cruciais, como aquele em que a necessária poupança de divisas é contrariada pela urgência de importações altamente dispendiosas, que o próprio fomento económico, sobretudo no sector industrial, reclama sem apelo nem possibilidade de alternativa. Pois bem, esse poderoso aliado que não podemos perder, antes havemos de robustecer a todo o custo, tem também como "ponta de lança", a par com as infra-estruturas basilares do alojamento, as comunicações rodoviárias em geral e as dos circuitos turísticos em particular.

Também aqui é lúcida e peremptória a afirmação do Ministro Arantes e Oliveira:

A obra rodoviária terá de andar à frente, para que se não comprometa na base o êxito da política de valorização turística do País.

Estamos perante uma nova ordem de interesses, perante uma prioridade indiscutível, demonstrada como está pela linguagem dos factos que se não trata de um sonho, ou de uma aventura, mas-de uma autêntica, de uma poderosa, realidade: a realidade do turismo português! E consolador verificá-lo, Sr. Presidente!

No preciso momento em que uma cabala urdida na inveja e no rancor fez estremecer todo o corpo da Nação, impondo-lhe uma guerra injusta em três frentes de batalha, e uma outra, monstruosa, de calúnias e afrontas, à escala universal, nesse preciso momento, como bênção da Providência e como desmentido cabal a muitas dessas calúnias, irrompeu a benfazeja e pacífica invasão turística, que se tem avolumado, de ano para ano, em ritmo inesperado e sem precedentes. Em termos económicos -ninguém o duvida- o capital turismo é um investimento altamente reprodutivo para aeconomia nacional.

Daí que as despesas a efectuar neste sector se "justifiquem e imponham por fortes razões dedesenvolvimento económico e de riqueza material.

Quando, porém, num mesmo investimento se conjucgam e reúnem, a par com o fomento turístico plenamente assegurado, a satisfação de outras necessidades de igual içai anterior prioridade, não há dúvida de que todos os esforços se justificam, todos os sacrifícios se aceitam, quandodirigidos à efectivação da empresa.

Em matéria turístico-rodoviária há duas obras a efeito no distrito da Guarda que preenchem rigorosamente tfcle condicionalismo, e refiro apenas duas para afastar o risco de contestação da sua inegável prioridade.

Ambas dizem respeito à serra da Estrela, a rainha, que, por sê-lo, não é pertença das Beiras em que se instalou, majestosa e silente, no seu primado incontestável. Ela é, de facto, património português, fonte inesgotável de riqueza nacional.

Não obstante, a rainha mantém-se ainda, em larga medida, como princesa encantada, continua a guardar segredos estéreis, maravilhas desconhecidas, que são potencial inexplorado de beleza e seguro manancial de progresso económico.

Até quando?

Novas "pontas de lança" terão de ser atiradas decididamente às suas quebradas de sonho, aos seus varandins palacianos, monopólio das estrelas ...

A primeira será, creio bem. a ligação de Videmonte, no concelho da Guarda, a Folgosinho, no concelho de Gouveia. Mais do que uma antiga e justa aspiração daquela zona serrana, é uma autêntica necessidade do turismo português. Porque outras, várias outras, são justas aspirações também e de notável alcance económico e turístico, como, por exemplo, as ligações desta futura estrada à freguesia de Prados e à histórica vila e fortaleza de Linhares, no concelho de Celorico da Beira.

Obra de envergadura, sem dúvida, mas que plenamente se justifica e confiadamente se aguarda.

Mais fácil, de mais imediata viabilidade, é a segunda rodovia serrana que desejo referir. O simples enunciado do percurso a impõe. De forma tão evidente, tão imperiosa, que dispensa qualquer argumentação! Por outro lado, constitui um velho anseio de uma das senhoras e donas dos Hermínios - a bela, a fidalga, a progressiva Manteigas. Trata-se, Sr. Presidente, da ligação da Nave de Santo António à Colónia Termal de Férias, passando pela base dos Cântaros, pela nascente e bacia do Zêzere, cruzando ainda com o acesso único ao Poço do Inferno.

Quem poderá .contestar a justiça deste anseio, o interesse indiscutível deste traçado de alto purismo?

Não obstante, continua a aguardar a passagem a estrada nacional, de simples caminho florestal que é e quase intransitável.

Mas creio bem, Sr. Presidente, que a satisfação deste desiderato não pode demorar, porque o exige a própria existência das outras estradas que de Gouveia e Seia, por um lado, e da Covilhã, pelo outro, dão acesso à torre - o ponto mais alto de Portugal europeu -, e das quais o percurso a que me reporto é complemento indispensável, como fecho de circuito e possibilidade de rápido acesso aos lugares mais conhecidos e visitados da encantadora montanha.

Nesta esperança finalizo as minhas breves considerações - esperança que levo mais longe ao pensar que o conjunto de problemas atrás exposto encontrará nos novos rumos que se anunciam a melhor compreensão dos responsáveis nos vários escalões a que estão afectos.

E acredidto ainda que a gente portuguesíssima do distrito da Guarda, como a de Castelo Branco ou Bragança, não será vencida pelo desespero e continuará a trabalhar e a sofrer, em luta heróica com a aspereza das serras, aguentando os vendavais do infortúnio, as inquietações de um êxodo assustador, todas as contrariedades e angústias, na nobre certeza de que, sendo ela o cerne da Nação, está a aguentar e a continuar Portugal.

Tenho dito.

Yozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.