ensinamentos que ficarão para sempre gravados, pela tatuagem indelével das emoções, na epiderme da minha alma.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Vim, por isso, 100 por cento guineense, 100 por cento africano, e, portanto, mais português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Fiquei, sim, fiquei agora convencido de que somos realmente uma imensa nação, não apenas no plano temporal da história pregressa, mas no quadro actual das realidades, desde as de simples cariz físico às de projectante conteúdo espiritual.

Senti que perante a gigantesca mole de potencialidades que se abrem às nossas mãos, aos nossos olhos e ao nosso engenho, não são sómente vãs, mas também delituosas, as mesquinhezes dos que vivemos neste rectângulo da Europa ocupados com literatices, frioleiras, amuos e polémicas inglórias.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E concluí que a África em geral, e a Guiné em especial, é o mais portentoso repto que se pode lançar à nossa capacidade empreendedora.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por conseguinte, se esta missão não tivesse outros resultados, um pelo menos seria inevitável: ela confirmou em nós o orgulho de sermos portugueses e a decisão de nos mostrarmos dignos, tanto dos nossos antepassados, que descobriram e civilizaram aquelas terras, como dos valorosos militares e civis que lá mantêm, através da dor e do sangue, a soberania nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Em primeiro lugar, direi que é sensível e notada a escassez de agentes nos quadros administrativos e nos do ensino e saúde e assistência. Faltam técnicos na Guiné para a província poder realizar, em todos os serviços, as difíceis missões de que há necessidade. A razão desta carência não está, como muitos julgam, nas circunstâncias anormais de guerra subversiva; o Português não se amedronta com isso; aliás, Bissau, a capital, por exemplo, é uma cidade tranquila, onde se vive e trabalha com perfeita segurança, e em cujas ruas se passa e se passeia, a qualquer hora do dia ou da noite, com o máximo à-vontade e desprevenção. Também não estará no clima, pois as povoações dispõem de meios de higiene, comodidade e conforto nada inferiores aos dos povos de outros territórios africanos. A grande causa da carência de funcionários e técnicos deve-se à inferioridade de vencimentos em relação às outras partes de Portugal africano.

De facto, perante uma vida tão cara ou mais cara ainda do que nas outras paragens, convenhamos em que não é agradável nem aliciador servir com remunerações inferiores. Julgo que será este um tópico a considerar pelo Ministério do Ultramar, agora que está anunciada para breve uma reforma cio Estatuto do Funcionalismo Ultramarino. E julgo assim não apenas por imperativo de justiça, mas pela premência de ver resolvida tão grave falha numa província que precisa urgentemente de quadros plenamente eficientes em número e qualidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sob o ponto de vista económico, a Gume apresenta, como disse o seu ilustre governador, uma estrutura dualista, com um sector dê economia de subsistência ou tradicional, no qual predominam as actividades produtivas destinadas ao autoconsumo da população autóctone, e com um sector de economia de natureza empresarial. No primeiro sector, que origina 70 por cento do rendimento provincial, predomina o tipo de exploração agrícola e piscatória, feita por métodos primitivos e com base quase monocultural, com as inevitáveis implicações de baixa produtividade e subdesemprego.

No sector empresarial, aliás de muito pequena extensão, sente-se que a recessão foi longa de mais, motivada principalmente pela falta de produtos de base, como o arroz, o amendoim e o coconote. É, portanto, uma economia débil, assoberbada ainda pela diminuição no volume das exportações. E, todavia, pela riqueza do seu solo e subsolo, a primogénita do Infante pode vir a ser o celeiro e o pomar de todo o Portugal.

O ponto está em que, mediante medidas urgentes e através dos planos de fomento, se acelere o arranque inicial em que ela se encontra. Para tanto, impõe-se a diversificação da agricultura, a organização do sistema de comercialização, a industrialização dos riquíssimos produtos da terra, o desenvolvimento e modernização dos meios e métodos de pesca, a regularização do consumo interno com uma cobertura de frio, a facilitação do crédito, o aperfeiçoamento da rede de comunicações e transportes e de instalações portuárias. Enfim, é vasta a tarefa, mas de possível execução. Com um pouco mais de esforço e ajuda financeira, a Guiné poderá ser, em três ou quatro anos, uma grande e próspera província. É, de resto, esta a opinião dos responsáveis e dos homens que lá trabalham.

No aspecto social, a melhoria das condições de vida e a promoção das gentes têm sido objecto dos cuidados governativos, achando-se em curso ou planeado um vasto programa de realizações. Escolas primárias, a conclusão do liceu, a criação de secções liceais, a fundação de uma escola técnica, o apetrechamento do hospital central e a construção de um esplêndido e grande .bairro social nos arredores de Bissau são, entre outras, peças desse generoso processo de valorização. Faltará, talvez, encarar, com urgência, a organização gimno-desportiva, para revigoração da saúde física e moral da sua juventude.

Interligado com o económico e o social surge o que me pareceu o ponto mais deficiente, o turístico, quando há tudo a aproveitar desta hodierna modalidade de exploração industrial numa terra para o efeito de perspectivas inigualáveis. Quase toda a Guiné é um jardim. A ilha de Bissau, o ilhéu Del-Bei, e quase todas as ilhas do arquipélago de Bijagós podem ser o paraíso turístico da África, com o oferecimento de paisagens mimosas para repouso dos olhos e do espírito, com extensões fecundíssimas de caça e águas propícias para os desportos náuticos e a pesca.

A construção de um hotel em Bissau e de duas pousadas, uma em Bolama e outra em Butaque, inauguraria uma era de fortuna neste interessantíssimo sector da sua vida económica e social.