dade pública, reduzida a um trabalho individual e silencioso, ser a mesma que declara só estar aqui porque esta é uma Assembleia política. Pode parecer paradoxal, mas não é.

Foram, com efeito, motivos de natureza política os motivos que me determinaram a aceitar este mandato. Não o aceitei, nem me dispus a cumpri-lo, no plano do interesse local, do interesse de classe ou do interesse de grupo. Não pertenço a grupos: católica e portuguesa, não quero ser mais nada.

Todos estamos de acordo quanto à natureza e à imutabilidade desses ideais. É inútil e redundante insistir neste ponto. A nossa política - pelo menos a que me trouxe a esta Casa - resume-se numa palavra apenas: Portugal.

Sr. Presidente: Repetimos è ouvimos repetir a cada passo que o País atravessa uma hora grave, de sacrifício e de luta. Os nossos olhos estão postos no ultramar português. E ali que neste momento pulsa num ritmo mais acelerado o sangue da Pátria: é ali que nos dói Portugal.

Ora eu desejaria ver com mais clareza traduzidos em factos esta dor e este orgulho, este amor ansioso de que andam cheios os nossos discursos.

Quando, ao sair desta Câmara, me confundo com a multidão anónima dos que regressam do seu trabalho, eu, que levo ainda o pensamento ocupado com os problemas ultramarinos de toda a ordem aqui debatidos, ou com os sacrifícios e heroísmos dos nossos soldados de África, aqui evocados, dou comigo a tentar imaginar o que sabe e o que pensa de tudo isso o português sem responsabilidades oficiais, sem formação ideologia profunda, sem uma larga visão de império, o português «sem metafísica», para usar a expressão consagrada de Fernando Pessoa ...

Os nossos discursos, se chega a lê-los, afloram-no à passagem du uma vaga inquietação ou de um vago entusiasmo - logo diluído nas preocupações do viver habitual.

Devemos esperar que um golpe doloroso, como aqueles que nos feriram em Angola e em Goa, venha de novo despertá-lo por momentos da vaga apatia, do sono burocrático, só agitado por algum frémito clubista? ... Decerto que não.

Como ir ao encontro desses todos para quem a vida é uma rotina quase insensível entre o pequeno trabalho e o pequeno prazer de cada dia?

Não será urgente, não será um dos esforços de guerra a que não podemos recusar-nos, essa tarefa de formar uma consciência colectiva, mais esclarecida e mais aguda, dos momentos de crise que atravessamos, da missão em que estamos há séculos empenhados?

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - A retaguarda moral, de que ouvimos instantemente proclamar a necessidade - e cuja existência é, com efeito, o mínimo que tem o direito de exigir de nós a esplêndida linha avançada dos combatentes -, essa retaguarda moral deve merecer de todos quantos têm neste país responsabilidades na informação e na formação o mais atento e escrupuloso esforço de fortalecimento.

Nunca a informação e a formação dispuseram de tão eficazes e extensos meios do trabalho como no nosso tempo.

A imprensa, a rádio, o cinema, a televisão, a viagem, são hoje poderosas forças que, se não forem aproveitadas a nosso favor, se voltarão implacàvelmente contra nós.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Transformada numa ciência nova, esotérica, com recurso à sociologia, à psicologia e à estatística - a informação arroga-se cada vez mais o direito de comandar a opinião e suprir até em muitos casos, junto das multidões, a falta de cultura profunda.

Decerto nos repugna a todos a pressão sistematicamente exercida sobre as consciências, a torção dada à realidade para a levar a servir pontos de vista falsos e posições interessadas. A manipulação do pensamento alheio, friamente comandada, sem respeito pela verdade, é uma das técnicas de aviltamento justamente denunciadas entre os mais graves perigos do nosso tempo.

Não queremos - nem precisamos de modo algum - adoptar esses métodos, até porque um ideal como o nosso só pode ser servido com as armas da verdade.

Mas, postos perante este facto - que a informação aperfeiçoa as suas técnicas e se torna cada dia um instrumento mais apto, pronto a servir todos os fins -, temos de estar prevenidos para fazer frente às investidas, sempre mais certeiras e extensas, que os nossos inimigos fazem contra nós, utilizando os novos meios, em campanhas de difamação sistemáticas e, pior ainda, num lento e subterrâneo trabalho de sapa, minando as nossas certezas e enfraquecendo, com dissolventes e emolientes, as energias morais de que necessitamos como nunca.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - O que queremos dizer é que a informação não pode ser hoje confiada a improvisadores levianos, a burocratas rotineiros, nem, sobretudo, a pessoas de formação duvidosa, sem ideal e sem dedicação à causa da verdade, que estamos empenhados em defender a todo o custo.

Vozes: - Muito bem, muito bem!