rito hoje t fio generalizado, que consiste numa ansiosa e quase mórbida preocupação de estar bem com Deus e com o Diabo ...

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - ... quando vejo estas coisas, entre outras, Sr. Presidente, sou levada a fazer algumas reflexões instrutivas e amargas.

Fiel às minhas preocupações políticas e ao pendor que me leva a pensar sobretudo em termos de formação, não componho u o entanto demagógicas invectivas contra a impotência ou a corrupção dos serviços ... Nem, a não ser quando um caso concreto qualquer me comove mais fundo, perco tempo a lamentar o sofrimento e a injustiça impostos às vítimas destes e de outros erros.

Não! O que penso é que esta gente está a ser sistematicamente deseducada. Deseducada pelos exemplos de indisciplina ou de incúria que recebe no dia a dia; deseducada, porque se habitua a ver quebrados os compromissos que assumiram para com ela e a ser tratada com desrespeito, como um rebanho passivo; deseducada, porque se encho de azedume impotente e porque vai desperdiçando assim, em arrelias e contratempos domésticos, a sua resistência e a sua capacidade de aceitação.

Deseducada, ainda mais, porque, ouvindo a cada passo falar dos sacrifícios que a guerra impõe, reconhece com amargura que nestes casos a única sacrificada é ela, e que o sen sacrifício, ainda por cima, nem era inevitável, nem tem qualquer utilidade para a grande causa nacional.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Eu sei que estes males, de um modo geral, são de «todos os tempos; que sempre a natureza humana foi a mesma e sempre a máquina administrativa funcionou mal. Mas também sei que raras vezes tivemos um programa tão exigente e rigoroso como neste regime; e quanto mais nobres e mais puros são os princípios, mais flagrantes se tornam os desvios cometidos. Os obreiros de um estado ético, fundado numa doutrina de superior beleza moral e de elevado sentido patriótico, têm responsabilidades graves a que não podem faltar sem se desautorizarem publicamente.

E poderá ser grande e terrível a amargura dos que se votaram de corpo e alma ao ideais, se depois os virem desfigurados e traídos na acção de todos os dias - e, o que é pior, transformados em capa de interesses vis ou em escudo protector contra todas as críticas e denúncias merecidas.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Penso nos mais puros e fiéis servidores, nos mais antigos, nos raros que têm consagrado a vida inteira à tarefa nunca terminada de assegurar o prestígio e a grandeza de Portugal. Mas penso também nos jovens: nos que chegam intactos, confiantes, implacáveis na sua exigência de pureza. Os jovens não aprenderam ainda a resignar-se: por isso não perdoam as desilusões que lhes dermos.

De um lado, o olhar lúcido e profundo dos homens da primeira hora, que medem desenganadamente a distância entre o que sonharam .para nós e o que nós fizemos do sonho; do outro, o olhar iluminado e ansioso dos jovens, um olhar que interroga, que espera, mas que não perdoa.

E t lido isto num dos momentos mais graves da nossa história, quando importa manter os Portugueses unidos, confiantes, livres de grandes ou pequenos ressentimentos que os desgostem da empresa comum - fundamento da nossa cultura e nosso destino insubornável.

Os descuidos e os erros administrativos de todos os tempos avolumam-se agora, como vistos através de uma poderosa lente de aumentar.

Nunca a palavra do Apóstolo me pareceu tão oportuna: «Sede sóbrios e vigiai.» Não há neste momento melhor palavra de ordem para aqueles que em Portugal detêm o Poder, sob qualquer das suas formas: «Sede sóbrios e vigiai.»

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Já disse que não sei falar senão daquilo que conheço.

Procurei na minha experiência pessoal alguns exemplos entre muitos, porque me pareceram poder servir de símbolo e de aviso. Extraio deles todos os dias as seguintes conclusões: quando um país está em guerra, só se devem pedir sacrifícios úteis e comuns a todos; não se deve dar o exemplo da falta de cumprimento do dever; não se devem criar motivos supérfluos de ressentimento e de mal-estar.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora:-Mas não basta uma crítica negativa. Não falemos apenas do que se não deve fazer.

Disse que as multidões simples, mergulhadas num dia a dia que as absorve, exigem, mais do que palavras, factos concretos.

E creio que aos órgãos de informação - informação e formação, duas coisas que não sei desligar - compete um papel de relevo no despertar das consciências adormecidas.

Eles estão nas condições óptimas para apresentar factos, realidades que, graças a Deus, não nos faltam, nem precisam de ser sofismadas.

Ao fim de um dia de trabalho, cerca de um quarto da população metropolitana instala-se diante do receptor da televisão. Basta ouvir, cada manhã, as conversas de eléctrico e de escritório, para sentir como o espectáculo da televisão representa um laço, um elemento de unidade de interesses, um terreno comum onde se encontram milhares e milhares de pessoas, do Minho até ao Algarve.

A Radiotelevisão Portuguesa, nos seus dez anos de vida, tem feito o que tem podido, o seu esforço é sem dúvida grande e meritório, e, no entanto, vive asseteada de críticas.

Eu confesso que tinha medo de assumir qualquer lugar de responsabilidade na direcção de um organismo que representa semelhante papel na vida portuguesa. Não desejo, portanto, reeditar essas críticas fáceis e levianas de quem está de fora e não conhece os problemas em profundidade ...

O que neste momento me interessa - no melhor espírito de colaboração - é perguntar se não seria possível reservar na programação daquele órgão informativo um lugar, não digo muito mais amplo, mas pelo menos mais vivo. directo e aliciante, às coisas do ultramar português.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

A Oradora: - E a pergunta é extensiva também ao cinema, onde as actualidades portuguesas pouco nos mos-