contra a invasão escandalosa de más revistas e jornais, quase todos importados, que alastra pelo País, sem poupar as províncias ultramarinas (porque os filhos das trevas são mais hábeis do que os filhos da luz ...) e que afoga à nascença as tímidas tentativas nacionais de imprensa juvenil mais digna e salutar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A Oradora: - Os princípios, também neste caso, não nos faltam e nem sequer se limitam a puras posições teóricas: temos uma lei que regulamenta as publicações para jovens; temos até uma comissão nacional encarregada de fazer cumprir essa lei. A máquina está montada: falta apenas pô-la em funcionamento.

Mas o esforço de repressão não basta. É preciso criar alguma coisa. É preciso concitar esforços, impulsionar iniciativas, que já existem, louváveis e esperançosas, mas parciais e desarticuladas.

A Mocidade Portuguesa Feminina é neste momento em Portugal a única entidade empenhada em manter, a troco de muitos sacrifícios, uma imprensa juvenil formativa de larga expansão. Quanto ao jornal infantil da Mocidade Masculina Camarada, extinguiu-se há meses, depois de se ter debatido com dificuldades inexplicáveis. Era, na modéstia dos seus recursos, o único onde os nossos rapazes até 12 anos encontravam, com uma apresentação gráfica impecável, leitura adequada, formativa sob todos os pontos de vista. Acabou não se sabe porquê.

E - caso singular - acabou pouco depois de o termos, visto na excelente exposição «Juventude Ameaçada» que a mesma Mocidade Portuguesa apresentou no Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, e onde a representação portuguesa de boa imprensa para novos era já extremamente pobre, reduzida quase só às publicações daquelas duas organizações nacionais.

Note-se ainda que esta boa imprensa da Mocidade Portuguesa e da Mocidade Portuguesa Feminina tem, aliás, pela força das circunstâncias, uma acção restrita apenas aos centros escolares.

Revista que inunde as nossas províncias do Minho a Timor, estabelecendo laços de intercâmbio vivido entre os moços portugueses de todas as latitudes; que lhes fale do que os entusiasma- desporto, jazz, cinema, orientação profissional, actualidades técnicas e científicas, arte e literatura- e tudo impregnado de um subtil, mas límpido e seguro espírito cristão e português.

Estas realidades seriam apresentadas numa forma directa, com depoimentos dos próprios rapazes e raparigas, com inquéritos bem conduzidos, com imagens belos e expressivas - e tudo isto à escala do grande e vário país que é Portugal.

Perdoem-me ter sonhado alto. Os assuntos que dizem respeito aos novos só podem tratar-se assim, com esta paixão e esta capacidade de sonho.

Confio nos novos. Tenho razões para isso. Um exemplo basta: vi-os há anos na minha Faculdade organizarem, sob a orientação entusiástica de mestres queridos e respeitados, manifestações culturais de vários géneros: excursões de estudo, tardes de poesia, até uma bela exposição iconográfica de arte medieval, integrada num curso de literatura portuguesa. E não esquecerei essas lições que nos deram - a alegria, a dedicação, a seriedade que puseram no trabalho ... O que é preciso é chamá-los, provar-lhes que confiamos neles, e dar-lhes, sobretudo - uma vez mais insisto neste ponto -, o exemplo da dignidade, a força inatacável da autoridade moral e intelectual e o estímulo de um interesse profundo e vivido pela tarefa comum.

Os jovens, assim chamados e conduzidos, serão os melhores colaboradores de todas as iniciativas destinadas a satisfazer os seus próprios anseios.

Acredito nessa revista nova para gente nova. Espero a todo o instante que ela surja. E estou certa de que não podem os departamentos de Estado afectos à informação e à educação manter-se por muito tempo indiferentes a esta lacuna que todos sentimos na formação dos jovens portugueses.

Mas, antes de terminar estas reflexões despretensiosas, há ainda um aspecto que não desejaria deixar de tocar.

Assistimos todos os anos, nas férias grandes, ao êxodo maciço dos nossos estudantes universitários, que vão frequentar cursos de férias ou campos de trabalho no estrangeiro, quando não vão, simplesmente, procurar uma colocação que lhes assegure lá fora a subsistência por um ou dois meses.

É um fenómeno do nosso tempo, extensivo à mocidade escolar de todo o Mundo, este fenómeno das migrações de férias.

A tendência acentuou-se de tal modo fios últimos anos que os jovens universitários que não saíram do País experimentam, ao reabrir das aulas, uma espécie de sentimento de inferioridade perante os seus colegas viajantes.

Na minha Faculdade, onde o fenómeno é particularmente sensível, a justificação é evidente, pois a viagem pela Europa aparece como complemento quase indispensável ao estudo prático das línguas vivas. O mesmo não se poderá dizer, no entanto, em relação a outros cursos - Medicina, Ciências, Farmácia, Direito -, pois as breves estadas de férias dão poucas oportunidades de contactos científicos valiosos. Não quer isto diz u r que neguemos o valor indiscutível da viagem como instrumento de formação cultural, independente de qualquer especialidades.