Mas gostaríamos de ver tirar melhor rendimento desses meses de férias, no sentido que nos vem ocupando da formação de uma consciência nacional mais compreensiva e esclarecida.
Quando vemos um adolescente de 19 anos, estudante de Direito, ir apanhar maçãs durante o mês de Agosto nos campos da Escânia (socorro-me neste caso de um exemplo verídico) e pensamos que esse jovem provinciano, matriculado na Universidade de Lisboa, não conhece do seu imenso país senão as ruas da vila natal e as árvores do Campo Grande; que não tem formação nem maturidade cultural que lhe permitam extrair conclusões úteis da sua breve experiência rural na Suécia entre jovens de todas as nacionalidades; que se limitará a ser nesse país, de que ignora tudo, a começar pela língua, um espectador divertido ou atordoado, sufocando as suas surpresas e escândalos de provinciano à custa de golpes de audácia que o comprometem ...
Quando pensamos nisto e imaginamos o que poderiam ter sido as férias deste rapaz no planalto da Huíla ou nas praias radiosas de Moçambique, ...
Vozes: - Muito bem!
A Oradora: - ... não podemos deixar de sentir uma ligeira, e decerto injusta, animosidade contra os pomares da Escânia, que assim nos arrebatam com os seus atractivos a juventude esperançosa e ingénua da província.
Alguma coisa se tem feito já - e uma vez mais cumpre dizer que à Mocidade Portuguesa Feminina e Masculina cabem, sobretudo, as honras da tarefa realizada -, alguma coisa se tem feito já no sentido de canalizar para as nossas províncias ultramarinas a juventude em férias.
Eu própria tive a fortuna de participar há muitos anos num cruzeiro organizado pela Mocidade Portuguesa Feminina - que me deu a oportunidade rara de visitar as nossas províncias de África. Sei, pois, por experiência, quanta importância pode ter aos 20 anos essa palpável, iniludível, realidade, posta diante de nós, a transformar em terra, em gente, em vida e em amor as noções frias e estreitas dos compêndios de história e geografia.
Vozes: - Muito bem!
E já agora: que também os nossos cursos e campos de férias para estudantes estrangeiros se fossem estendendo progressivamente às províncias ultramarinas; que os levássemos para as novas Universidades de Angola e Moçambique e lhes facultássemos o contacto com essa realidade, que nos seus países tantas vezes lhes apresentam [...ilegível]
Portugal é tão grande - e a nossa visão de vida portuguesa continua tão estreita, tão mesquinha, tão reduzida à esquina do Chiado e aos mentideros do Rossio ...
Vozes: - Muito bem!
A Oradora: - Quando se nasceu num país como o nosso, é preciso aprender a olhar para longe, longe no espaço, longe no tempo. É preciso demolir as pequeninas construções estanques e provisórias de que atravancámos a nossa vida - e abrir, a golpes de coragem e de fé, terreno onde lancemos os arrojados fundamentos que hão-de suportar o edifício do futuro.
Sr. Presidente: Reparo que me alonguei demais.
E não disse coisas novas, nem propus soluções revolucionárias: as linhas de rumo estão traçadas, o que importa é segui-las sem desfalecimento.
Já que falei tanto, oxalá tenha ao menos deixado bem clara a intenção que ditou estas palavras. Essa intenção é recta, leal e simples: é apenas o desejo de ver traduzido em realidades do viver quotidiano o sentimento profundo e sagrado da responsabilidade que a história impôs aos portugueses do nosso tempo.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
A oradora foi muito cumprimentada.
O Sr. Presidente: - Sr. Deputados: Só agora, ao reparar para o relógio, verifiquei que tinha deixado a oradora transgredir o Regimento. Absorvido como estava, perdi a noção do tempo. E não peço desculpa a VV. Ex.ªs porque creio que lhes aconteceu a mesma coisa.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Sr. Braz Regueiro: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: E a primeira vez que peço a palavra neste areópago político, pelo que são para V. Ex.ª, Sr. Presidente, os meus melhores cumprimentos de admiração e respeito.
Respeito pelo homem probo e pelo professor ilustre e admiração pelo seu poder de decisão, firmeza de princípios, coragem moral, capacidade de trabalho, espírito, de sacrifício e isenção inatacável.
Aos ilustres Deputados desta Assembleia apresento também os melhores cumprimentos de fraterna amizade e a promessa de sempre leal colaboração.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Minho é o jardim de Portugal, classificação que com verdade e justiça calha bem a essa formosa província, das mais coloridas e pitorescas, das mais tradicionais, das mais populosas e das mais activas, «berço onde se embalou a nacionalidade portuguesa».
Terra de gente boa e hospitaleira, presente sempre nos momentos das grandes crises nacionais, vivendo a cultivar a tenra na tranquilidade bucólica da paz e, de fugida, descansando e dormindo embalada pelo vaivém das ondas do mar, que, como ainda este Inverno se verificou, ou tudo lhe dá, ou tudo lhe leva.
Como já foi dito, a história do País é a história do Minho, já que aqui se iniciou a autonomia do velho Condado Portucalense. O Minhoto traz no peito, como em simbiose, o génio celta e a alma grega: é fecundo e emigrador.
Pelas sete partidas do Mundo se distribui o Minhoto.
Noutros tempos, quando a miséria era factor determinante da emigração, o Minhoto procurava o Brasil, terra irmã, de todas a anais querida, onde se vivia - e vive