Da nossa pouca capacidade forrageira resultam produções unitárias agrícolas extraordinariamente decrescidas. Assim é que a produção média de trigo, que no decénio de 1950-1959 se situava em 849 kg por hectare, baixou no quinquénio seguinte, de 1960-1964, para 784 kg.

Com tão pouco gado como é aquele que possuímos, jamais pode haver trigo abundoso. À nossa terra enfraquecida falta-lhe a matéria orgânica, em suficiência, que a revigore.

A quantidade estimada de estrume por hectare de que se dispõe é de õ t, e no distrito de Beja, de triticultura intensa - 75 por cento do P. B. de cereais no P. B. de vegetais -, não se tem mais do que 1 t.

André Gros dá tanto valor ao estrume que incita, nos seus escritos, os agricultores a produzi-lo ao máximo nas suas explorações; e para isso diz ele «ser preciso produzir mais palha e mais forragens, o que equivale a aumentar a produção de todas as colheitas cerealíferas».

Em Ravena, na Itália, o que é citado por Parisi, quando a produção de trigo era de 1 t por hectare, a densidade bovina por quilómetro quadrado oscilava pelas 37 cabeças, tendo subido para 63 cabeças, em paralelo com a produção mais alta de trigo, elevada para 2,7 t.

Nós não devemos continuar com o gado e os cereais seguindo caminhos diametralmente opostos. O paralelismo italiano é que está certo.

As terras fecundas do Baixo Alentejo, com o seu potencial imenso, podem, assim o queiramos, seguir o traçado conseguido em Ravena.

Até aqui elas têm sido subordinadas, por mor de circunstâncias varias, a uma monocultura cerealífera intensa, que, como todos os ciclos de monocultivo, também chamados, com propriedade, de «economia desequilibrada», tem sido nefasto factor de empobrecimento do agro regional.

E que assim é, provam-no as dificuldades sem conta que atormentam a lavoura alentejana, quase toda ela amarrada aos grilhões da dívida, a multiplicar-se teimosamente em cada ano que passa; os paliativos que de quando em vez lhe eram ministrados, longe de atenuarem a maleita, acabavam sempre por a exacerbar.

O remédio precisa de ser drástico e imediato, e estamos confiantes em que assim será, se as virtualidades, que são muitas, dos diplomas recentes do sector da economia tiverem inteira e franca realização.

Um sequeiro intensificado, tanto quanto o pode ser por um perfeito equilíbrio agro-pecuário. e um regadio largamente dimensionado, tais são, em nosso entender, as coordenadas que nos hão-de levar ao objectivo, que é forçoso atingir, e quanto antes.

Nós sempre acreditámos no regadio. E quem não acredita nele?

É de um lavrador destacado, que teve papel de grande relevo nesta Assembleia, este ditame: «as obras de hidráulica agrícola tornam-se indispensáveis para se poder avançar para um futuro melhor».

E de um outro da minha região, que aqui também já teve assento: «terra aonde chega a água é terra enriquecida».

E Salazar, na agudez da sua percepção, considera «a água não só o factor de produção mais certo e económico, mas a saúde da gente, o trabalho intenso, o sangue, e a vida da terra».

Na América, diz Raymond Cartier que «a agricultura extensiva recua cada vez mais diante da agricultura irrigada».

No regadio de Badajoz «o produto médio bruto das antigas explorações de sequeiro, que era de 2000 a 3000 pesetas por hectare, subiu depois da rega para 22 000», na afirmação do engenheiro agrónomo Alejandro Martin.

Mas atente-se que não chaga, quando se pensa em regar, olhar só para a água, pois há também que olhar, e muito, para a terra, e isso é que nós precisamos de fazer, e já, para que o nosso regadio se imponha e acredite.

Se assim se fizer, estamos em crer que todos o compreenderão e o terão por bem.

Diz o ilustre catedrático francês Jules Milhau, a propósito do seu regadio de Languedoc, que «as resistências opostas a toda a realização humana, a toda a inovação, acabam por ruir mais ou menos rapidamente. Para qu e se verifique progresso é necessário muito tempo, e indispensável boa vontade a muita fé por parte dos homens que se devotam a esse progresso».

Ora o Alentejano, com excepções que só confirmam a regra, também quer progredir, e para isso não lhe falta a vontade e a fé, se estiver confiado.

Com as culturas regadas, e na medida em que nunca menos de 50 por cento da área de implantarão deve ser entregue à produção forrageira, assim havemos de ter por todo o Alentejo uma maior densificação pecuária que, para além do alteamento da fertilidade da terra, contribua com largueza para o revigorar do homem, que este é o fundamento primeiro da existência do gado.

A dieta humana só é perfeita se contiver em quantidade, os alimentos de origem animal, que pela sua excelência são justamente titulados da «nobres». A sua proteína é absolutamente indispensável ao justo equilíbrio fisiológico. Mal vai ao homem quando a não consegue obter em suficiência e ao país sujeito ao seu sub consumo.

«É na alimentação adequada, e não na bomba atómica - assim o dita a espiritualidade de Pearl Buck -, que reside a resposta a como sobreviver neste mundo de fome».

Com a sua autoridade, Josué de Castro afirma que «nenhum factor do meio actua sobre o homem de maneira tão despótica, tão marcante, como o factor alimentação».

E como sabemos, e Schiler o proclamou, «a fome e o amor dirigem o Mundo».

Graças a Deus que o nosso país não conhece a fome de subnutrição, mas sente a fome oculta ou específica, sobretudo por carência proteica, que é sempre «uma calamidade dos grupos humanos mais civilizados».

O nosso padrão alimentar, dissemo-lo em trabalho recente, todo ele está errado. A capitação anual de carne, de 18.349 kg, situa-se no couce da sequência da dos países europeus, em muitos deles indo para cima dos 50 kg. E no que respeita «o leite, considerado a pedra de toque da saúde e robustez de um povo, a capitação expressa-se em duas colheres de sop