Outro aspecto, este não das despesas mas das receitas que a guerra nos traz.

Os imponderáveis de valor anímico, que vêm acrescentar-se e dinamizar oportunamente as novas gerações, que pareciam tender nacionalmente a um envelhecimento precoce.

Esses invisíveis não se contabilizam, infiltram-se através do materialismo opaco dos números, mas nem por isso deixam de ser ofuscantes ao máximo.

Lembremos a propósito o P.e António Vieira do sermão de 1645 pelo bom sucesso das armas portuguesas, quando, para além do corpo da milícia, exclamava: «Alma dos reinos, principalmente em seus princípios é a opinião», e logo adiantava: «Dificultosa empresa em que não imos só conquistar as forças de um reino e muitos reinos, senão os juízos do mundo. Este ponto é o que nos deve pôr em maiores cuidados que a mesma guerra.»

Quanto à milícia, com tal autoridade me quedo.

Um aspecto fausto do incremento da área beneficiada, sobretudo com sementeira de penisco e plantação de eucaliptos e que desde 1930 subiu da ordem dos 23,500 ha para a dos quase 250 000 ha, em 1964. Isto sobretudo desde a execução do Plano de Fomento. Outro, menos fausto, o aspecto quanto à receita ordinária já decorrente desse serviço. Com efeito, existindo em 1948 cerca de 44 000 ha arborizados, a receita da sua exploração não vai além de 40 000 contos, não chegando para pagar as despesas ordinárias, que nesse ano passaram de 44 000 contos.

Nesses modelares serviços do Estado; quanto à técnica dos investimentos, há qualquer coisa que sob o ponto de vista da comercialização dos respectivos produtos não está actual, que não é possível concretizar, suficientemente, mas para o que o relatório chama justamente a atenção governativa, e nós com ele!

Lembramo-nos sempre como o Dr. Marnoco e Sousa nos ensinava de quanto rendimento a Prússia ao tempo tirava das suas florestas estatais.

Prossegue este plano grandioso, e de perspectivas reconfortantes pela presumida improdutividade, a sua realização, e assim se verifica, gastos nele, de 1962 a 1964, mais de 422 000 contos.

Amorteceu neste último ano em relação ao anterior o ritmo de investimentos, em cerca de 37 000 contos. Decerto que a necessidade de se acudir a mais urgentes despesas o determinou.

Isto não impede que seja da maior utilidade não esmorecer neste empreendimento, em que, embora o aspecto de rendabilidade, porque agrícola, não venha a vislumbrar-se espectacular quanto a numerário, deverá ser importantíssimo do ponto de vista de uma solução demográfica nacional mais bem distribuída.

Recordo hoje aqui a posição que a propósito tomei - caudatário no caso do Sr. Eng.º Araújo Correia - antes da sua construção, no sentido da dilação desta para ulteriores calendas, ou seja, para quando se revelasse insuficiente um serviço devidamente actualizado de ferry-boats.

Hoje, factos consumados, não deixarei de encarecer os aspectos positivos que tão magnificente quão funcional obra pública nos acrescentou nacionalmente. Até sob o ponto de vista da sua estética, inserção na paisagem, a sua realização impõe-se a meus olhos como feliz, tanto na parte da renda do tabuleiro metálico como do viaduto de acesso norte, projectando-se visualmente em suave curva contra a colina da Ajuda.

Na margem sul o módulo desta construção teve até a vantagem de melhor integrar a figura vertical do Cristo no ambiente de horizontalidade da série de colinas em que se eleva, mediante a passagem de prumo da próxima torre de suspensão para a linha horizontal do respectivo tabuleiro.

Perdoe-se-me esta divagação. Isto sem falar de outros valores imponderáveis a tão momentosa obra ligados, como seja a da subestrutura financeira que a tornou possível e a que ela corresponde como diadema de uma época, e da competência técnica da engenharia portuguesa, a que eu presto alta homenagem na pessoa do Sr. Ministro das Obras Públicas, a cuja prestante e multímoda actividade o País tanto deve.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

sei lá, para cinco ou dez anos?

E essa economia não permitiria desde já instalar na ponte o caminho de ferro, aproveitando-se embora para o efeito provisoriamente as estações de Campolide ou do Rossio?

Que essa ligação ferroviária seja indispensável, quem o duvida? Além da sobrevivência das linhas transtaganas, quem põe em discussão paralela e marginal ao mar, mar-base das nossas fronteiras, a vertebral de Monção a Vila Real de Santo António, que pode finalmente atravessar, face a Lisboa, o fosso do Tejo?

Quanto à ponte, isto é história pregressa, mas creio merecer aproveitar-se a lição para futuro.

Os investimentos reprodutivos que este porto nas suas perspectivas do próximo incremento comportam estão à vista de todos.

Basta ter observado os navios - dez ou doze, eu os vi! - que mesmo fora do porto anterior aguardam lugar para acostagem, para se inteirar da urgência do problema, já da terminação da primeira parte da 2.ª doca, já de logo se encarar o seu prolongamento previsto. Isto sem falar da parte do porto a acrescentar para o tráfego petroleiro, que se terá de processar de outra sorte.

Estes investimentos são daqueles que directamente e indirectamente melhor devem aproveitar à economia de todo o norte do País, ergo nacional.