Tendo tomado conta da reitoria da capela da Universidade, é nomeado um ano depois, em 1935, assistente do Centro Académico de Democracia Cristã. Como entrei para o Centro Académico de Democracia Cristã no ano lectivo de 1933-1934, estou em condições especiais para dar testemunho da incisiva, ampla e benéfica influência exercida pelo P. Trindade Salgueiro no meio académico.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O momento era, de resto, particularmente difícil, mas as circunstâncias adversas cederam perante o tacto e a autoridade de quem soube merecer a confiança da juventude, cujos problemas e anseios compreendeu e viveu na plenitude de um apostolado intenso, esclarecido e cordial. Quando se fizer a história dessa acção e se estudarem as repercussões que teve e ainda tem na vida católica portuguesa e mesmo na nossa vida pública, há-de concluir-se que esse foi dos mais relevantes serviços prestados pelo Sr. D. Manuel a Igreja e à causa da formação da juventude.

Vozes: - Muito bem!

justíssima manifestação do elevado apreço em que Pio XII - um dos maiores Papas da Igreja - tinha a obra e os atributos do grande auxiliar do Sr. D. Manuel Gonçalves Cerejeira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mais tarde, em 1955, D. Manuel é nomeado arcebispo de Évora, diocese em que a sua fé, cultura, experiência e as suas excelsas qualidades operaram prodígios, concorrendo poderosamente para a expansão e consolidação da mensagem cristã no Alentejo, tão afectado pela falta de instituições religiosas e de clero, mercê de erros graves de um sectarismo político estreito que, ao longo de mais de um século, se empenhou em fazer secar as nascentes mais puras da vida autêntica da Nação.

E não foi por mera coincidência que D. Manuel haveria de assistir ao restabelecimento do centro universitário eborense, ele que, frequentes vezes, apontou, com mágoa, a descristianização da região transtagana, tornada, em consequência da lei do banimento e proscrição de 1834, «sob o aspecto cristão, desolada charneca do espírito».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Acentue-se ainda que foi nomeado por João XXIII membro da Comissão Pré-Conciliar do Apostolado dos Leigos, tendo sido depois eleito para a Comissão de Disciplina do Clero e Povo Cristão e para a subcomissão incumbida da distribuição do clero.

Agraciado com as mais altas condecorações do Governo Português e da Santa Sé, D. Manuel Trindade Salgueiro tomou ainda parte activa em vários congressos e reuniões nacionais e internacionais e visitou as colónias de portugueses nos Estados Unidos da América, nelas conquistando enorme e perdurável prestígio.

A Universidade de Coimbra fê-lo doutor honorís causa e prestou-lhe, aquando da imposição das insígnias, homenagens que se revestiram de excepcional significado. Era membro da Academia das Ciências de Lisboa e foi sócio fundador da Academia Internacional da Cultura Portuguesa.

Escritor de extraordinário mérito, para ele a nossa língua não possuía segredos, de tal maneira dominava e a plasmava numa prosa tersa, formosa, cristalina, toda ela verdadeira antologia. Quem não conhece, por exemplo, os livros valiosos, a todos os títulos, Papel da Vontade na Educação, Pureza e Sensualismo, Mensagem Cristã: Jesus, Frei João de S. Tomás, Pio XII o a Acção Católica, que, com as pastorais, sermões, elogios fúnebres e discursos, com os editoriais e notas na imprensa e com muitos outros trabalhos de diversa índole, constituem obra assombrosa pela riqueza do conteúdo, pela significação moral e pela beleza da forma?

Na multiplicidade dos seus recursos e das suas preocupações, debruçou-se ainda sobre os mais variados problemas, sendo curioso referir o interesse que consagrava ao desporto, a ponto de não esconder a sua simpatia pela Associação Académica e a sua satisfação pelas vitórias internacionais do Benfica.

Merecem aqui registo especial os apelos impressivos que, repetidamente, fez a favor da resolução dos problemas do trabalho no Alentejo, e é para mim dever de gratidão recordar o apoio e o carinho com que me estimulou na execução de tarefas, então nem por todos compreendidas, a que, por imperativo de função e de consciência, tive de me votar quando sobracei a pasta das Corporações e Previdência Social.

Como ninguém, amava e acompanhava na sua vida e nas suas aspirações a gente do mar, à qual dirigia, em encontros simples, ou em cerimónias solenes como a da partida dos pescadores para os bancos da Terra Nova, palavras admiráveis pelo espírito social e pelo valor literário. Quando, há anos, na Igreja do Senhor de Matosinhos, fez o elogio fúnebre de algumas dezenas de pescadores tragados pelo mar, de tal forma o seu coração chamou a si a tragédia e a sua voz atingiu culminância tão patética que a oração teve de ser interrompida por momentos, dominada, pelo choro convulsivo das viúvas e dos órfãos, idêntico - lembro-me bem - ao sibilar dos ventos tempestuosos de mistura com o fragor das vagas na penedia. Era o padre, era o pai que falava do drama dos