Nada mais pernicioso ao seu desenvolvimento do que deixarmos a quem nos visita a vincada recordação dos incómodos e até dos prejuízos proporcionados pelo pavimento desmantelado e agressivo de uma estrada.
Mas, como já tivemos ocasião de referir, a acção desenvolvida pelas Direcções de Estradas não pode solucionar o problema que se lhes depara no troço da estrada de que vimos falando. As providências tomadas constituem apenas uma demonstração do zelo e do desejo de bem cumprir.
Admitindo que os próprios responsáveis pela direcção dos serviços reconhecem a validade desta asserção, permitimo-nos preconizar a necessidade de se levarem a efeito, e com a maior urgência, obras de grande reparação.
Por outro lado, não nos consta que elas estejam previstas ou incluídas em qualquer plano da Junta Autónoma de Estradas.
Aqui residem as nossas preocupações e o receio de que a demora na elaboração de projectos e estimativas conduza a uma situação insustentável.
Sabem os também, e não desejamos menosprezar o facto, que nem sempre as dotações estaduais, no momento presente, podem dividir-se e acudir às necessidades dos variadíssimos sectores da governação, mas até que alguns, no interesse nacional, exigem evidente primazia.
Contudo, dentro das limitações que nos são impostas pela força das circunstâncias., sempre nos fica a esperança de que o Governo, através do Ministério respectivo, possa, extraordinariamente, fazer face a uma situação de emergência.
É nesta convicção que nos dirigimos a S. Ex.ª o Sr. Ministro das Obras Públicas, pedindo-lhe, instantemente, um pouco do seu precioso tempo para atentar nas condições em que se encontra aquele troço de estrada nacional.
Estamos tão habituados a beneficiar largamente da sua acção pronta e decisiva e da justiça com que sempre protege as pretensões que se levantam por esse País além que também agora nos fica a certeza de que a nossa terá igual acolhimento.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
Vila Meã, da freguesia de Campanhã, da cidade do Porto, encaminhado por seus pais para a carreira eclesiástica, e tanto assim que chegou a frequentar cadeiras chamadas de preparatórios, a breve tempo reconheceu que lhe falhava a vocação, mas não lhe falhava o desejo de triunfar na vida. Atraído pelo Brasil, como tantos rapazes do seu tempo e como era próprio das famílias da sua região, para lá embarcou. E tal era o seu apego a essa decidida e real vocação que, tendo naufragado nos arredores de Lisboa a barca em que ia embarcado, nem por isso desistiu de tentar fortuna nas terras do Brasil, fortuna que breve lhe sorriu por negócios montados aí e na Argentina e por força das relações estabelecidas através da mulher com quem se consorciou e de quem a breve trecho ficava viúvo.
Regressado à Pátria, Joaquim Ferreira dos Santos suspendeu a sua actividade de comerciante para iniciar a sua bela e exemplar carreira de benemérito, e encontrámo-lo então a socorrer todo o necessitado e, como capitalista, a acorrer mesmo, quando necessário, em socorro do próprio erário público. Tudo isto por força da mesma vontade que o havia lançado a caminho do Brasil, que o havia atraído a actividades várias, algumas mal compreendidas e que têm levado, inclusive, a caluniá-lo, tudo isto para realizar aquilo que hoje podemos, e devemos com imparcialidade absoluta, chamar de missão. A missão do conde de Ferreira iniciou-se, após o seu regresso à Pátria, com o socorro levado a todo o necessitado, iniciou-se até com benemerências extremas, de que colheram directa influência e grandes benefícios instituições de caridade de Portugal e Brasil. Mas, sobretudo, onde foi bem definido esse espírito de missão, onde ele ficou exaltado, foi nas suas decisões finais. A primeira possibilitou um plano de construção imediata de 200 escolas primárias a cobrirem todo o território português; 200 edifícios escolares, cada um com a sua construção anexa destinada à habitação do respectivo pr ofessor; 200 escolas primárias que custaram nessa altura 144 contos fortes; 200 escolas primárias - ele o dizia na «deixa» do seu testamento, em que consignava aos testamenteiros essa obrigação- através das quais seria possível levar instrução e educação aos meios que delas mais careciam. E também ensinava que era possível rasgar novos horizontes aos métodos pedagógicos. Efectivamente, a pedagogia ficou a dever uma lição ao conde de Ferreira, pois era da sua determinação que junto do edifício escolar se construísse também, como disse, a residência do professor, para assim ser possível manter uma convivência permanente do mestre com os alunos, alargando-a mesmo ao próprio lugar onde exercia o seu ministério. Mas para além dessa benemerência sem par, uma outra lhe ficámos a dever, e essa representada materialmente pelo legado de 1200 contos fortes, que permitiram à Santa Casa da Misericórdia do Porto construir o hospital modelo que tem o seu nome, o Hospital do Conde de Ferreira, que ainda é, no nosso tempo, instituição modelar das casas de assistência e nem mais nem menos que a materialização de um acto de caridade, acto de caridade porque foi um acto de verdadeira e cristã caridade num tempo em que as fontes de caridade não tinham sido estancadas e nada parecia concorrer para isso. No entanto, esse Hospital também já conheceu maus dias com o advento de um regime que pretendeu subtraí-lo à posse e administração directa da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Passaram os maus dias e o Hospital do Conde de Ferreira, prosseguindo a sua missão, manteve-se em plena actividade, sempre integrado na Santa Casa da Misericórdia do Porto e debaixo da sua administração directa. Assim tem sido mantido, nesse como através de outros estabelecimentos da instituição, o espírito do secular compromisso da irmandade, que é o mesmo espírito do velho compromisso da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa