e em tudo corresponde à vontade da excelsa rainha D. Leonor. Espírito de abnegação, de sacrifício, a própria caridade em acção, livre na maneira de exprimir-se, eficaz na sementeira de benefícios!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - O conde de Ferreira, quando se lembrou de instituir a Misericórdia do Porto como sua herdeira, logo juntou o seu nome aos dos maiores beneméritos da Santa Casa, que foram D. Lopo de Almeida, nos fins do século XVI, e Manuel Fernandes de Calvos, o rico de Ormuz, nos princípios da centúria seguinte.

E assim decidiu por directa influência de D. Pedro V, como a tradição nos diz e passo a referir.

A convite dos promotores da primeira grande exposição agrícola realizada no País e com o propósito de a inaugurar, visita de novo a cidade do Porto, no mês de Agosto. de 1861, aquele que foi, não apenas o monarca estremecido de todos os seus súbditos, mas ainda o monarca bem amado dos Portuenses. E o jovem monarca D. Pedro V sentou então à sua mesa, no Palácio dos Carrancas, os titulares que estavam fixados na cidade, contando-se entre eles o conde de Ferreira: e bem relevado lugar reservou D. Pedro V a este seu hóspede, pois só lhe antepôs o marquês de Monfalim.

O jovem monarca, sempre lembrado daquela "pressa de ser útil" que confessava logo ao ser entronizado, não desejaria que lhe escapasse a oportunidade oferecida por aquele encontro com o conhecido e comprovado benemérito. E quer a tradição que D. Pedro V tenha apelado, durante o ágape do já então palácio régio, para a comprovada generosidade e coração aberto do conde de Ferreira, lembrando-lhe que a Porto bem merecia uma casa de assistência para os doentes mentais e que dela estava carecida a cidade.

Correspondendo a esse apelo, o conde de Ferreira, como referi, dotou a Santa Casa da Misericórdia do Porto com os meios financeiros indispensáveis para a construção do grande hospital que hoje tem o seu nome.

Tudo isto sucedia num tempo, aferido pela escolha dos séculos, em que nada fazia estancar as fontes da caridade. Nem a má compreensão, nem as influências nefastas ou propósitos de interferência escusada e dispensável. Nossa Senhora da Misericórdia, de manto aberto paira agasalhar os necessitados e para os furtar às curiosidades da bisbilhotice, frisou, era não só a padroeira excelsa de todo o que sofria no corpo e na alma, como também á padroeira de todos aqueles a quem Deus permitia socorrer o próximo, através da sementeira de bens materiais. Não foi outra a padroeira excelsa do benemérito conde de Ferreira.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Elmano Abres: - Sr. Presidente: Referi-me na minha apagada intervenção da semana finda a dois factos de transcendente importância para o Centro e Sul do País - a inauguração da ponte sobre o Tejo, marcada com a devida antecedência para 6 de Agosto, e a elaboração do plano director de desenvolvimento urbanístico da região de Lisboa, cuja entrada em vigor não sabemos para quando será relegada.

A ligação contínua entre as duas margens gera automaticamente uma ainda mais intensa expansão urbana na margem sul. Basta dizer que só a aglomeração de Almada, que em 1960 andava pelos 55 108 habitantes, rondará hoje pelos 70 000, e o plano director, numa previsão aliás modesta, fixa em 100 000 o cálculo da sua população para 1985. É uma nova cidade-dormitório, cujos habitantes trabalham em Lisboa e vão descansar na outra banda. À sua semelhança outros núcleos de desenvolvimento, embriões de novas pequenas cidades, sentem já o estremeção violento da explosão demográfica lig ada, à industrialização rompante.

E, assim, em boa lógica, e não menos sã política de espaço, entendemos que a aprovação final do plano director e o conhecimento exacto do seu definitivo conteúdo normativo por parte dos responsáveis pela sua execução nos vários escalões do planeamento deveriam preceder a própria abertura ao tráfego da ponte que motivou a elaboração do plano.

A ponte é meta de chegada. O plano é ponto de partida. Antecipámo-nos na chegada. Oxalá não partamos com atraso para a execução do planeamento.

Vozes: - Muito bem!

de Xira - e ao longo da margem sul e núcleos isolados, entre os quais se releva a cidade de Setúbal.

A restante fracção de 10 por cento dispersa-se pelo conjunto do território de forma menos ordenada.

Mas não é só a população que se adensa na capital. Convergem nela, por igual, os recursos da Nação. E assim, segundo o inquérito industrial do Instituto Nacional de Estatística de 1959, as actividades industriais da região atingiram uma produção de 18 milhões de contos, em 44 milhões do total do País, o que significa a concentração nesta área de 30 por cento do emprego e de 41 por cento da produção do continente português.

Por isso o primeiro grande problema que o plano director procura atacar é o do crescimento incontrolado da capital, gerador da concentração excessiva da riqueza, dos recursos financeiros, técnicos e humanos do País num único pólo de desenvolvimento. Problema cuja outra face é a depressão do restante espaço fora da incidência imediata do factor Lisboa.

Para contrariar a tendência que canaliza no sentido da cidade os serviços e as indústrias - as fontes de trabalho mais bem remunerado -, tendência que é responsável, em larga medida, pelo êxodo rural e pelo alargamento das depressões demográficas nas áreas interiores da região, preconiza o plano uma vigorosa política de descentralização e de reconcentração das populações, que tendem a dispersar-se inorgânicamente.

Assenta essa política no fomento de alguns novos pólos de atracção demográfica que possam ter a maior autonomia possível em relação à capital. De entre esses novos