serviços que a apoiam e completam, as quais espectacularmente transformem a economia desta modalidade de transporte.

Portanto, e em futuro não longínquo, teremos novas possibilidades, novas técnicas e novos métodos de defesa!

A marinha mercante vive, como sempre, num vaivém de problemas, num permanente ajustamento de soluções às surpresas que enfrenta - derivadas, com frequência, da política, da economia, do social, etc.

Já hoje se afirma que a concentração do armamento, a indispensável adaptação e amplitude das instalações portuárias a novas modalidades, o gigantismo dos navios particularmente para a carga a granel de líquidos, a automatização, o uso de containers e tantas outras novas modalidades da indústria dos transportes, algumas das quais em vias de ensaio, virão a provocar no domínio dos transportes marítimos uma verdadeira revolução, de tal modo que a marinha de comércio se encontra no limiar de novos rumos.

A despeito da crise, verifica-se: o aumento da tonelagem mundial da marinha mercante, que já totaliza cerca de 150 milhões de toneladas; o incremento da construção naval; a acumulação de navios em determinados portos, por vezes com limitadas possibilidades de assistência e resultantes agravamentos nas estadias; enormes encargos com a baldeação, a estiva, a desestiva e a manutenção dos navios; aumentos dos salários do pessoal de terra e navegante. Entretanto, surgem graves problemas de ordem social, política, económica e técnica, que se reflectem na actividade da marinha mercante e criam no mundo marítimo novas preocupações, originam mais dificuldades e encargos ou avolumam de tal maneira os existentes que para a indústria sobreviver ou não se entregar inteiramente à protecção estadual terá de procurar, de facto, soluções de técnica avançada e de forte economia no custo global do transporte, a fim de que, através delas, possa fazer face aos aumentos sucessivos de encargos.

Tais soluções, porém, exigem grande dispêndio de capital, e este, embora recuperável, não pode ser aplicado se não existir e se não se dispuser dele.

Sr. Presidente: Se passarmos à apreciação da marinha mercante nacional, verificamos que a nossa frota, no princípio do corrente ano, quanto à idade, se repartia da seguinte forma:

[... ver tabela na imagem]

Estes números mostram a necessidade da actualização e ampliação da frota. Mas nem uma nem outra são possíveis sem muito capital, muito crédito e intenso apoio governamental.

No sector do armamento, exterioriza-se por vezes a opinião de que é necessário considerar, não apenas as carreiras regulares com o ultramar, mas sim toda uma política de marinha mercante. É assim mesmo, sem dúvida! Mas há que saber escolher, em face das circunstâncias de momento, o que mais convém ao País e o modo do o levar a efeito.

As carreiras marítimas para o ultramar, à parte o aspecto essencialmente político da ligação entre as diversas parcelas do território português, do estreitamento dos seus laços, do revigoramento constante da sua união, satisfazem a indiscutíveis objectivos económicos e têm, sem dúvida, decisiva importância nacional.

De entre as razões de vária ordem que justificam a existência das nossas carreiras marítimas para o ultramar há que destacar, além das que dizem respeito à defesa, as de carácter económico, que são, indiscutivelmente, bem poderosas.- Basta lembrarmo-nos de que sem as nossas carreiras de navegação para África não teríamos podido garantir as exportações da metrópole para aquele continente e as de lá para a metrópole; que nestas últimas estão incluídas matérias-primas indispensáveis à laboração das nossas indústrias e até géneros alimentícios, tão necessários ao abastecimento público; que o interesse do País e as prementes razões da integração económica do espaço português exigem hoje, mais do que nunca, ligações marítimas regulares e frequentes entre os portos nacionais metropolitanos e ultramarinos.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E não há que perder de vista, como é preceito legal, que, se a marinha mercante nacional não as puder realizar, teremos de recorrer ao pavilhão estrangeiro. Também não se deve esquecer o aspecto, já mais de uma vez focado, de termos podido valer com rapidez e em força a Angola e a outras províncias ultramarinas por possuirmos navios mercantes para essa tarefa.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Mas da indispensável prioridade nas ligações marítimas com o ultramar não se pode inferir que não seja da maior conveniência ampliar o volume do nosso tráfego marítimo com o estrangeiro, mesmo à custa de algum sacrifício. Efectivamente, quem quer que esteja familiarizado com os problemas da marinha mercante conhece as dificuldades que se defrontam no tráfego de concorrência estrangeira, particularmente quando nele não se comparticipa em força, com suficiente potencial para nos impormos, e sobretudo quando as cargas do tráfego em que se comparticipa são reduzidas.

Sr. Presidente: Como disse, no capítulo dos transportes regista-se um saldo negativo de mais de 1 milhão de contos.

Acrescentei serem complexos os problemas da marinha mercante e fiz umas pequenas notas sobre as situações das marinhas de comércio mundial e nacional.

Surge agora, naturalmente, a pergunta sobre o que há a fazer para reduzir o aludido saldo negativo.

E claro que o estruturar e manter a exploração eficiente de uma frota mercante se não consegue com simples comentários, nem se satisfaz com soluções orientadas ao sabor de qualquer ponto de vista pessoal, ou mesmo só com a iniciativa isolada do sector governamental. Torna-se indispensável, sim, a existência de navios, em qualidade e quantidade, forte apoio financeiro, fé e entusiástica colaboração dos intervenientes na actividade, isto é, o espírito compreensivo de todos. Portanto, há que mentalizar o nosso povo, desde o capitalista ao comerciante, ao marinheiro e ao trabalhador portuário, ao transportador terrestre adjuvante, ao carregador e até, embora pareça redundância, ao próprio armador. E será essa nova mentalidade que permitirá se compreendam melhor alguns sacrifícios mútuos, transitórios e inevitáveis.