dinamizadores do desporto nos dois países em 1960, ano em que se ajustaram e se realizaram pela primeira vez estes jogos no território de Portugal metropolitano.

Fica bem e é uma verdadeira expressão de justiça prestar agora a devida homenagem ao extraordinário homem do desporto que é o Dr. João Havelange, o abnegado presidente da Confederação Brasileira de Desportos e grande amigo de Portugal, que foi, em terras de Santa Cruz, o grande propugnador da realização destes jogos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ninguém como ele sentiu com tanta intensidade que sem esta competição desportiva haveria uma permanente lacuna no funcionamento da Comunidade Luso-Brasileira.

Homem inteiramente dedicado ao desporto e por ele lutando sem desfalecimentos, o Dr. João Havelange compreendeu - e compreende ainda - toda a gama de vantagens do intercâmbio desportivo entre Portugal e Brasil. E, porque vive esse nobre ideal, conseguiu torná-lo compreendido pelas autoridades portuguesas e brasileiras.

Mercê da sua poderosa intervenção, veio a Portugal em 1960 a primeira grande embaixada de desportistas brasileiros, que de norte a sul do País competiram em várias modalidades com os desportistas portugueses, deixando fortemente cimentado o inegável valor dos Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, que tão auspiciosamente assim se iniciaram.

Aprazados para se realizarem de três em três anos, coimo é sabido, coube ao Brasil organizá-los em 1963.

Não corriam muito de feição para nós as relações entre Portugal e o Brasil nesse ano já recuado ...

Contudo - e cumpre acentuar esse facto, que é especialmente significativo -, as autoridades e o povo brasileiro receberam tão cordialmente a embaixada dos desportistas portugueses que em muitas cidades do Brasil disputaram as provas desses segundos jogos desportivos, que se criou e ficou a perdurar um clima de compreensão da mais alta valia; o que não tinha sido conseguido pela diplomacia e pela política fora alcançado pelo desporto ...

E que em terras de Santa Cruz tem-se uma exacta noção dos grandes méritos e virtualidades do desporto ...

Os terceiros Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, que vão disputar-se este ano, a par de muitos outros motivos e razões para se lhes dedicar atenção e carinho muito especiais, têm ainda o dominante aliciamento de se não confinarem aos limites do Portugal metropolitano.

Efectivamente, eles terão por cenário os portuguesíssimos ambientes de muitas cidades das nossas províncias de Angola e de Moçambique.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Tal circunstância, pelo seu ímpar significado nas actuais condições em que temos de viver, representa uma forte afirmação de que a Comunidade Luso-Brasileira está cada vez mais fortalecida nos seus imutáveis mandamentos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - O facto tem necessariamente de nos causar a mais viva satisfação. Há que tirar todas as grandes conclusões desta prova dê fraternidade em que o Mundo repara, talvez invejoso de a não poder praticar como os Portugueses e Brasileiros o fazem dentro do pensamento dominador que nos vem da voz forte dos séculos ... que não pode ser esquecida.

Eu sei, Sr. Presidente e Srs. Deputados, que para corresponder ao transcendente significado deste invulgar acto de compreensão e de estima nada tem sido descurado entre nós e que a grande embaixada desportiva do país irmão, que teremos a honra de albergar no mês de Julho que se avizinha, vai ser recebida de corações alvoroçados com o calor com que costumamos acolher os entes mais queridos.

Congratulo-me com essa consoladora certeza.

O Brasil, que bem compreende as grandes razões da nossa irrevogável determinação de defendermos a lusitanidade, em que os próprios brasileiros comungam pelos laços indestrutíveis da ancestralidade de que tanto nos orgulhamos, vai certamente enviar-nos uma grande embaixada dos seus melhores atletas para competirem com os seus irmãos portugueses de aquém e de além-mar ...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nada, absolutamente nada do que se faça, será demasiado para demonstrarmos aos nossos irmãos brasileiros até que ponto lhes ficamos gratos pela sua vinda a Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aqui deixo os meus votos, que são certamente os votos desta Câmara, para que quando retornarem II sua pátria, a que tanto queremos também, finda que seja a sua visita de que já sentimos saudades, possam levar nas suas almas e nos seus corações a certeza de que os laços que unem a grande família luso-brasileira ficaram ainda mais fortalecidos.

É que a juventude desportiva de duas pátrias irmãs terá dado amplo, testemunho com estes importantíssimos jogos de que aio desporto e pelo desporto se podem servir com rara elevação as grandes causas da civilização que nos cumpre defender.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Mário Bento: - Sr. Presidente: Numa hora em que a economia nacional enfrenta uma conjuntura delicada e em que se cruzam nesta Câmara vozes de profunda ansiedade, a reflectirem as apreensões de tantos dos meus ilustres colegas em matéria de planeamento e desenvolvimento regional, sinto que é meu dever imperioso dar conta de uma inquietação cada vez mais viva num largo sector do distrito da Guarda.

Chamo inquietação a esse estado de espírito, pois ele ultrapassa, no seu real significado, os que designamos habitualmente por "legítimos anseios".

A distinção, Sr. Presidente, não é especiosa, nem inútil.

É que ainda há poucos dias eu falava, neste lugar, da capacidade sofredora das pessoas da Beira, gente de bem, pouco permeável à demagogia das facilidades, afeita mesmo à intuitiva e natural compreensão das dificuldades de quem governa.

Não tenho receio em generalizar, asseverando que a grande maioria do povo português - que é sã, que é boa, que é extraordinária - aceita as limitações da hora presente. Por isso aguarda, compreende e confia.

Mas, quando delimitações materiais se não trata e apenas da pronta e justa decisão que acautela os seus interesses, o País não pode aceitar delongas, incompreensíveis delongas - e estas, sim, inquietam, geram mal-estar, desesperam. Tão incompreensíveis, tão nefastas, quanto é certo que, se alguma explicação têm, essa expli-