parte oficial dessa consagração. Atravessando o mar, de longes terras, vieram embaixadores a participar activamente nessa mesma consagração.

Não hesitei, por isso, em trazer a esta Assembleia notícia, embora sucinta, do acontecimento. Se aqui se trata de política, falo em política, política do espírito, aquela que cada vez se torna mais necessária na obsessão moderna das políticas de todos os tecnicismos. Verdadeira política do espírito se fez a volta de um homem que foi poeta; e as mesmas palavras poderia eu dizer a propósito das comemorações do 5.º centenário de Gil Vicente, se não quisesse limitar-me ao que se passou com o meu Bocage.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Pinto de Mesquita:-Sr. Presidente: Daqui relembro as palavras que no início da precedente sessão legislativa tive ensejo de proferir em saudação a V. Exa. e louvor dos múltiplos talentos de professor, jurisconsulto, estadista e parlamentar com que a Presidência se apurou em distingui-lo. O exercício da presidência durante o quadriénio do alto órgão do Estado que é esta Assembleia só veio acrescentar a evidência das capacidades de V. Exa. para esta nova

faceta da vida pública. Foi como que se operasse a passagem da vivacidade de acção de impetuoso esgrimista para a imobilidade tensa de um correlativo juiz de campo, alerta, mas compreensivo. A quase aclamação - embora respeitadora do formalismo dos votos - com que V. Exa. foi por nós reconduzido nesse cargo é decerto a melhor das provas dos méritos com que antes o havia desempenhado e de quanto todos confiamos em V. Exa.

E, de circunstância, acrescentarei, Sr. Presidente que nos é deveras grato vê-lo restituído à saúde indispensável para o exercício de função tão vinculada, saúde que fazemos votos Deus estime preservar.

E agora entremos no objecto desta curta intervenção, antes da ordem do dia.

Decorre a sua oportunidade das comemorações centenárias do nascimento de duas das nossas figuras literárias cimeiras, Gil Vicente e Bocage, promovidas, como é lógico, pelo Governo, através do Ministério da Educação Nacional.

Na orientação nacional de uma activa política de espírito, que nesta Câmara sempre se tem preconizado e aplaudido, esta dupla comemoração nunca nos poderia, aos desta Assembleia, passar como alheia.

E, assim, Sr. Presidente e Srs. Deputados, me será perdoado, para não seguirmos apenas no séquito de tão feliz iniciativa, que desde já daqui se proclame a nossa presença e se me absolva dos minutos que para o efeito faço perder à Assembleia. Até pelo contraste, precisamente nesta altura em que a Lei de Meios se tem de discutir a prazo breve, lembrarmos aqui

Entre as funções do Ministério da Educação Nacional acha-se a de velar pela preservação e valorização do nosso património espiritual como se fosse tesouro raro que ciosa e avaramente se guarda, mas, por uma espécie de milagre, pudesse ser prodigamente distritribuído sem sofrer desfalque e antes se enriquecendo e multiplicando pelo facto dessa distribuição.

E prosseguiu a sua oração em termos de bem conhecer por dentro, como douto humanista, o essencial da obra do homenageado.

Bem haja o Sr. Ministro por tais iniciativas, mais uma vez comprovativas do justo conceito do sabido verso de Ferreira.

Não fazem mal as musas aos doutores.

Como presidente da comissão oficial do centenário gil-vicentino, dirigiu os trabalhos do simpósio com alta competência o Sr. Prof. Vitorino Nemésio.

Aguardemos confiadamente as actas e comunicações que aí foram presentes e que decerto trarão valiosas achegas aos trabalhos operosos que desde longe têm sido consagrados a Mestre Gil e à sua eufórica época

- Teófilo, Braamcamp Freire, Lopes Vieira, Carolina Michaëlis - em que se inscrevem, entre outros, os enfeixados há bons trinta anos, aquando do centenário da sua morte.

Em comparação neste simpósio tomou em relação à anterior comemoração importância a colaboração de humanistas estrangeiros, bem demonstrativa da projecção do significado mundial que o teatro gil-vicentino vai ganhando nos meios cultos de além-fronteiras.

Contam-se ainda entre as homenagens em curso ou previstas: as respectivas exposições bibliográficas, com catálogos impressos, das bibliotecas públicas de Coimbra, Porto, Santarém e Évora. Pu blicação das obras vicentinas em edição crítica condigna - esta viria somar-se às sucessivas que recentemente têm vindo a lume. São prova clara e feliz da receptividade dos povos de língua pátria para com o autor que melhor retratou os portugueses do seu tempo, com as virtudes e defeitos perduráveis, pois que ainda são hoje preponderante apanágio nosso.

Haverá sucessivas conferências e, bem assim, com a publicação destas, a de numerosos ensaios, sobre tão vasto assunto.

Mas, como homenagem máxima, a mais adequada homenagem que prestar se pode a autores teatrais é a de fazê-los reviver pela cena. Tal objectivo se tem vindo a promover em grande através do Teatro Nacional, acompanhado por equivalente empresa, do teatro espanhol, espectáculos realizados com segurança e critério, no desempenho e encenação.

Outro tanto se dirá de outras empresas teatrais, nomeadamente estudantis, constituindo bem meritório esforço nacional ir-se a mocidade acolhendo, no campo teatral, ao patrocínio de Mestre Gil.

E a boa lógica assim manda: para se aferir do alto grau ainda hoje da teatralidade das peças vicentinas, de que alguns duvidaram, ainda a melhor prova é a de fazê-las representar convenientemente. O sucesso no público constitui, além de prova decisiva, boa recompensa nacional.

Do centenário de Bocage já não falarei, Srs. Deputados, porque o Sr. Deputado sadina Peares Claro o acaba preci-