samente de fazer com toda a autoridade e conhecimento de causa que presenciastes.

Do que figurara dizer a propósito apenas quero salvar dois pontos:

De entrada, o meu caloroso aplauso à escolha do Prof. Hernâni Cidade para presidir aos trabalhos comemorativos, e nisto vai uma ponta de sentimento saudoso.

Conheci o ilustre mestre na escola de oficiais milicianos aí por 1916.

Com ele voltei a encontrar-me com frequência alguns anos depois, quando foi dos mais ilustres professores da Faculdades de Letras do Porto.

A sua cultura, histórica e literária, e espírito de crítica objectiva e isenta, que marcadamente se revela na sua sólida obra sobre Camões, aproveito esta hora bocagiana para, prestar a minha homenagem.

O segundo ponto que desejava ficasse registado neste Assembleia consiste apenas na transcrição de versos do começo de um soneto de Castilho, belo, porque sentido:

Tu nos revelaste a mágica harmonia

Da lira nacional, antes de ti latente,

Espírito de luz, relâmpago esplendente,

Que descobriste à pátria um mundo de poesia...

e a veemente apóstrofe do grande poeta brasileiro Olavo Bilac, a de discípulo ao nível do mestre, no famoso soneto:

Mestre querido! Viverás enquanto

Houver quem pulse o mágico instrumento

E preze a língua que prezavas tanto ...

E como sobre Bocage será sempre difícil dizer tão bem e autorizadamente:

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua em discussão na generalidade a proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1966.

Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Cardoso.

O Sr. Agostinho Cardoso: - Sr. Presidente: Quando há quatro anos pela primeira vez falei nesta Assembleia, disse que, não havendo tido a honra de ser aluno de V. Exa. - não cursei direito -, a minha juventude ficou devendo, em grande parte, a sua formação intelectual e política a uma plêiade de mestres da nossa Universidade de Coimbra, onde V. Exa. era dos maiores.

Continuo fiel a essa juventude e a esses mestres.

Quatro anos depois só tenho a repetir as mesmas palavras com votos de uma longa e feliz saúde e o preito da minha respeitosa admiração pelo prestígio que V. Ex.ª empresta à sua função e o alto nível que lhe confere, pela sua cordialidade generosa e amiga que nós os Deputados usufruímos e pela precisão com que interpreta o pensamento comum, como nas preciosas palavras proferidas há dias, por ocasião do encerramento do Concílio Ecuménico.

Tenho meditado no que V. Ex.ª disse na primeira sessão a que presidiu nesta legislatura, até para uma tomada de consciência quanto às fronteiras que, perante elas, devo estabelecer para mim próprio.

Sempre estimei que a crítica construtiva, aquela que é feita de olhos postos no interesse nacional, visando o aperfeiçoamento e não a destruição e recusando-se a deslumbrar o povo com irrealizáveis e demagógicas aspirações, partisse das nossas fileiras e não dos adversários do Regime, até porque não esqueço que Salazar aconselhou um dia que discutíssemos sem nos dividirmos. Há alguns meses o Prof. Marcelo Caetano, na sua notável conferência «A opinião pública e o Estado moderno», afirmou:

A opinião tem de ser informada pelos órgãos do Estado e o mais assídua e cuidadosamente possível. Há que estar atento aos seus movimentos profundos e que escutar os anseios sérios de reforma ou os juízos de censura que dela promanem.

Fala-se muito hoje da necessidade do diálogo, como forma de esclarecimento, de compreensão mútua, de revisão de ideias ou procura de soluções, e o próprio Concílio Ecuménico teve aspectos de diálogo que impressionaram vivamente o Mundo.

Mas diálogo não exclui defesa da nossa verdade, fidelidade aos nossos princípios, firmeza na denúncia de desvios doutrinários.

Estamos em guerra, e é incontestável que a unidade nacional e a paz interna têm de ser sinceramente cultivadas por todos os portugueses.

Mas esta paz a que me refiro - nas ruas e nos espíritos- é a paz operosa na procura inquieta das soluções, na solícita, audiência e interpretação dos anseios e necessidades colectivas, paz que não seja remanso pecaminoso de imobilistas e acomodatícios deleitando-se na estagnada contemplação das obras já concluídas, nem pretexto (para pretenso sossego de consciência aos que se julguem dispensados de dar o máximo no rendimento e ritmo do seu sector ou dificilmente resistam à tentação de passar como turistas pela própria função, seja ela qual for.

Neste começo de legislatura não será impertinente exprimir o voto e a esperança na incidência cada vez maior das atenções para a austeridade da Administração e para a responsabilidade exigida aos homens, para a actualização cada vez maior nos processos de funcionamento, coordenação e rendimento dos serviços e sectores estatais e paira a audiência que deles se espera ao que nesta Assembleia se. exprime.

Sr. Presidente: Ocupar-me-ei neste meu breve trabalho de vários aspectos do turismo nacional e do que acerca desta actividade nos sugere a Lei de Meios.

Antes, porém, de abordar este assunto, desejo congratular-me pela presença nesta Assembleia do Estado Português da índia, através dos seus Deputados. Nunca abdicaremos dos séculos de cultura indo-portuguesa, nem nos conformaremos com a alienação forçada desse território nacional por um país pretensamente pacifista que gasta na poderosa máquina de guerra de um imperialismo agressivo o que lhe escasseia para matar a fome endémica de milhões de cidadãos.

Os cânticos em língua concani que há dias se ouviram na Igreja de S. Roque sejam um símbolo de Goa oprimida, erguendo para o alto, com as suas orações, a sua afirmação de uma lusitanidade que há séculos abraça e aproxima raças sob a bandeira das quinas.

Sr. Presidente: A Lei de Meios para 1966 situa-se numa linha de continuidade em relação aos anos ante-