Terá naturalmente esta Campanha Nacional de Educação que desenvolver-se na ofensiva e na defensiva. Isto é, terá num sentido que educar e noutro que evitar a deseducação. Em qualquer dos sentidos, a obra a realizar é vasta.

Se há, por um lado, por exemplo, que criar e disseminar centros de interesse educativos para a juventude, haverá, por outro, que evitar a constituição de centros deseducativos e eliminar os que existem e cuja actividade é nefasta.

Se há, por um lado, que criar boa literatura para jovens (quase inexistente entre nós), facilitar a sua larga expansão e lutar pela sua crescente aceitação, haverá, por outro, que evitar a escandalosa venda e expansão a que hoje assistimos de variadíssima literatura erótica e pornográfica.

Vozes: - Muito bem!

O Orador. - Se há, por um lado, que organizar em larga escala espectáculos educativos para a juventude, haverá, por outro, que impedir, através de fiscalização eficiente, a entrada de jovens em salas onde se exibem espectáculos impróprios para as suas idades.

Vozes: - Muito bem!

O Orador. - Se, por um lado, há que tirar o melhor partido possível, através dos órgãos de informação, das actuações meritórias de portugueses em todas as circunstâncias e em todos os lugares em que se verifiquem, realçando o valor' ou a heroicidade, se for caso disso, e as importâncias que tais actuações tiveram ou podem ter para a comunidade nacional, haverá, por outro, que expurgar, por exemplo, desses mesmos órgãos de informação, a exploração mórbida de crimes nefastos, instigadores dos mais baixos instintos e que deviam antes ser objecto de noticiário simples e discreto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se, por um lado, há necessidade de uma doutrinação constante baseada nos princípios e ideais que sempre desejamos ver defendidos e atingidos, por outro lado haverá naturalmente que impedir a fácil divulgação ilegal das doutrinas antinacionais.

Sobretudo há fundamentalmente que ter em vista, e só por pertinaz acção educativa e doutrinária isso é possível, a formação segura das mentalidades, para que possamos ser firmes e compreensivos, convictos e convincentes, realistas e optimistas no diálogo permanente que na hora actual temos de manter com múltiplos defensores de múltiplas correntes de ideais.

Tudo isto que referi a título de exemplo é bem pouco em face do que há a fazer no campo ideológico e que terá de abranger, como atrás enunciei, a camada dos jovens e a camada dos adultos, que enquanto jovens não foram convenientemente educados e doutrinados.

Já na campanha contra o analfabetismo nos aconteceu o mesmo, não é verdade Sr. (Dr. Veiga de Macedo?

E é pena, porque é muito difícil educar adultos, e bem mais fácil educar jovens.

Mas tudo o exposto e tudo aquilo que do exposto se pode deduzir ou imaginar implica investimentos talvez não pequenos e parece-me, portanto, que o primeiro passo que podemos e devemos dar é mencioná-los na Lei de Meios e na posição que lhes compete na lista de prioridades, pois o projecto em discussão é omisso nesta matéria.

E para saber qual é a posição bastará naturalmente que cada um de nós pense uns escassos segundos em que lugar pusemos e pomos a educação dos nossos filhos nas listas de prioridades das nossas apreensões, das nossas ambições e das nossas realizações, que como pais permanentemente elaboramos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Permito-me recordar que a dedicação à Pátria, na vida e na morte, na frente ou na retaguarda, não é função de preparação técnica ou táctica do indivíduo, mas exclusivamente função do seu carácter, do seu ideal, da sua noção do dever, da obediência e da disciplina.

A Nação Portuguesa, por imperativo histórico, tem de ser sempre caracterizada pela fidelidade do seu povo a Deus e à Pátria.

Mas esta característica só pode manter-se educando, doutrinando e instruindo com persistência.

Há que formar o cristão e formar o homem, e não apenas o homem, como disse o Dr. Cerqueira Gomes, mas o homem português.

E óbvio que um povo educado, doutrinado e instruído tem melhor consciência de todos os seus deveres.

Está mais apto a compreender e a aceitar o valor dos sacrifícios que se lhe pedem e dos benefícios que se lhe concedem.

Está mais preparado a sentir a necessidade de colaboração que se lhe exige em qualquer emergência, e a sua colaboração é com certeza mais sincera e mais útil.

>Só um povo educado e instruído torna extraordinariamente mais fácil, e as vezes até possível, a conquista de objectivos que as disposições legais que os enunciam, só pela força das mesmas disposições, não conseguem muitas vezes atingir.

6ó um povo «ducado e instruído sabe ouvir, interpretar e discutir.

Srs. Deputados: Sei perfeitamente que não estou oferecendo à Assembleia elementos novos para a consideração de um problema que reputo muito grave, mas penso não ser inútil reavivar realidades sobre as quais temos de pensar e decidir.

Sei, por exemplo, que no relatório da Conta Geral do Estado de 1931 e 1932 o 'Sr. Ministro das Finanças escreveu:

O trabalho por nós realizado no domínio financeiro é condição-base essencial, mas, enfim, uma pequena parte da obra de reconstrução nacional a prosseguir em todos os campos - desde a produção de riqueza à educação e cultura do povo português.

E contudo, não obstante o equilíbrio das finanças nunca ter deixado de existir desde então, a educação do povo português nunca ocupou no plano de reconstrução o lugar de prioridade que em 1932 se lhe atribuiu.

Eu sei, por exemplo (e aproximando-me mais do momento actual), que o Sr. Deputado Santos da Cunha manifestou aqui nesta sala, em Março da 1962, a sua angústia ao verificar a falta de norte que quanto ao problema educacional existia neste país, e afirmou:

Nada valem planos de fomento de estrondosos e benéficos êxitos de carácter financeiro e até social, realizações materiais que na verdade tanto têm engrandecido o País, se continuarmos a abandonar a juventude a si própria, deixando que a sua alma seja minada por uma propaganda sistemática a que nada se tem sabido opor a sério.