O Sr. Henriques Mouta: - Sr. Presidente: Ao pronunciar aqui as minhas primeiras palavras, é-me grato endereçar a V. Exa. respeitosas saudações, homenagem de quem se habituou a admirar, desde menino e modo, a robusta inteligência de V. Exa., através de uma tradição com ecos que não morrem, na cidade onde fiz grande parte da minha formação.

Srs. Deputados: Saúdo também VV. Exas. e evoco, respeitosamente, quantos nesta Casa souberam servir a Pátria, não atraiçoando nunca o mandato das nossas gentes respeitando a consciência do nosso povo e colocando bem comum acima de quaisquer interesses, por mais tentadores que eles fossem.

O Sr. André Navarro: - Muito bem!

O Orador: - Pois o bem comum, que ultrapassa esferas do político e do sócio-económico, deve sobre; a todos os particularismos, mesmo dos nossos círculos e províncias, que não se integrem no bem-estar de toda grei e se lhe oponham decisivamente.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Porque nem só de pão vive o homem ... e porque se me representa de interesse geral, social e humano, e até nacional sob e bem relevantes aspectos, pedi a palavra para sublinhar um acontecimento recente e já decisão histórica, que as agências transmitiram de Roma para todos os pontos do Planeta. Em 18 de Novembro, no ocaso da assembleia conciliar, carregado de esperanças de uma nova madrugada a suceder à noite dos tempos presentes S. S. Paulo VI anunciou ao Mundo a introdução processos de beatificação dos Papas Pio XII e João XXIII.

O facto, em si mesmo considerado, é um desmentido ao asserto do autor dos Préceptes do Philosophic Centemporaine, nas vésperas da conflagração de 1939:

A sociedade civil ou militar mantém os seus heróis a sociedade religiosa perdeu os seus santos; ou ainda os há, já se não fala deles ...

Os santos não desapareceram. E hoje não são menores nem menos, que ontem.

A Igreja tem os seus heróis; hoje, como ontem, sofre-se e morre-se pela fé. Mortas estão a fé e as convicções quando não há quem morra por elas, como também mortas estão as pátrias quando os cidadãos se recusa: morrer por elas. Ai do Mundo sem os santos, se dos os jardins desaparecesse tão bela espécie! Se alguns olfactos não sentem as flores, o facto não anula a sua existir. Os santos não acabaram. Simplesmente, os santos m se têm por santos, não se exibem, são discretos, violetas. E fala-se deles, não com anúncios ou cai como se fala dos artistas ... da cena e do pincel, sons e das cores, mas como obra-prima de Deus i colaboração do homem com a graça, ao serviço de Deus dos homens.

Pio XII e João XXIII são exemplos típicos, contemporâneos, humaníssimos e rutilantes, a brilhar mi cabeça da sociedade cristã, diante do Mundo que 01 e ouviu, respeitou e admirou, amou e chorou, como e protectore s e, sobretudo, como mestres na vida morte.

O Sr. António Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - Unidos ontem na missão e responsabilidade, unidos hoje na glória de candidatos às honras altares, que a Igreja tributa só aos seus maiores heróis e grandes modelos de vida humana. Unidos, embora, em determinado momento, se haja tentado opô-los e contrapô-los.

Vozes: - Muito bem!

lufada de ar fresco com um ciclone e um sopro do Espírito Santo com um terramoto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apontavam-se as atitudes do Pontífice como inéditas e revolucionárias, quando elas se situavam na linha histórica da Igreja, como elo de uma cadeia, um passo na sua marcha para o futuro, levando como sempre em conta o contexto social, mas sem se negar ou desviar, fiel as raízes. E verificou-se enorme alarido, tão ruidoso que atordoou alguns, cujo horizonte não passava além da sua geração, incapazes de abarcar a complexidade do fenómeno cristão, por miopia ou incorrigível daltonismo. Acentuou-o recentemente Paulo VI, ao esclarecer o aygiornamento da Igreja, preconizado por João XXIII:

Este Pontífice, ao empregar tal palavra-programa, não lhe dava certamente a significação que alguns homens tentam dar-lhe e que permitiria «relativizar», segundo a mentalidade do Mundo, tudo o que toca à Igreja, dogma, leis, estruturas, tradições, quando é certo que houve, pelo contrário, um sentido tão furte e too firme que permanecia da doutrina e das estruturas da Igreja, ao ponto de o tornar a ideia mestra do seu pensamento e da sua acção. (Ao Concílio em 18 de Novembro de 1965).

Esquece-se que a Igreja é tão imutável como adaptável, como o lembrou Pio XII já em 1949.

Outro erro era opor as duas grandes figuras de João XXIII e de Pio XII. Na base desta tentativa estava algo que não era ortodoxo, nem sequer religioso. E fazia intervir a literatura e subia aos palcos para achincalhar a memória veneranda de um morto, para acusar um homem defensor do homem, talvez o maior defensor da pessoa humana em todos os ciclos da história.

Vozes: - Muito bem!