tos da história, que são de sempre - , ela própria republicanizando no sentido pejorativo da palavra...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - e assim, aos olhos da rainha o que era mister e acima de tudo se impunha era realizar aturado e árduo e penoso trabalho de educação dos para que eles fossem de verdade reis em plenitude, pela devoção e pela doação de suas pessoas ao bem comum, como sempre havia sido timbre de todos aqueles reis que

mais atentos souberam estar ao interesse da Nação.

Esta obra de educadora da rainha Sr.ª D. Amélia toma, em nosso entender, uma dimensão tamanha no seu sentido positivo que pode ter estado aí, em razão inversa, : oculta razão das forças ocultas que mandaram disparar os tiros naquela tarde trágica do Terreiro do Paço.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Era preciso não só liquidar uma monarquia renascente, mas cortar do mesmo golpe os ramos novos que iam despontando, em beleza e virilidade, no calor das velhas seivas e ao amparo de uma aliança densa de energia, de vigor e de raça. No Terreiro do Paço a rainha perdeu o marido e o filho e ali lhe afogaram em sangue os fins e os desígnios da sua obra mais profunda e penetrante.

Com sobeja razão e com certo exclusivismo se tem salientado a acção altruísta da rainha D. Amélia pela fundação da Assistência Nacional aos Tuberculosos do Instituto Bacteriológico de Câmara Pestana, do Dispensário de Crianças de Alcântara, do Hospital do Instituto Ultramarino e, mais ainda, por uma calada actividade desenvolvida nas sendas de S. de Paulo pelo contacto directo e discreto com o sol alheio e a miséria humana.

Mas pretendo agora vincar e salientar um aspecto da vida e acção da rainha Sra. D. Amélia que só mais incidentalmente tem sido referido, mas que tem, na perspectiva da nossa actual posição no Mundo um significado relevante. Estou indicando a posição da rainha perante o ultramar português Foi a rainha quem teve a ideia da viagem do príncipe da Beira aos territórios ultramarinos de África, mas a ideia da rainha era mais completa e mais complexa, era de que fossem todo i a família real inteira, mas todos, à nossa África! Essa grande rainha portuguesa estava fundamente incorporada na alma, na essência, no destino da Nação Portuguesa! Toda a família real inteira, num primeiro, espantoso inteligentíssimo gesto e exemplo de soberania e de posse como a egrégia senhora disse ao jornalista Leitão de Barros, acrescentando:

Na Câmara dos Deputados e até na dos Pares cegou-se a dizer que o príncipe ia degredado!

Hoje, na Câmara dos Deputados, enche-se a minha voz de orgulho e de comoção ao invocar a gloriosa rainha que soube sentir a comunhão, a comunidade e identidade de Portugal com o seu ultramar, quando os políticos a acusavam de tirania matéria medida em que desoladoramente entendiam ser ir às terras de África o principal herdeiro do Por aquém e de além-mar e do descobrimento e da conquista! ...

Ao grande jornalista António Ferro, numa e hora comovida hora de recordações, a rainha disse:

E numa evocação dessas saudades ajuntou:

... vivi sobretudo essa admirável epopeia africana, que renovou o heroísmo português, que lhe deu figuras como Mouzinho, Paiva Couceiro, Roçadas.

Vivi esse período da História de Portugal, não há dúvida, e é esse o meu orgulho! Gosto que me falem dele! Gosto que mo evoquem!

Mas oiçamos as palavras desse extraordinário homem de letras e de acção que foi o Comissário régio António Enes, num delicioso envoi à rainha do seu livro. A Guerra de África em 1895:

Assim nos fomos acostumando a considerar a guerra também como serviço de Vossa Majestade, estimulando-se em nós os instintos cavaleirosos do coração português, p esses instintos, lisonjeados, afervoraram as dedicações ao País e fortaleceram a obediência a El-Rei. Se éramos afortunados, pensávamos no gosto que sentiria a rainha. Assoberbados por contrariedades, doía-nos a inquietação que ela sofreria; e tremíamos com a ideia de passar por fracos a seus olhos confiantes. Finalmente, Senhora, quando, no regresso a Lisboa, Vossa Majestade nos recebeu, radiante das nossas alegrias, ufana dos nossos triunfos, feliz da nossa felicidade, todos saudámos na rainha uma encarnação da Pátria que se fizera mulher para nos enfeitiçar com os sorrisos do seu agrado, que se coroara princesa para dar maior preço às prendas da sua magnificência ...

e continua:

... a expedição de 1895, Senhora, faz homenagem a Vossa Majestade, por minha voz, de todos os seus feitos e serviços que o meu livro relata, e os expedicionários sobreviventes juram, pelo reconhecimento indelével que à rainha devem, que ainda de maior esforço serão capazes se alguma vez forem apelidados para defender o trono, que Vossa Majestade enaltece, e a Pátria, que Vossa Majestade sabe tornar mais querida a quem a serve.

É impressionante. Senhores, a figura da rainha assim alevantada na alma de um homem do ultramar e na pena do um escritor da estirpe de António Enes, que já ante-visava a ressurreição da Pátria pelos fulgores das vitórias nas terras sempre invejadas e apetecidas da África Portuguesa. Diga, quem saiba e possa, quem foi que traiu a esperança e a confiança contida nas palavras de António Enes. A rainha de certeza não foi, porque já depois de 1908 Carlos Malheiro Dias pôde dizer da Sra. D. Amélia.

É necessário vê-la para só poder avaliar a firmeza da sua alma varonil, a inteligência vigilante e clarividente com que esta mãe admirável cuida desbravar o caminho por onde terá de passar, com o silício da coroa, o seu filho adolescente. A fatalidade tornou-a uma leoa. Sai-se de ao pé dela impressionado pela fé que a varoniza, comovido pela esperança que a anima, enleado de admiração e respeito.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quem traiu fui quem é sempre o sujeito da traição: aquela retaguarda acomodada e ambiciosa, caluniadora e incapaz de acção, gozadora e estrangeirada, soprada pelos ventos da história, mas incapaz de fazer história com o sangue das próprias veias ...

Vozes: - Muito bem!