O Orador: - ... a retaguarda que se dissolve na calúnia, na inveja, na ambição ou na cobardia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Deus dela nos defenda hoje melhor do que defendidos fomos na segunda metade da vida e da acção da rainha Sra. D. Amélia em Portugal.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não nos falta o exemplo de altura da rainha; não fiquemos cegos ao exemplo da cegueira e da baixeza de tantos que traíram uma obra admirável na tentativa do renascimento nacional.

ozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Em 1892 a rainha Sra. D. Amélia recebeu de S S. o Papa Leão XIII a célebre rosa de ouro, dom nau muito prodigalizado, pois, antes, apenas cinco vezes ela tinha tido concedida a reis de Portugal. Diz o cronista da época:

A noite os edifícios públicos iluminaram e o povo saiu à rua satisfeito com as honras tributadas à sua rainha ...

Ora, a rosa de ouro é pela sua cor símbolo da alegria da Santa Igreja e o seu perfume a figuração de todas as boas obras. Voltou a rainha à sua pátria de eleição em 1945. também então num suave mês de At aio, igual àquele em que viera pela primeira vez para ser esposa do rei e rainha de Portugal, a terra de todas as suas boas obras.

Aqui recebeu então as rosas de Maio, já não rosa de ouro, mas rosas dos campos que a gente humilde do povo lhe ia levar em recordatório de gratidões, testemunho de reconhecimentos, talvez remorsos fugidios, mas de certeza significações de ternura e de bondade de uma gente verdadeira e sã que tinha saudades de uma grande senhora que fora rainha de Portugal e aqui vivera um grande calvário de amargura e sofrimentos, aqui onde só tinha querido ser boa e útil para todos os portugueses.

A rainha quis morrer na sua doce França, onde o exílio dos pais lhe não permitiu que nascesse, ma» quis ter o seu eterno repouso aqui, na Pátria de eleição, onde não pudera viver nem morrer na graça de Deus e na paz dos homens. Aqui vieram ficar para sempre os seus restos mortais e foram colocados além, em cima, no panteão real, encerrados em mármore da sua querida Vila Viçosa e sob a lembrança de um epitáfio que tem a singeleza das coisas grandes e belas: «Aqui descansa em Deus Dona Amélia de Orleães e Bragança, Rainha do Trono, na Caridade e na Dor».

Sr. Presidente: A rainha Sra. D. Amélia deu grandes e nobres exemplos à Mãe-Pátria de escolha o de legitimidade e já no seu segundo exílio não quis desobrigai-se de acompanhar a vida portuguesa dos últimos decénios, vendo no pensamento e na acção que se iam seguindo a realização de ideais aparentemente inatingíveis pelas quais no seu tempo se esforçara, lutara, sofrera e vira perderem-se as vidas queridas e até talvez a esperança que sempre fica para além da vida que na morte se perde.

A rainha soube reconhecer, estimar e amar quem tomara em mão o facho dos ideais de grandeza nacional a sempre levá-los a bom caminho, renovando as fibras do corpo da Nação e revigorando a têmpera das almas pela vitória do trabalho e da vontade sobre a abulia e a decadência dos tempos que a rainha vivera e contra os quais obstinadamente se havia erguido. A rainha se deve mais este exemplo e esta lição. Um século depois do seu nascimento não vemos a rainha morta, vemo-la de pé, flor da altura que se levanta acima da tragédia e à dimensão da grande história que, por mercê de Deus, em Portugal se vai continuando e prosseguindo. Que Deus ilumine a, alma da rainha e os trilhos novos da sua Pátria de eleição. Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Leonardo Coimbra: - Sr. Presidente: Sinto a responsabilidade de erguer pela primeira vez a minha voz nesta alta Assembleia.

E ao fazê-lo quero saudar a nobre figura de V. Exa. Sr. Presidente, cujas qualidades do tantos modos têm sírio salientadas.

A vós, Srs. Deputados, companheiros de horas futuras de trabalhos e responsabilidades comuns, dirijo a mais respeitosa e amiga saudação.

Sabemos que a emergente missão da comunidade portuguesa neste momento crucial da sua história e da sua presença no afundo se concerteza na salvaguarda da sua continuidade histórica.

E não ignoramos que à prioridade da defesa corresponde a solidária e urgente necessidade de investimentos para aumento de produto da Nação, como garantia de estabilidade e segurança da economia futura.

Mas o próprio progresso económico-social exige a difusão da cultura e impõe uma decidida política da educação e do espírito.

Também não podemos silenciar os perigos resultantes, a prazo curto, da emigração interna do funcionalismo mais válido e dos mais qualificados valores docentes que se deslocam para actividades privadas em busca de melhores condições de segurança económica, com inevitável enfraquecimento das estruturas administrativas do Estado e dos seus instrumentos de ensino. Assim, é urgente que a Lei de Meios consinta uma acelerada e ampla preparação de quadros humanos, pois sem médicos e enfermeiros os hospitais não funcionam, sem técnicos as empresas não podem competir o sem professores e investigação adequada permaneceremos em ultrapassados escalões de cultura e de progresso.

São pontos vitais da vida da Nação sobra os quais já se pronunciaram, clara e pertinentemente, muitos dos Srs. Deputados, quando focaram as condições de promoção e desenvolvimento do espaço económico português e do fundamental progresso do factor humano.

Quanto a mini, a minha já longa experiência do dramático subsolo do mundo social conduz-me a chamar em especial a atenção de todos para o grave e dramático desamparo da criança deficiente e subnormal, enredada no dinamismo complexo e cada vez mais exigente de uma sociedade moderna em rápida evolução.

Não podemos ignorar que pesa sobre todos os portugueses de boa vontade, e mais particularmente sobre os órgãos do Estado, a imensa e inalienável responsabilidade de preparar condições para assegurar a normal eclosão de todos os valores humanos que constituem o capital vivo da Nação.

Esse é o único caminho que conduz a dignificação e máxima valorização do homem e ao mesmo tempo realiza a eficaz prevenção das sociopatias do adulto, que quase sempre resultam de uma infância infeliz e mal vivida.