É evidente, assim, que se acumulou nas caixas económicas, em .particular na Caixa Geral de Depósitos, Crédito e Previdência, um volumoso potencial de crédito. Repare-se que, mesmo considerando uma taxa de liquidez de 15 por cento para os depósitos à ordem e a de 10 por cento para os depósitos a prazo, a «reserva disponível» do conjunto das referidas instituições excedia os 2800 milhões de escudos. Pelo que antes se analisou, parece evidente que se acentuou a tensão no mercado monetário, por efeito directo da manutenção de elevada procura de dinheiro a curto e a médio prazos e, bem assim, do prosseguimento na política de expansão de crédito pela banca comercial e do reforço em elevado montante das disponibilidades do Tesouro. Verificava-se, de facto, que os meios totais de pagamento continuavam a crescer mais rapidamente do que o produto nacional bruto. E avaliando a liquidez real dos mercados do dinheiro pela relação entre o total da emissão monetária do banco central e Casa da Moeda e o dos meios totais de pagamento, notava-se que descia de 38,6 por cento em 1964 para 37,8 por cento em 1965 e 36,6 por cento em Julho de 1966, o que revelava bem a enorme expansão da «moeda escritural» criada pelo resto do sistema bancário nacional.

Sem dúvida que, em boa parte, esta expansão terá sido forçada pelas necessidades intercorrentes da formação e distribuição de um produto global de bens e serviços em crescimento. Mas em outra parte ela tem servido, apenas, para apoiar os consumos de determinados produtos, na grande maioria importados, e concorrido para que numerosas empresas se hajam habituado ao expediente mais fácil de um crédito bancário a curto prazo para financiar as suas necessidades de capital circulante e de capital fixo, em vez de as procurarem satisfazer por aumentos de capital social, por acumulação de reservas ou pelo recurso a empréstimos em condições mais adequadas àquelas finalidades.

É certo que não pode desconhecer-se que à pressão da procura sobre o mercado monetário também não são indiferentes as consequências de dificuldades de pagamentos externos sentidos por algumas províncias ultramarinas e o valor que atingiu o saldo da conta do Tesouro, com os reflexos que está a ter sobre a administração financeira das empresas. E importa igualmente reconhecer que essa pressão se deve, em grande medida, às insuficiências do mercado financeiro, insuficiências orgânicas e funcionais que estão constituindo um dos sérios «estrangulamentos» no processo do desenvolvimento económico do nosso país. Acerca do mercado de capitais, diz-se no relatório do projecto da proposta de lei de meios que «reconhecendo a necessidade de incentivar a formação de poupanças e activar a sua mobilização para fins de desenvolvimento económico, delineou-se um programa de acção tendente a aperfeiçoar a estruturação e condições de funcionamento do mercado de capitais, por forma a restituir-lhe a necessária vitalidade». Simultaneamente, «atento o nível em que se tem situado o recurso ao mercado monetário para a realização de operações de financiamento, através quer do crédito a médio prazo, quer do crédito a curto prazo, que é objecto de renovação, tem-se procurado delimitar o campo de acção daquele mercado e do mercado de capitais, bem como imprimir ao crédito bancário uma disciplina quantitativa e qualitativa adequada às actuais condições do desenvolvimento económico».

Todavia, ou porque o referido programa de acção não pôde ainda concretizar-se em toda a extensão prevista ou porque outras providências se mostram talvez indispensáveis, não se operaram até agora modificações apreciáveis na estrutura e condições de funcionamento do mercado financeiro.

Note-se, em primeiro lugar, que entre os 1.ºs semestres de 1965 e 1966 decaiu de 1090,5 para 983,3 milhões de escudos o montante do capital social das sociedades constituídas de novo, quebra esta que se reflectiu principalmente no grupo das sociedades anónimas. Por outro lado, cresceu o volume de capital correspondente às sociedades dissolvidas, o que, embora afectando na sua maior parte o grupo das sociedades por quotas, ainda se repercutiu por forma sensível nas sociedades anónimas. Consequentemente, terá diminuído a oferta global líquida de acções; e mesmo que se considerem os aumentos de capital das sociedades anónimas já existentes, não parece que se haja alargado apreciavelmente a procura de fundos em mercado para constituição ou acréscimo do capital das sociedades.

Quanto aos empréstimos hipotecários, o valor dos novos contratos aumentou bastante entre os 1.ºs semestres de 1965 e 1966, enquanto baixava a dos cancelamentos, pelo que o montante do endividamento líquido se elevou de 451,8 para 838,3 milhões de escudos, afectando principalmente, ao que parece, a propriedade rústica.

Nas bolsas, o movimento ascensional do volume de transacções continuava em 1965 e entre os períodos de Janeiro-Julho de 1965 e 1966, revelando, em particular, uma intensificação da procura de acções, a que a oferta de novos títulos não se proporcionou adequadamente. De facto, a maior parte das transacções corresponde a simples rotações de fundos, o que, sem dúvida, terá contribuído para a alta das cotações dos títulos.

(Base: 30 de Junho de 1950 = 100)

Origem: índice calculado pelos serviços do Banco de Portugal, com base nas cotações efectuadas e, na sua falta, nas ofertas de comprador ou vendedor.

Como se vê no quadro precedente, a alta das cotações atingiu mesmo os títulos de rendimento fixo, se bem que se apresente muito mais nítida e generalizada nas acções. E neste contexto parece de salientar a recupe-