Não deixam de acentuar-se também neste trabalho, ilustrado por numerosas citações pontifícias, os aspectos negativos do turismo quanto à moral e, em particular, às dificuldades na assistência à missa dominical, sobretudo no que se refere, ao turismo de pouca duração que abranja os fins de semana.

E o articulista acentua as razões invocadas por Paulo VI para que a Igreja se deva interessar pelo turismo: Razões de assistência religiosa;

b) Motivos de devoção (peregrinações, turismo religioso);

c) O turismo é o fenómeno que em grande escala informa os costumes e a mentalidade modernos.

Clara nas suas afirmações acerca da importância do turismo é a carta do Santo Padre dirigida, por intermédio do cardeal secretário de Estado, ao I Encontro Nacional Italiano sobre «A Pastoral do Turismo», realizado em Roma, em 19 e 20 de Setembro último, promovido pela Comissão para Turismo da Conferência Episcopal Italiana e em que tomaram parte os professores de Teologia Pastoral dos seminários e estudantados religiosos.

Ali se diz:

Ao exprimir a sua complacência pela iniciativa, que não tem até agora precedentes, e merece, portanto, todo o apoio, S. S. deseja aproveitar a feliz ocasião para dirigir aos promotores e aos participantes uma particular palavra de aplauso e de bênção.

O Encontro é índice eloquente da tomada de consciência, por parte dos teólogos, sobre os problemas urgentes e inadiáveis levantados pela pastoral do turismo e da séria vontade de estudo e reflexão com que acolheram as solícitas indicações do mais recente magistério pontifício e os cuidados do Concílio Vaticano II. A Santa Sé, com efeito, não tem deixado de acompanhar as fases do crescente fenómeno turístico com orientações, exortações e considerações, as quais, ao mesmo tempo que lhe reconhecem o eminente valor humano e espiritual, fazem ressaltar, em toda a sua importância, a necessidade de um cuidado pastoral que saia dos limites da improvisação para se dedicar ao turismo com clareza de princípios, com coordenação de métodos, com exigência de especialização que não se esquiva ao estudo dos especiais problemas psicológicos, ambienciais, técnicos e organizativos.

Por seu lado, o Concílio inculcou aos bispos o dever de adoptar «convenientes sistemas de assistência especial para os turistas» (decreto Christus Dominus, n.º 18); e, ao verificar a formação de novas formas de cultura das massas - que promove melhor a unidade do género humano, mas esconde, outrossim, perigos para as curas das almas -, exortou os cristãos a colaborar, «a fim de que as manifestações e actividades culturais colectivas, próprias da nossa época, sejam impregnadas de espírito humano e cristão» (Cost. part. Gaudium et Spes, n.º 61, cf. n.º 4). Convida, particularmente, os que viajam por motivos de negócio ou de simples distracção a recordarem-se de que são, em toda a parte, arautos itinerantes de Cristo e a comportarem-se, realmente, como tais (Conf. Decr. Apostolicam Activitatem, n.º 14).

Tal compromisso apostólico, com as responsabilidades e os deveres que comporta, exige, antes de tudo, dos teólogos, sobretudo daqueles que ensinam os futuros sacerdotes, uma nova reflexão global sobre os métodos pastorais, conducentes a ter pastores de almas preparados também para este grave dever do seu ministério, que saibam, cada vez melhor, cuidar do turismo com apropriadas iniciativas, contactos abertos e amigos, com disponibilidade completa para as exigências espirituais e pastorais, sobretudo formando as almas para que mesmo nos tempos livres dêem o seu testemunho de fidelidade total, alegre e empolgante a Cristo Senhor.

O Santo Padre deseja, portanto, que o ensino da teologia pastoral do turismo obtenha o devido lugar nos institutos de formação eclesiástica e religiosa e que para este fim haja uma maior colaboração entre os professores das universidades e seminários.

Se o turismo é um problema sério, e não um simples passatempo, é porque está ligado, directa ou indirectamente, a quase todos os problemas nacionais, contorno indispensável da nossa renovação, seu necessário acabamento. O turismo perde assim o seu carácter de pequena e frívola indústria para desempenhar o altíssimo papel de encenador e decorador da própria Nação. É que todas as obras públicas resultarão apagadas, frias, inexpressivas, se não forem animadas pelo turismo, pela graça feminina do turismo. O mais belo palácio pode repelir-nos se não tiver flores, por toda a parte, a iluminá-lo. Ora, o turismo, precisamente, é o grande jardim do progresso moderno.

Provado fica, sumariamente, que depende, em grande parte, deste problema o apuramento, a valorização de toda a obra nacional. Mas, ajudando essa obra, o turismo constitui, em si mesmo, uma obra profunda de higiene e de bom gosto, uma divulgação de gestos e de princípios indispensáveis à elevação artística e espiritu al de cada povo. Mais ainda, o seu prestígio internacional é consequência, em certos aspectos, da sua organização de turismo.

Joffre Dumazedier, que em vários trabalhos tenho citado, pergunta se não estaremos neste capítulo a sair da civilização do trabalho mecanicista, fruto da revolução industrial do século XVIII, cujos resultados, a um tempo, usufruímos e sofremos. Situar-nos-íamos no limiar de uma espécie de civilização de loisir, reacção compensadora em face das consequências a que a evolução da primeira poderia conduzir a pessoa humana e que viria dar sentido e finalidade social às pausas no trabalho, cada vez maiores e mais reivindicadas.

Aparece-nos (o loisir), diz-nos Dumazedier, «como elemento central da cultura» vivida «por milhões de trabalhadores, possuindo relações subtis e profundas em todos os grandes problemas do trabalho, da família, da política, que sob a sua influência se põem em termos novos». «Pretendemos dizer - acrescenta Dumazedier - que a meio do século XX não é possível elaborar teorias sobre estes