que «as mudanças operadas pela força não podem ser reconhecidas». - Isto para consumo externo ...

Os povos não podem continuar na loucura desenfreada em que vivem, provocada para servir interesses inconfessáveis de alguns. A chamada «descolonização» já custou cerca de três milhões e meio de vidas sacrificadas no seu altar. Tenhamos fé que surjam momentos de lucidez para que se recomponham as coisas em prol da humanidade.

Temos de empregar todos os meios ao nosso alcance para esclarecer a opinião pública internacional, que continua pouco conhecedora dos nossos anseios e da nossa razão de ser e agir.

Com muita frequência verificamos que os seus juízos sobre os nossos problemas se formam através de intensa propaganda dos nossos detractores.

Já Bonie Lubega, jornalista africano, originário do Uganda, deu a mão à palmatória sobre o que pensava quanto a Goa e sua «libertação», no seu opúsculo Shoud Goa bedong to Índia?

Diz-nos a propaganda indiana que são grandes os melhoramentos levados a cabo em Goa, que se têm construído prédios, aberto Faculdades. Em longos cinco anos seria difícil fazer menos. A construção de edifícios não tem beneficiado os naturais. Em inúmeros casos estes tiveram de cumprir ordens de despejar suas casas próprias para nelas serem alojados funcionários de ocupação.

Quanto às Faculdades, convém que se saiba que na Escola Médica de Goa, de velhas tradições, ocupam cerca de dois terços de lugares estudantes da União Indiana é apenas um terço fica à disposição dos goeses. Assim, na impossibilidade de conseguirem admissão na Escola Médica, os nossos estudantes vêem-se obrigados a optar por qualquer Universidade da União Indiana. É este um plano gizando mais rápida indianização do Estado Português da Índia ...

S. Exa. o Sr. Presidente do Conselho, no seu memorável discurso de 3 de Janeiro de 1962, frisava: «Não aceitamos a realidade do acto consumado, a questão não terminou, pode dizer-se com ve rdade que é mesmo agora que começa.» Mais adiante: «A União Indiana pode fazer guerra contra nós, mas não pode sem nós estabelecer a paz.»

A campanha sem tréguas dos Goeses, Damanenses e Diuenses contra os invasores demonstra exuberantemente a realidade.

E é tão grande a ausência de paz no Estado Português da Índia que há poucos meses, na gigantesca manifestação contra o Governo fantoche, incorporaram-se cerca de 2000 mulheres e senhoras da nossa melhor sociedade.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Porém, muitas delas, até com idade superior a 70 anos, experimentaram a cadeia e as pesadas cargas de bastões infligidas pelos «libertadores» oficiais.

A sua luta é intensa, servindo-se das únicas armas que possuem: uma fé inquebrantável e uma esperança firme em melhores dias no seio da sua família, a grande família lusitana.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Há meses, o advogado de defesa do Mons. Francisco Monteiro dizia num tribunal de Goa na sua alegação oral: «O povo português compartilhou sempre connosco todas as conquistas feitas no campo da liberdade e dos direitos cívicos, conquistas que custaram não pouco sangue e dinheiro, sem que nos tivesse cabido o mais pequeno sacrifício ou, sequer, o menor esforço.» E mais adiante dizia: «Imperioso se torna confessar que por mais de 400 anos Portugal e o Estado da Índia, por lima longa interpenetração de espírito e coração vieram fundindo e caldeando numa obra única os seus anseios e ideais.»

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Estão nesta Câmara os legítimos representantes da Nação Portuguesa. E com todos nós e com todo o povo português que conta o Estado da índia. Ele exige mesmo, como português que é, o nosso auxílio e apoio intensificados por esta causa nacional.

Vozes: - Muito bem!

A Oradora: - Ilustres Deputados tom vindo erguendo sua voz para protestar contra o inqualificável crime e evocar a data que enlutou a Nação inteira.

Todas estas manifestações são motivo para que os que lá ficaram se sintam mais acompanhados e confortados, o que lhes dá ânimo para a sua luta do dia a dia.

Sr. Presidente: Aproxima-se o Natal, quadra festiva em toda a parte do mundo. Mas para o Estado Português da Índia será uma quadra sombria, como nos últimos anos. As tradicionais estrelas de bambu que luziam à porta das casas já não brilham. A festa da família já não é festa, é um dia de tristeza e saudade, com lugares vazios à mesa, porque há muitíssimos lares com os seus membros separados por milhares de quilómetros de distância, sem possibilidades de se juntarem. Ergamos, pois, as nossas preces para que a vinda do Redentor traga aos nossos irmãos uma luz nova ...!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Albano de Magalhães:- A tradição desta Assembleia faculta ao Deputado estreante no uso da palavra a honrosa oportunidade de cumprimentar o Presidente.

Irei, assim, usar dela, sem que queira ousar por ela.

Quem durante a 1.ª sessão legislativa pôde, frequente e atentamente, acompanhar os passos serenos e seguros de V. Ex.ª, subindo os degraus da escada que o conduzem à cadeira da presidência, imperiosamente viu surgir no seu espírito, em imagens sucessivas, o mestre de Direito, o investigador do mesmo mundo, o governante prudente, o político insigne e disciplinado e o administrador experiente, que são a um tempo a razão de segurança e serenidade dessa escalada e a confirmação consoladora a colher da indiscutível eleição de V. Ex.ª para presidente desta Assembleia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Que Deus lhe mantenha sempre a mesma segurança, certeza e serenidade em todos os passos que o duro e árduo caminho da causa pública lhe imponha ter que dar.

Dos meus ilustres colegas imploro o seu perdão, já que caducou o direito de os saudar.

Devo, porém, uma palavra de agradecimento pelo são acolhimento dispensado e uma outra, de reconhecimento da boa e já inesquecível camaradagem vivida e experimentada.

Vozes: - Muito bem!