Uma vez mais, entre a desorientação geral, Portugal se ergueu em arauto da civilização ocidental, e a sua atitude deliberada de fazer frente a onda avassaladora dos novos conquistadores não é apenas questão de sobrevivência, mas sobretudo imperativo de consciência, noção clara das suas responsabilidades de membro de uma comunidade europeia que soube impor-se ao mundo pelos valores do espírito e ao mundo sempre soube fazer frente com a força das armas.

A história repete-se, e a nós veio a encontrar-nos na mesma disposição de há séculos. Isso só foi possível por uma persistente e larga acção de mentalização (essa mentalidade nova de que Salazar falou um dia), que mais não é afinal do que a educação de um povo em sentido nacional, isto é, povo consciente dos princípios que defende, da razão que lhe assiste e da força que tem.

Nenhuma educação - disse um dia Garrett - pode ser válida se não for eminentemente nacional. Por isso, todos os povos deverão receber a educação que melhor quadre à sua maneira de ser.

Defina essa educação, nos seus propósitos e nos seus limites, eis a primeira tarefa. Depois quanto possa acontecer sei ao apenas meios de chegar ao fim que se pretende. E esses meios, então, é que poderão andar ao sabor das e contingências temporais. Saber, a tempo e horas, aproveitar um clima emocional, adaptar um figurino na moda ou ajeitar roupagens próprias é uma arte que requer técnicos atentos e perfeitamente integrados no espírito nacional, para não se perder nesses encostos ao tempo presente o sentido profundo e perene dos princípios essenciais.

Ainda há pouco o Chefe do Estado promulgou o decreto que reforma as disposições por que se rege a Organização Nacional Mocidade Portuguesa. Nele se diz que «a formação integral da juventude portuguesa deve estimular a devoção à Pátria, o sentido da unidade nacional, o gosto da disciplina, processando-se à luz dos princípios e valores que informam a vida portuguesa, em vista à valorização da pessoa humana, dentro de um espírito de justiça social, de respeito das sãs tradições, de adaptação às circunstâncias dos tempos modernos e das várias parcelas do território português, de compreensão e solidariedade internacionais». Em suma, processar-se-á a formação da juventude à luz dos imperecíveis princípios e valores da civilização cristã, que sempre têm presidido, e continuarão a presidir, aos destinos de Portugal.

Foram uma vez mais lembradas as linhas mestras da acção educativa nacional Caberá à Mocidade Portuguesa, estruturada como está, isto é, sendo, mais do que instituição que por si aja, uma repartição técnica, um gabinete de estudo à procura dos meios de ocupar, com fim bem definido, o tempo livre dos jovens. A escola executará depois, com ampliada liberdade e, necessàriamente, maior responsabilidade.

Mas quantas crianças, terminada a instrução primária, prosseguem estudos, sequer só de ordem secundária. A média ge ral deve ser muito baixa, suponho que da ordem dos 30 a 40 por cento, pois Setúbal com todas as suas facilidades, consegue apenas 60 por cento. Que acontece então às outras? Ou se entregam à vadiagem ou procuram colocação para, através de longa tarimba, chegarem a profissão definida. Acabado o contacto com a escola, esses jovens, em plena formação, vivem perfeitamente ao sabor dos seus instintos, sem a mão forte da família, que, se a tivessem, teriam eles seguido estudos. Tenho-os visto, anos depois, entrar nas escolas nocturnas, por imposição dos patrões (e quero aqui render a minha homenagem a quantos põem como condição de permanência nos empregos que os seus empregados frequentem a escola nocturna), completamente alheios a qualquer forma de cultura, excepto a desportiva, mal sabendo contas, mal sabendo ler, sem a mínima capacidade interpretativa, incapazes, pois, de por si pensarem, presas fáceis de sugestões sociais de reivindicação revolucionária.

Entregando agora à escola a iniciativa e responsabilidade das actividades circum-escolares, a Mocidade Portuguesa, enfim liberta de um intervencionismo directo no meio escolar, que teve os seus fortes inconvenientes, a par, naturalmente, de muitas conveniências, poderia dedicar-se, com o peso da sua experiência e do seu dinheiro, à organização séria e profunda, sem improvisações sem indigências, dos centros extra-escolares, ou seja, do clubes da juventude que não estuda ou só estuda à noite. Aí, sim, aí há, desacompanhado e fértil, um campo enorme de acção a fazer. Ao longo dos anos, sem quase nada, lutando como heróis (na paz também há heróis!), rapazes formados nas fileiras da Mocidade Portuguesa dedicaram-se à formação de outros rapazes mais abandonados do que eles e constituem hoje um escol de que a Nação não pode prescindir, antes deve acarinhar, pois ele se fez na forja dos grandes feitos na acção e no sacrifício. E se não pode ou não quer a Mocidade Portuguesa deitar finalmente a mão fo rte e seguia aos centros extra-escolares, favoreça-se então a expansão do escutismo, que é uma escola de educação por excelência, a que este país deve mais do que se pensa e que também tem sabido preparar, ao longo de muitos anos, um escol de dirigentes caldeados.