Os meus colegas que ao tempo cursavam Ciências familiarizavam-se com uma tecnologia onde se falava de "categoria experimental" ou de "cúmulos de infinitos".

Muitos outros, porém sentíamos a problemática de uma explosão demográfica de um êxodo rural em massa de uma concentração urbana milionária.

Todos este movimentos naturais ou artificiais da população traziam quase sempre a marca de forças ocultas e perguntávamos a nós mesmos que hecatombes não prepararam aos homens nossos irmãos.

Era o movimento das estruturas sociais. Foi aí que pela primeira vez compreendi o sentido de uma expressão que posteriormente veria repetida a cada passo a aceleração da história.

Muitos confidenciavam que nada lhes parecia seguro nem na terra nem no Céu e alguns concluíam perante esta ansiedade que apenas valeria a pena viver o movimento presente.

Recordo-me de ter lido um dia na parede de uma república esta frase de Camões " Pour toujors serais etranger a moi-meme" .

Foram os anos que se seguiram ao termo da segunda grande guerra. Depois do drama de Hiroxima e de Nagasaki viriam as bombas de hidrogénio os múltiplos conflitos acesos em todos os cantos da terra o equilíbrio instável de uma de uma guerra fria sempre prestes a consumar-se em hecatombe total.

E mesmo os que eram poetas e no segredo da noite e no segredo da noite proclamavam a companhia das estrelas se sentiam possuídos por uma ansiedade frente à imensidão dos espaços. Já não era a evocação anteriana do soneto Mors Amor mas a humilhar que a recessão das galáxias ou o universo em expansão infligiam a nossa pobre Terra. Não há nada no nosso planeta no nosso Sol ou na nossa galáxia que seja notório ou digno de atenção concluíam os estudiosos do espaço exterior. A muitos restar-lhes-á repito com Pascal «Le silence eternel de ces espaces infinis in effraire»

Buscavam assim «para além das disponibilidades de vivas razões válidas de viver».

Algumas [...] e anseios que então se esboçavam viriam a ter amplo debate anos mais tarde no Concílio Vaticano II. Insistir-se-ia pelo valor próprio se bem que relativo das realidades terrestres fundidas em reflexões teológicas sobre a criação e a encarnação de Cristo.

Queremos tal propósito um depoimento autorizado.

A Igreja tem a dizer algo sobre os problemas do mundo moderno, sobre a técnica, a ciência e as tensões sociais entre classes, povos e raças. A ciência e a técnica criaram uma nova mentalidade um novo homem [ ]. O homem rompeu a unidade da Criação colocando de um lado o mundo da técnica, da arte e da ciência e, de outro lado o mundo da liturgia, da teologia e da piedade [ ].

Consequentemente o homem moderno fascinado pelas ciências naturais e pela técnica desnorteia-se com facilidade. Que significa a vinda de Cristo para a nossa salvação, se o cosmos conta dois biliões de anos de idade? Que houve no grande espaço de tempo anterior?

O sucesso de Telhard de Chardon está ainda na resposta que procurou dar a esta situação angustiante.

A relação intima entre Cristo sempre permanente do processo cósmico e a transfiguração do Mundo no fim dos tempos significa que Cristo em todo o curso da história quer encorporar a sua matéria do Mundo.

Reconhece-se que a teologia necessita de reflectir sobre as grandes verdades salvíticas a partir das realidades terrestres.

A criação por exemplo importa que seja vista na sua dinamicidade na situação social e cultural de nossos dias. Só assim obteremos uma teologia na sociedade do amor do matrimónio da família do Estado, da arte, da técnica e da economia solidamente fundamentada para a verdade da compreensão cristã.

Há anos que não vejo aquele meu contemporâneo de Coimbra que inscreveu na sua república a frase de Camus atrás citada.

Parece-me, contudo que ele hoje dava a sua adesão a este passo de um escrito de Caflarena.

Talvez Camus tenha compreendido só a meias aquela lenda de S. Demétrio que colocou nos lábios de uma personagem de Os Bastos «Tinha entrevista com Deus num campo, mas viu um campones com o carro atolado e ficou a ajudá-lo e quando chegou ao lugar marcado já não encontrou a Deus». Não deveríamos completá-la desta forma «porque já O tinha encontrado através do amor que o uniu ao irmão e ao seu trabalho».

Deste modo também «a pastoral deixou de ser apresentada como assunto exclusivo dos pastores numa Igreja clericalizada».

Fala-se hoje de uma pastoral de conjunto de grande espaço e a longo termo.

Longe de mim discutir a apreciação dos povos [...] a actualidade portuguesa.

Situado no âmbito das exigências de formação cristã da nossa juventude já não seria [...] um ou outro aspecto que mais interessava aos propósitos educativos.

O ordenamento pastoral de Braga com a abundância do clero seria diversa do de Coimbra com um escol de leigos ou do de Lisboa e Porto com 25 por cento da população do país e a multiplicidade de problemas característicos das grandes aglomerações urbanas. As exigências dos meios rurais por seu turno surgem hoje agravadas com o êxodo rural e a emigração ou até a preparação espiritual dos jovens que servirão como militares ou colonos no ultramar.

Parece-me que a Igreja nem sempre tem aproveitado inteiramente as facilidades de acesso às escolas primárias.

Ainda para serviço neste nível primário a formação de pessoal catequístico ou a intensidade da sua acção variam com as diferentes regiões mesmo dentro de cada diocese.

Igualmente urgente será modernizar e tornar mais eficaz a educação e a instrução religiosa no ensino médio. Os cursos secundários nomeadamente os de natureza técnica, têm uma massa escolar heterogénea muitas vezes proveniente de grupos sociais onde a presença da Igreja tem sido enfraquecida.

Quanto ao ensino superior, a ausência de formação religiosa a nível correspondente e a função pouco formativa sob o ponto de vista espiritual dos estudos constitui gravíssimo problema muitas vezes denunciado.

Tais deficiências afectam já toda a estrutura cultural portuguesa.

«Uma pastoral cultura consciente» escrevia há tempos António da Silva «perguntar-se pela presença da Igreja no meio universitário, e não apenas em actividades