a governação e a força produtiva do país que se encontram e se logram conhecer.

Não estamos em época propícia a despesas extraordinárias, eu reconheço. Não tenho em mente vir aqui propô-las. Criar o Instituto Superior de Defesa Nacional não implicita construir um edifício volumoso, construir grandes quadros directivos ou docentes, gerar burocracia. Eu estou certo de que a Universidade de Lisboa - como alma mater que se orgulha e se distingue - abriria as suas portas ao instituto cimeiro da Nação. Professores do Instituto, os seus próprios auditores, muitos deles, em cada especialidade, provàvelmente, os nossos melhores valores. Conferencistas voluntários não faltariam. Para marcar o rumo, um director prestigioso com um staff brilhante mas reduzido ao mínimo.

Eu acredito cada vez mais, à medida que anos se me vão passando, na boa vontade dos homens e na pureza das suas intenções. E é pena, é desencorajante, que o

resultado do conjunto nem sempre satisfaça. Creio bem repito-me não é culpa dos homens, mas sim das circunstâncias. Por isso aqui venho depor a minha achega para a resolução do problema. Achega despretensiosa, desoriginal, mas, oportuna, se me afigura. Bem sólida no entanto, porque se alicerça no testemunho de experiências com êxitos irrefutáveis.

Portugal vive hoje horas difíceis, já as viveu, porém mais críticas na sua longa história. Não é caso de vida ou morte, como duas ou três vezes em oito séculos de lutas que defrontamos. Contudo, requer-se, neste mundo incerto e pouco elucidado em que vivemos, uma economia de esforços elevada ao máximo, optimizada.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Para novas exigências, novas técnicas. Elas existem, utilizemo-las.

Não são as qualidades básicas do homem português para o combate, não é o valor dos chefes militares que me preocupam. É antes a capacidade de encaixe da Nação ao desgaste prolongado que vai durar não sabemos quantos anos. Guerra que aos militares transcende e ultrapassa, guerra que só a Nação toda poderá aguentar até que certo mundo se esclareça, compreenda e mude de atitude.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nada de nos interrogarmos quando vai a guerra terminar? Nada de afirmações de que a guerra está quase ganha ou vai em breve sê-lo. Antes uma atitude firme, determinada e em profundidade, de que a guerra vai durar até ser ganha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Todos certos, mentalizados, conhecedores das tarefas uns dos outros, chefes militares, altos dirigentes públicos e responsáveis das grandes actividades da Nação, constituindo equipa homogénea, sem dispersão de esforços, assim conseguiremos. Para tal, não bastam os discursos, as afirmações de carácter patriótico, as boas vontades.

Há-de caldear-se a equipa dirigente no conhecimento mútuo. Crie-se o Instituto Superior de Defesa Nacional e promova-se a sua frequência pelo nosso escol de dirigentes, civis e militares. E estou bem seguro que nele se não limar arestas, harmonizar conhecimentos, modificar idiossincrasias e até nascer amizades, o que tudo muito ajudará no impasse grave, mas não desesperante, que a nossa pátria está atravessando.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Continua o debate do aviso prévio do Sr. Deputado Braamcamp Sobral, sobre a educação da juventude.

Tem a palavra o Sr. Deputado António Cruz.

O Sr. António Cruz: - Sr. Presidente; Ao efectivar o seu aviso prévio sobre o problema da educação, o ilustre deputado Braamcamp Sobral sublinhou pertinentemente, e no oportuno momento, que «todos os dias a Pátria pede à nossa juventude que morra por ela e a juventude responde virilmente a este apelo. Se à juventude se pede o máximo, não pode haver tranquilidade nas consciências enquanto o máximo não lhe for dado»

É esta, efectivamente, a magna preocupação que se nos impõe hoje em dia, arrancando de premissas a que não andávamos habituados. Assim a incomodidade, assim o afastamento do lar e da escola, assim a ausência do convívio de quem é da sua igualha, assim todo o sacrifício, assim a oferta da própria vida, se tanto se pede e tanto se exige da juventude cabe-nos a nós a responsabilidade inteira de acautelar o seu futuro o de a defender, no presente, de ataques traiçoeiros ou manobras que tendam a desviá-la do seu verdadeiro caminho.

O problema em debate suscitou interesse não vulgar consoante o dizem, em número e qualidade, as intervenções por ele sugeridas. Autorizadamente, exprimiram alguns ilustres Deputados o que pensam quanto a este ou àquele aspecto no que toca a este ou àquele pormenor. São depoimentos pessoais e como tal a expressão de sentimentos próprios. Mas não há a divergência a separá-los, pois que nem um só deixou de ser orientado para o mesmo objectivo. Tal e qual como sucederá agora e em relação ao pobre depoimento que eu me afoito a trazer a estas Cortes Gerais de autêntica portugalidade - pois que está em causa o próprio futuro da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Quando falamos de educação da juventude, nem sequer pensamos noutro objectivo ou tarefa que não seja a preparação do jovem de modo a que ele se comporte, quando homem, na verticalidade que deve caracterizar o mesmo homem. Crente, respeitador, instruído desempenado de atitudes, leal na sua actuação audaz no seu gesto, firme no posto que lhe couber - um cristão e um português de lei.

Se assim o queremos e ambicionamos, importa agir sempre de acordo com a nossa vontade e a nossa esperança. E então cumpre-nos desempenhar alguma tarefa que venha a inserir-se num programa de acção chamando a nós, voluntariamente, a responsabilidade da sua execução integral e eficiente. Talvez não careça de me explicar melhor, em ordem a dizer das razões por que também peço licença para intervir neste debate posto que o faça apenas através de um simples apontamento.