carregado de estudar as bases técnicas e económicas que serviriam de alicerce para o lançamento da rede eléctrica nacional.

Faziam parte deste grupo os Eng.ºs Ferreira do Amaral e couto dos santos, pais dos prestigiosos engenheiros que usam os mesmos apelidos, e o prof. Eng.º Ferreira Dias.

Desde então e até à sua morte jamais Ferreira Dias deixaria de ocupar uma posição da maior responsabilidade no comando da política orientadora do fomento da electrificação do País.

Chefe da Repartição dos Serviços Eléctricos na antiga Direcção-Geral dos Serviços Hidráulicos, ocupa depois e sucessivamente o cargo de presidente da Junta de Electrificação nacional, de Subsecretários de Estado do Comércio e Indústria de presidente do Conselho Superior de Electricidade, de Ministro da Economia e de presidente do Conselho de Administração da Companhia Nacional de electricidade, concessionária da rede primária do transporte de energia eléctrica, desde a sua criação.

A Ferreira D ias ficou o País a dever, na maior parte, o lançamento da rede primária do transporte e a política de fomento da produção eléctrica.

Melhor se avaliará a grandeza da tarefa já realizada neste sector comparando a situação em que nos encontráramos em 1927 com as realidades de 1965.

Em 1927

Potência instalada - 134 000 kW.

Energia produzida Kilowatts hora

O consumo especifico por habitante era apenas de 26 kWh por ano, provindo em mais 70 por cento de energia térmica, logo com combustível importado e consequente saída de divisas.

Como em tantas coisas más poderá afirmar-se, sem redundâncias escusadas, que no sector da electricidade a Revolução Nacional arrancou quase do zero.

Em 1965 os números indicativos são os seguintes:

Potência instalada - l 846 000 kW

Energia produzida Kilowatts hora

Via hidráulica....................... 3 983 000 000

O consumo específico por habitante subiu paia 492 kWh ou dezanove vezes mais do que em 1927.

As linhas de alta tensão, com tensões inferiores a 100 kV, percorriam em 1927 apenas, 1714 km, enquanto em 1965 se estendiam por 22 339 km, entre os quais 2572 km com tensões superiores a 100 kV.

Em 1965 encontravam-se electrificadas 2351 freguesias na metrópole, não incluindo as sedes dos concelhos, representando mais de 69 por cento do total.

Nos últimos dez anos foram electrificadas cerca de 1000 freguesias.

Bastariam estas realizações, verdadeiramente notáveis no sector da electrificação para se prestar merecida reverência aos seus principais doutrinadores e realizadores, entre os quais ferreira Dias ocupou sempre lugar de destacado relevo.

Nos alvores da Revolução Nacional vivia-se também quase no zero no sector industrial.

Não dispondo de matérias-primas essenciais, nem de capitais, nem de técnica capaz estávamos em grande atraso industrial e no convencimento de que éramos, e seríamos sempre, um país essencialmente agrícola, se não exclusivamente.

Na verdade, no campo industrial pouco se enxergava para além do sector artesanal, geralmente com características regionais.

Receava-se que um começo de industrialização criasse um proletariado exigente, à custa do abandono dos campos, e fizesse surgir um capitalismo egoísta, tudo contrário a nossa tradicional maneira de ser e de viver.

Nos países ricos de capitais e de matérias-primas, e com uma mentalidade actualizada a gerir as actividades, o desenvolvimento económico decorre com aparente facilidade, como sendo uma consequência de determinada consciência colectiva.

Não é fácil, e normalmente é impossível, conseguirem-se resultados equivalentes em países como o nosso.

O Dr. Rafael Duque ao assumir a pasta da Economia teve a seu lado como Subsecretário de Estado do Comércio e Industria e seu mais próximo colaborador o Prof. ferreira Dias.

É quase impossível regressar 25 anos atrás e reviver o que então se passou.

Terminara a grande guerra, que arrastara a Europa, se não o Mundo, para a confusão, para a miséria e para na dor. Lutava-se com as mais tremendas dificuldades. Foi uma tarefa quase sobre-humana assegurar um mínimo do indispensável abastecimento público e ocorrer às múltiplas exigências do agregado nacional.

Ferreira Dias, sem preocupações de fácil popularidade, debruça-se com entusiasmo no estudo de uma política de desenvolvimento industrial e formula uma meia dúzia de princípios orientadores que possibilitassem o respectivo arranque e simultaneamente viessem a criar uma mentalidade nova nos empresários e nos técnicos.

Aqueles princípios hão-se inscrever-se numa proposta de lei a submeter à apreciação e votação da Assembleia nacional - mais tarde a lei n.º 2005.

Os mais velhos talvez recordem a discussão daquela proposta de lei e a intervenção verdadeiramente notável do Dr. Rafael Duque em sua defesa.

A votação de uma das bases conduziu a Assembleia a uma situação singular, porquanto se igualaram os votos a favor e contra.

O saudoso presidente, a figura gentilíssima do Prof. José Alberto dos reis, encerrou os trabalhos perante a dúvida de qual seria o caminho a seguir para o nosso desenvolvimento industrial.

A futura Lei n.º 2005 foi assim talhada ao sabor das nossas opiniões desencontradas.

Apesar de tudo, ela foi o nervo motor de uma arrancada espectacular do País e de uma mudança radical de algumas das ideias que se encontravam inveteradas em muitos espíritos.

A noção de uma conveniente dimensão empresa-estabelecimento - da necessidade de adopção de novas técnicas e modernos equipamentos, de um mínimo de competência na gestão das empresas apoiada em boa técnica, e de uma orientação empresarial actualizada, são princípios já respeitados, acatados e seguidos pela grande maioria dos nossos industriais. Uma nova mentalidade surgiu em toda a actividade industrial.

Pode objectar-se que não foram alcançados todos os propósitos, já que perduram, e em número, empresas marginais.