Diz [...] Orizet que o movimento cooperativo desempenha um papel cada vez mais importante nos países em vias de desenvolvimento, contando-se hoje cerca de 250 milhões de cooperantes, repartidos por 120 países.

O Sr. Cazal Ribeiro:- V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador:- Faça favor.

O Sr. Cazal Ribeiro:- Suponho que V. Ex.ª está a glosar o tema posto há dias pelo Sr. Deputado Manuel Nazaré na efectivação do seu aviso prévio. Pode V. Ex.ª dizer-me porque não pediu a generalização do debate?

O Orador:- Estou desenvolvendo o mesmo tema que tratei na minha anterior intervenção que foi sobre ruralato autónomo, e que estou agora a desenvolver para chegar ao cooperativismo rural.

O Sr. Cazal Ribeiro:- pelo início das considerações de V. Ex.ª pareceu-me que estava a responder ao Sr. Deputado Manuel Nazaré. E isso impressiona-me, porque não pediu a generalização do debate, sendo V. Ex.ª Deputado por Moçambique.

O Orador:- Se nas minhas palavras se encontra implícita alguma resposta às considerações do Sr. Deputado Manuel Nazaré é porque ele pisou o mesmo terreno que eu tinha pisado anteriormente.

O Sr. Cazal Ribeiro:- Portanto e por simples coincidência.

O Orador:- Sim.

O Sr. Cazal Ribeiro:- Muito obrigado.

O Orador:- As organizações internacionais, sobretudo o Bureau Internacional du Travail, têm desenvolvido intensa actividade no plano cooperativo, com incidência relevante nos países em desenvolvimento da África, da Ásia, e da América Latina.

Guy Belloncle diz que é preciso ajudar os agricultores a organizarem-se para que sejam eles próprios a Ter na mão a venda da sua produção comercializável.

Philipe Avdalot preconiza como necessárias certas condições.

Liberdade de se associar

Ajuda constante do Estado

Técnicos feitos nas cooperativas

Ideologia de cooperação

Bento Correia estuda a cooperativa agro-pecuária no quadro da regedoria, em trabalho publicado na reserva Económica de Moçambique afirmando em certo passo que o cooperativismo tem vindo a responder satisfatoriamente a problemática que se põe presentemente a toda a actividade agrícola.

Mais adiante diz

O agricultor tradicional não passa de uma unidade produtora economicamente débil e assim tem de ser considerado. Carece de ajuda, a qual para ser eficiente, tem de estar devidamente organizada. Oferecer-lhe de vez em quando sementes ou a garantia de compra dos excedentes da sua fraca produção não é quanto a nós solução para o problema. Parece-nos que a criação de cooperativas de produção na base de regedoria, apoiadas por um departamento de assistência adequado, seria realmente uma solução válida para abreviar a melhoria do nível de vida das populações agrícolas do sector tradicional.

Temos em Moçambique experiências feitas, como atrás foi referido no passado dia 25 de Janeiro aqui nesta sala, numa comunicação que se revestiu para (...)do maior interesse.

Muitos dos problemas relatados já têm sido tratados por mim noutras intervenções e sempre com o compreensível entusiasmo de quem no ultramar já vive há mais de vinte anos e para lá levou o coração e a fazenda.

Folheando os estatutos de uma das cooperativas agrícolas criadas em 1961, pode ver-se que as suas funções são de compra, produção, transformação e venda e ainda, a de poder exercer o seguro mútuo de gado.

Algumas das cooperativas já criadas e que tiveram o seu período de louvável actividade, foram a pouco e pouco perdendo a sua vitalidade, mas a culpa foi mais circunstancial do que estrutural.

Parece chegado o momento de levantar de novo o estandarte cooperativo rural mentalizando os seus quadros e convencendo os cooperantes. E com o cooperativismo virá o armazém comunitário e a rede irá cobrindo todo esse mato africano, rasgando caminhos positivos e estruturando uma sociedade portuguesa e consciente das suas esperanças e das suas realidades.

Vozes:- Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Horácio Silva:- Sr. Presidente. Pedi a palavra para me ocupar de Angola uma vez mais e de um dos seus problemas que se me afigura da maior relevância o problema do cancro naquela nossa província. Mas não sendo médico, espero se não suponha que me atreveria a «meter force em seara alheia», ocupando-me dele do ponto de vista clinico ou cirúrgico.

Nada disso, evidentemente, nem aqui seria o lugar próprio. Cuidarei sim do que esta patente e ao meu alcance, isto é das implicações sociais e políticas do problema.

Como em todo o mundo, é o único e também em Angola dos mais terríveis inimigos do homem. É «a doença que não perdoa», segundo o [...] em voga. Que perdoa tanto menos quando é certo que que para isso ali faltam as possibilidades de tratamento pelas radiações e falta na verdade quase tudo- a começar pelo [...] e as possibilidades de um diagnóstico a tempo que permita ao enfermo (aquele que o possa fazer) procurar a salvação. Só não falta ali a angustiada boa vontade de alguns ilustres médicos e de alguns ilustres cirurgiões, nos quais se devem as vidas que se têm salvo daqueles que são passíveis de tratamento local. Mas oculto é que em Angola em regra quando o infeliz atingido pela terrível enfermidade obtém o diagnóstico esta já irremediavelmente perdido. Numa ansiedade compreensível vai ainda então à África do Sul ou do Sudoeste Africano se tem meios bastantes para isso. Ou vem a Lisboa se tem alguns meios ou se é [...] público ou não o sendo, se obtém a dadiva de uma passagem pelo I A S A (Instituto de Associação Social de Angola) para vir do mesmo modo a Lisboa, onde então nem aos pobres faltará o tratamento devido até ao limite das possibilidades. Simplesmente e em regra como o doente não foi diagnosticado a tempo, vem tarde. Demasiado tarde para ele como para muitos outros mais infelizes ainda que economicamente débeis e sem protecções ou possibi-