firmeza, os desvios ou omissões dos homens incumbidos da sua execução.

E na desordem de uma África pretensamente em evolução, "governar ao rumo" requer cada vez mais atenção e uma sensibilidade aguda para evitar os desvios causados por "correntes de fundo".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Como tão judiciosamente disse o ilustre colega Dr. Nazaré.

A África não partiu. Ela está mesmo, talvez, em regressão.

Dolorosa situação, da qual Portugal pode honrar-se de não ser co-réu no julgamento que um dia fará a história.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Cingindo-me ao problema da fixação do agricultor africano.

Certamente que, sob múltiplos aspectos, acho altamente desejável esta fixação.

Se, como diz o ilustre colega Dr. Nazaré, o nómadismo é uma consequência das "condições ambienciais", há que reconhecer-lhe um alto mérito foi a mais inteligente defesa possível contra aquelas condições, ao mesmo tempo que evitava a erosão dos solos. É dos tais casos rotulados de "bárbaros" e cuja sabedoria vem a ser depois reconhecida.

Se interessou verificar a "certeza do rumo", não é menos importante "estudar a carta" (Novamente a deformação profissional ).

Praticamente, 50 por cento de Moçambique estão infestados de tsé-tsé infectado o que obriga a agricultura sem gado.

Extensas áreas, como o Sul do Save (com excepção de reduzidos microclimas como Zavala e Maputo), sofrem de uma tal irregularidade de chuvas que eu dizia serem anormais os anos de chuvas regulares.

Vamos, pois, encontrar ao longo da nossa rota estas duas "correntes contrárias", que temos de vencer ou contornar, pois é condição essencial que a fixação do agricultor africano se taça, sempre e sem excepção, em seu benefício.

Elemento fundamental a considerar é o homem. Este, graças a Deus, não é contrário Compreende e colabora sempre que lhe mostram ser benéfica qualquer inovação.

Tem uma intuição especial para "separar o trigo do joio".

Nestas bases, foi feita em Moçambique a experiência de fixação do agricultor africano, em escala de certo modo extensiva, pois nas duas modalidades, cooperativa de agricultores e concentração de agricultores, o número total destes ascendeu a uns milhares.

As cooperativas foram experimentadas entre povos de tradição guerreira, como os landins do Chibuto, de tradição agrária, como os muchopes de Zavala, e destribalizados, como os de Vila Luísa e Manhiça (sede).

Quanto ao tipo de exploração, havia o tipo agro-pecuário nas de Chibuto e Manhiça e caracte risticamente agrícola nas outras.

Quanto as concentrações a primeira experiência, se me recordo de 1949 falhou, mas por imperfeita orientação, que não por culpa dos agricultores.

As experiências subsequentes foram todas um sucesso merecendo especial menção o conjunto dos parcelamentos no vale do Limpopo, logo a montante de João Belo, que no seu conjunto apresentavam, em fins de 1957, os seguintes resultados

(ver tabela na imagem)

(Fl. 112 do relatório sobre o resgate dos machongos do Sul do Save, referente a 31 de Dezembro de 1957). Friso que este sucesso notável se deve à brilhante actuação da brigada sob o seu notabilíssimo chefe, Eng.º José Firmo de Sousa Monteiro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não cabe aqui apreciar em pormenor esta obra, pelo que me limito a indicar o custo médio por hectare/regado (2000$) e registar que foi um sucesso.

No distrito de Moçambique foram experimentadas as concentrações, todas apoiadas em pequenas barragens de regadio (custo médio por hectare/regado 960$) e em todas se obtiveram bons resultados.

As cooperativas foram iniciadas no Chibuto (1951-1952) seguindo-se Zavala (1955), Manhiça e Vila Luísa (1956). Todas constituíram reais sucessos.

Do trabalho das cooperativas de Zavala fez o seu dinâmico administrador relatório à parte, do qual extraio uns elementos que julgo interessarem ao caso em apreciação.

Agrupavam 815 agricultores e ao cabo do segundo ano de funcionamento dispunham de máquinas e alfaias para uso colectivo no valor de 1 343 000$ (incluíam 17 tractores Fergusson), durante 1956, o crédito concedido a sócios para compra de alfaias individuais foi de 66 779$, e em trabalho das máquinas e alfaias, incluindo o combustível, foi de 12(5751$ Os depósitos individuais do agregado dos sócios na Caixa Económica Postal somavam, em 31 de Dezembro de 1956, 567 644$60.

E os resultados nas restantes cooperativas foram também plenamente satisfatórios.

Sr. Presidente e ilustres colegas. Peço vénia e desculpa por novamente me citar, mas, estando a prestar um depoimento, amputá-lo para evitar citar-me seria cobardia moral, uma vez que considero útil faze-lo. São excertos de um despacho meu, de 8 de Junho de 1957, sobre as cooperativas de Zavala.

O objectivo económico das cooperativas não prima sobre o "político-social", antes é um meio de atingir este.

À medida que o indígena ascende na escala da civilização, ganha personalidade própria, vai deixando de ser um "elemento da massa tribal" para se tornar o "homem consciente" e vão enfraquecendo os laços tribais. Esta "consciência" que vem adquirindo o indígena não lhe permite, porém passar imediatamente da vida tribal à nossa organização social, mas é o início do período de transição, que levará gerações, durante as quais o indígena por evolução constante, virá a atingir o nível de civilização que lhe permita integrar-se então naturalmente, na nossa organização social.