imperioso e urgente fomentar por todos os meios a valorização dos meios rurais, aliciando a fixação dos seus valores populacionais.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Certo de que as grandes tarefas dessa política nacional têm de ser desempenhadas pelas autarquias locais, designadamente pelos municípios, mas continuando-se a ignorar que as autarquias se debatem com as mais avassaladoras dificuldades, provindas principalmente, da magreza dos seus créditos, pelo que não podem obviar convenientemente às muitas carências locais pelas suas próprias forças têm de ser estimuladas todas as fontes de ajuda, seja qual foi a sua natureza.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Ora entre essas fontes encontram-se em lugar bem destacado as agremiações regionalistas.

Não será, por isso, destituído de cabimento que, uma vez mais, se apele paia o Si Ministro do Interior, lembrando-lhe a necessidade de ser concedido a essas prestantes agremiações o maior número de facilidades que lhes auxiliem a preciosa existência, no número das quais se encontra a da sua classificação como pessoas colectivas de utilidade pública administrativa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Não me parece que seja pagar muito caro toda a gama de serviços que as mesmas estão a prestai às populações que as criaram, e que, afinal, se traduzem em relevantes serviços prestados à própria Nação.

Todos estes serviços avultam especialmente em relação à Casa das Beiras, a qual ocupa o lugar mais alto na hierarquia- do regionalismo beirão, não só na metrópole como no ultramar, que tem servido com íntegra dignidade e a maior nobreza.

Prolongada até ao Brasil ocupa ali um lugar de muito destaque entre os organismos que representam as províncias da Mãe-Pátria, pelo papel de alta relevância que desempenha no fortalecimento do luso-brasileirismo.

Tem, assim, a Casa das Beiras um notável capital de benemerências que justificam amplamente a sua classificação de instituição de utilidade pública, sem demo ia Fico certo de que, nesta hora de transe, o Governo não demorara a conceder-lha, em nome dos melhores ditames da justiça.

Vozes: -Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado

O Sr Presidente: - Vai passar-se à

O Sr Presidente: -Continua em discussão na generalidade a proposta de lei sobre o regime jurídico da caça Tem a palavra o Sr Deputado Duarte do Amaral

O Sr Duarte do Amaral: -Sr Presidente Sinto ser desnecessária a minha subida- à tribuna para falar do regime jurídico da caça Têm sido postos a d aposição desta Assembleia vários e bem elaborados documentos que a todos nos habilitam a legislar sobre o assunto a proposta do Governo, o parecer da Câmara Corporativa, sugestões, pareceres, os estudos e os discursos dos ilustres colegas que já aqui falaram sobre este problema.

Mas sendo eu um velho caçador que não sabe quando começou a caçar e só se lembra que começou menino, custar-me-ia não dizer duas palavras, não esboçar um simples apontamento sobre a caça.

E tendo tido a honra e o prazer de caçar mais de uma vez com V Exa., Sr Presidente, gostava, por outro lado, de lhe dirigir os meus cumprimentos neste momento em que se discute o regime de um desporto que V Ex. praticou com tanta galhardia e grande camaradagem.

Sr Presidente É pena, nisto da caça, não poder gozar-se de inteira liberdade Nada como sair quando apetece, ir onde se quer e como se quer correndo montes e vales sem muros nem guardas Assim fui criado, aliás, e julgo ainda hoje ser essa a forma mais bela de praticar tão magnífico desporto.

As primeiras caçadas, a que assisti foram as corridas de lebres na minha região natal Vinda muito novo, lá ia a cavalo ver correr as lebres nos sítios apropriados e assista à disputa das grandes matilhas do visconde do Paço de Nespereira e do Joaquim Marchante Nunca mais me esqueceram nem esquecei ao as emoções dessa época Tempos depois quando eu era aluno dos últimos anos do liceu, em redor de várias freguesias, já se perguntavam os camponeses e os caçadores então, viste a lebre? Hoje por lá, pelas terras de Guimarães, e creio que pelas outras terras do Norte, lebres só se forem levadas daqui já feitas em almôndegas.

No Outono, nos campos que se desdobram de A Ver-o-Mar à Apúlia, entre a Póvoa e Esposende, era um regalo a caça à codorniz com dois, bons cães, e todo o caçador traz a um cinturão que podia ver-se Fui lá vinte anos depois e não ouvi um tiro.

Nas margens do Douro, mais, ou menos onde está a sei construída a barragem do Carrapatelo, fazia-se uma abei tuia de caca original Os batedores andavam nas margens do rio, os passar os atravessavam-no e os caçadores atiravam-lhes de dentro de barcos rabelos Era cómodo, mas errava-se muito, pois as perdizes eram tão altas e galeadas como as mais difíceis do Guadiana Mas já não passam perdizes que valha a pena caçar sobre o Douro, no sitio do Carrapatelo.

Outras caçadas, para mim memoráveis, faziam-se ao coelho e à perdiz na vertente sul do monte da Penha Levantávamo-nos às 4 horas da manhã e lá íamos, o regedor, o presidente da junta e outros amigos, alguns hoje já muitos, aos guizos separados, a bater aqueles campos e serras Havia um almoço farto, em que todos nos juntávamos, e chegávamos à noite cansados, sujos, como convinha a bons caçadores de salto, mas com muitos coelhos e bastas perdizes.

Aqui há anos, porém, antes da mixomatose - e foi a última vez que por lá cacei, trouxemos quase todos o nosso coelho e um de nós também uma perdiz!

Podia continuar, Sr Presidente, a relatar casos como estes, passados aqui e além, mas creio que este panorama cinegético é praticamente o de todas as terras do Norte e até de todo o continente, com excepção de algumas da Beira Baixa, do Ribatejo e do Alentejo.

Quer dizer cuca já não existe praticamente em Portugal, embora ainda teime em subsistir em algumas províncias do Sul Ou se para já com a sua destruição sistemática ou mesmo estes terrenos deixarão, dentro de pouco tempo, de ter interesse cinegético.

Vozes: -Muito bem!