Na França e na Itália, há uma cama para cada 1000 e, na Bélgica, Suécia e Holanda, 14 para cada 10 000.

Mas, além disso, as camas para crianças nas Beiras não constituem enfermarias especializadas, confiadas a pediatras - salvo Aveiro, Viseu, Covilhã e Coimbra Estão dispersas por enfermarias gerais e não são confiadas a especialistas.

A separação das crianças dos adultos nos hospitais começou há mais de 70 anos, em Paris, com a fundação, em 1892, do Hôpital des Enfants Malades. A ideia do hospital de crianças foi evoluindo, as técnicas foram-se aperfeiçoando, foram-se combatendo as infecções cruzadas intra-hospitalares, foi-se estudando a adaptação psicológica da criança ao meio hospitalar, etc. Fez-se uma notável evolução desde o albergue e o hospício da Idade Média até agora, até à moderna concepção do hospital de crianças, «centro técnico de saúde», no dizer de um grande mestre da pediatria francesa - o Prof Marcel Lelong. No VII Congresso de Técnica de Saúde, em 1963, os Profs Lelong e Jeune trataram com excepcional relevo este problema.

Nesta nova concepção, o hospital de crianças cobre simultaneamente todos os problemas somáticos e psíquicos da criança, encarando ao mesmo tempo a medicina preventiva, a educação sanitária e as técnicas terapêuticas.

A Conferência de Basileia de 1935 e as reuniões de Paris de 1956 e de 1963 vieram confirmar que o hospital especializado de crianças é um problema de inteira actualidade, e não ultrapassado, como já se quis fazer ver.

De resto, a Academia Americana de Pediatria, em 1960, proclamou que as crianças não devem ser hospitalizadas conjuntamente com os adultos, porque têm necessidades básicas que têm de ser satisfeitas por pessoal especializado Em 1963, o Prof Julien Marie, do Hôpital dês Enfants Malades, de Paris, animou ser necessário tirar os serviços de pediatria dos hospitais de adultos e agrupá-los em um ou mais hospitais de crianças. Hoje, as crianças que vêm para o hospital não são das mesmas origens, nem vêm pelas mesmas doenças que ali as traziam há 30 ou 40 anos Então eram as das classes pobres que vinham morrer no hospital com difteria, sarampo, tosse convulsa, gastrenterites, etc. Hoje, em muitos países modificou-se a incidência dessas doenças, tomaram vulto a medicina preventiva e a educação sanitária, equiparam-se melhor os hospitais, preparou-se pessoal especializado, e agora vêm para o hospital crianças de todas as classes sociais, portadoras das mais variadas doenças, desde as malformações até às doenças metabólicas, renais, neoplásicas, neurológicas, etc. A pediatria é uma especialidade que conquistou a sua independência no começo deste século Os problemas da criança, tanto de recém-nascido, como de lactante, da segunda ou da terceira infância, devem ser resolvidos pelo pediatra.

Estes hospitais para crianças têm de ter uma arquitectura e uma fisiologia particulares Mas o hospital de crianças justifico-se não só pelas necessidades de uma assistência à criança doente por médico especialista, como ainda pela enfermagem especializada, pela necessidade de uma profilaxia eficaz das infecções cruzadas, pela assistência permanente por internos especializados, e até pela técnica dos exames laboratoriais.

E, se o hospital especializado de crianças é necessário pelo que respeita à assistência à criança doente, é-o ainda muito mais quando tem também funções pedagógicas, quando tem de dar conhecimentos básicos de pediatria aos futuros médicos, quando tem de preparar estagiários que pretendem vir a ser médicos especializados em pediatria.

Sr. Presidente Há mais de vinte anos, em 17 de Janeiro de 1946, na tribuna desta Assembleia, ocupei-me da situação da criança doente em Portugal e da maneira como então era assistida, quando aqui discutimos o projecto de lei das construções hospitalares.

Peço licença para recordar o que então disse:

Quem tem vivido momentos de verdadeira angústia a seguir crianças gravemente enfermas, portadoras, tantas vezes, de doenças eminentemente contagiosas, quer em regime ambulatório, vendo-as expor a todas as inclemências do tempo, quer nos seus próprios tugúrios, sem o mínimo conforto e o mais leve recurso, por não ter possibilidades de lhe conseguir uma cama no hospital, exulta de alegria ao verificar que há justificada esperança de poder ainda assistir à criação das condições que garantam a extinção das, deficiências que desde sempre temos tido.

Mas hoje poderia dizer o mesmo!

No decurso do debate, com o precioso auxílio de outros colegas, conseguimos a aprovação de uma alteração do n.º 2º da base VI da proposta, e, através dela, ficou consignado:

Além dos hospitais gerais, haverá, em cada zona, um ou mais hospitais especializados para tratamento das doenças infecto-contagiosas, de doenças das crianças e de outras doenças especiais.

O nosso Hospital Central da Zona apenas dispõe, para assistir às crianças doentes da zona, de um salão onde outrora se mantinham com certo à-vontade 18 crianças, mas em cuja área, depois da implantação de alguns biombos, se puseram berços e lonas que chegam a albergar 40 e mais crianças!

Não é possível, em tais condições e com o pessoal de que se dispõe, evitar gravíssimas infecções cruzadas e deixar de deplorar muitas outras desagradáveis consequências que eu aqui não quero referir.

Coimbra tem necessidade absoluta de ter um hospital de crianças, mas, para além disso, tem, desde há mais de vinte anos, direito legal de o possuir.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Nenhum de nós tem dúvidas sobre a generosidade que tem presidido à construção de certas unidades hospitalares, e julgo também que nenhum de nós duvida de que, se se tivesse elaborado um criterioso plano de prioridades, Coimbra já há muito teria o seu hospital para tratamento das crianças que a Lei n. º 2011 lhe atribuiu há mais de vinte anos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - As obrigações que agora impendem sobre num, como responsável pela clínica pediátrica da Faculdade de Medicina de Coimbra, impõem-me o dever de, em complemento de outras diligências que já fiz, solicitar de SS. Exas. os Ministros das Finanças, das Obras Públicas e da Saúde e Assistência um exame cuidadoso e consciencioso das condições em que suo internadas as crianças doentes no Hospital Central da Zona Centro.