a criar e, quantas vezes, afligindo as populações que abandonam os seus lares, entre os gritos das mulheres e o choro das crianças.

Hoje é um pinhal a arder no Entre Douro e Minho, amanhã é na Beira Alta que não tem sido poupada, mas depois é em Setúbal na serra de Sintra ou em Cascais.

Salvo nos incêndios junto das estradas - provocados pelos cigarros dos automobilistas que, distraídos ou sem educação, lançam as pontas para as bermas, esquecendo-se de que todos os automóveis tem cinzeiros - há sempre uma suspeita de fogo posto. Nunca se descobrem os autores e fica sempre a existir, por isso, um ambiento de dúvida, de incerteza.

É claro que muitos dos incêndios que grassam no Verão são devidos a causas fortuitas, mas outros serão provocados, pois é grande, infelizmente, a maldade dos homens e terrível o ódio que mantém vivo o espírito da vingança.

Pois no ano passado, precisamente nos primeiros dias de Setembro correu mais uma vez em todo o concelho de Sintra, em Cascais e em Lisboa, a alarmante notícia de que estava a arder a serra de Sintra.

Quem lá vive ou vivia, quem teve a curiosidade de lá ir, sabe da rapidez com que se desenvolveu o temeroso incêndio, que durou vários dias.

Arderam matas de grande valor económico, perderam-se árvores maravilhosas, estiveram em perigo verdadeiros monumentos nacionais - como os Capuchos, [...], a Penha Verde - e encontram-se fortemente ameaçados outros edifícios, entre os quais destaco apenas o magnífico palácio de Seteais.

Enfim, um horror!

Mas mais triste ainda foi a aflição das populações e sobretudo a pavorosa morte de 25 soldados que combatiam o fogo.

Foi triste, gravemente triste e provocou no País um sentimento de pasmo que se transformou em profundo sentimento de dor e tragédia horrível da morte em serviço desses valorosos rapazes que não puderam cobrir-se de glória no ultramar, para onde seguiriam em breve.

Vivi intensamente estes acontecimentos e também fui acordado, nessa ocasião a altas horas da noite, no pinhal da Marinha, aos gritos de «Fogo! Fogo!» e vi à minha volta muita gente resoluta mas aflita.

Assisti à evolução da tragédia de Sintra, que teve princípio meio e fim.

O princípio, creio que ninguém sabe se foi casual ou provocado, mas o incêndio alastrou rapidamente e logo tomou conta de grande parte da serra. O meio foi o período de grandes dedicações - dos bombeiros e dos militares da população de

Sintra e de outros lados, de senhoras, de rapazes e raparigas, de gente de todas as classes -, mas foi também o teatro de muitas hesitações e de grande desorientação no comando de tão vasta e importante batalha. O fim foi realmente o termo do incêndio mas foi também o conhecimento dos grandes prejuízos nas matas e da despesa, certamente muito grande, do ataque ao fogo, a verificação da perda de exemplares arbóreos maravilhosos e, muito mais que isso tudo da morte dos 25 soldados!

Sr. Presidente: Não pedi a palavra para solicitar cópias de possíveis inquéritos.

Não! A minha missão é muito mais breve e limita-se a pedir ao Governo que crie rapidamente comandos especiais, simples mas eficazes - constituídos, por exemplo por um oficial superior do Exército, assistido do comandante dos bombeiros, do representante dos serviços florestais e do presidente da Câmara - que entrem automaticamente em funções de forma a logo se poder iniciar uma consciente luta contra o fogo mal ele deflagre.

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Por outro lado, no período crítico que vai aproximadamente do princípio de Agosto às primeiras grandes chuvadas de Setembro, deviam desviar-se para os pinhais e matas todas as possíveis patrulhas da Guarda Nacional Republicana e outros elementos de polícia e reforçar o serviço de vigias como voluntários ou contratados.

Peço providências. Peço-as em nome dos que têm tido grandes prejuízos, das crianças e mulheres que tanto se afligem nestas ocasiões, e também Sr. Presidente, em memória dos valentes rapazes queimados vivos na serra de Sintra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. André Navarro: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Realizou-se recentemente, no auditório da Feira Internacional de Lisboa, por iniciativa da Corporação da Lavoura e sob os auspícios da F. A. O., uma série de conferências feitas por um notável especialista de problemas correlacionados com a economia das indústrias florestais no mundo moderno - o Dr. [...]

Entre as conclusões desses oportunos colóquios de economia florestal é mister realçar dois aspectos que julgo serem de flagrante actualidade para o fomento silvícola nacional. É claro que quando uso a palavra «nacional», contrariamente ao que está com frequência em uso, digo em mau uso, em certos sectores responsáveis, é o «todo nacional» a que me refiro pluricontinental quanto ao habitat e [...] quanto à constituição étnica da população dos vastos territórios que constituem a Nação.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - São assim de realçar, ia dizendo as afirmações do referido especialista de que, no estado de subdesenvolvimento que se verifica em extensos territórios do globo, digamos dois terços desse espaço, a floresta e as industrias que nela se apoiam, constituem um dos ramos mais seguros para obter um progressivo desenvolvimento económico desses espaços e ainda de que a implantação racional da floresta e das correlacionadas actividades secundárias só será possível na escala desejável, se for devidamente aproveitada a actual conjuntura económica em que os produtos florestais, além de terem uma enorme gama de usos, é ainda assaz remuneradora a sua colocação em mercados consumidores de elevada capacidade de compra.