dades essas que, no meio bibliotecário português, são consideradas das mais relevantes. E verifico que V. Exa. vem indicando com pormenor os elementos que caracterizam essa actividade e a individualizam.

Acontece que V. Exa. se referiu há pouco à circunstância de em 1936 terem sido publicadas pelo Ministério do Interior disposições especiais relativas aos arquivos municipais e à necessidade de todos os municípios fomentarem a publicação dos seus anais. Eu sei que só a Câmara Municipal de Coimbra - para além dos exemplos, que não quero chamar para aqui, das Câmaras Municipais de Lisboa e do Porto - cumpriu as instruções recebidas do Ministério do Interior relativas à publicação desses anais V. Exa. mesmo o referiu em pormenor, indicando os vários que já foram publicados e aquele que estão em vias de publicação.

Mal ficava a quem de certo modo tem a sua vida ligada às bibliotecas e arquivos que não aproveitasse o ensejo para daqui e sublinhando, melhor dizendo, como, vendados a peso ou sujeitos a qualquer outra destruição.

De maneira que eu entendo que a Câmara, na medida do possível e em reforço das considerações pertinentes, oportunas e necessárias da parte de V. Exa. e, como sempre, possuídas de autoridade, emitisse um voto no sentido de que «depressa e em força», porque também é caso disso, acudamos aos arquivos municipais portugueses.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Confesso-me muito grato a V. Exa. pela oportunidade e pela autoridade do seu aparte. Saio convencido de que valeu a pena fazer esta intervenção sobre a Biblioteca Municipal de Coimbra para ter realmente a feliz oportunidade de no mesmo Diário das Sessões ficar consignado o aparte de V. Exa. Muito obrigado.

Eu vivi um pouco também a vida dos municípios e sei de casos desses em que foi vendido a peso material de alta importância não só para o estudo da vida municipalista, mas para a reconstituição da história da Administração Pública e da vida económica de muitas regiões do País. Foi um prejuízo, hoje já de difícil reparação. Mas que se atenda, como V. Exa. bem disse, ao menos àquilo que ainda é susceptível de ser recuperado e valorizado.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Mas a Biblioteca Municipal não se limitou a fornecer leitura ao público ou a editar obras, produto do labor dos que se lhe devotaram tem organizado dezenas de exposições de natureza artística bibliográfica, histórica, política e social.

É impossível uma enumeração circunstanciada. Refiram-se, a título exemplificativo, a do centenário de Camilo, a camoniana a da grande guerra, a de gravuras, a de barristas, a de arquitectura brasileira a dos acontecimentos e festas académicas a de bilhetes-postais conimbricenses, a de Eça de Queirós e as de temas ultramarinos. Isto além das exposições bibliográficas mensais, onde se patenteiam as últimas novidades Horárias e científicas saídas dos prelos nacionais. Artistas como Tomás de Melo, Eduarda Lapa, António Vitorino e João Carlos fizeram ainda com sucesso as suas exposições no átrio principal da Biblioteca.

Sr. Presidente: O problema fundamental da Biblioteca pode resumir-se assim aos 200 000 volumes existentes actualmente e no património do arquivo municipal acrescem anualmente provenientes do Depósito Legal cerca de 8000 novos volumes e 2000 colecções de jornais e revistas. Isto mesmo sem atender às ofertas e depósitos de livrarias particulares. Exige-se, deste modo, uma capacidade de armazenamento anual da ordem dos 80 m3. Eis o que se pede em vão a uns antigos e inadequados claustios, onde de repto, já tudo se encontra ocupado.

O Sr. Campos Neves: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor

O Sr. Campos Neves: - Tenho estado a ouvir falar V. Exa. e quero felicitá-lo por estar a abordar um problema que efectivamente merece o meu inteiro apoio e é perfeitamente) digno de para ele ser chamada a consideração desta Câmara. Na verdade, o papel que a Biblioteca Municipal de Coimbra tem vindo a desempenhar na cultura e na instrução de todo o Centro do País é sobejamente conhecido.

Eu mesmo fui e ainda sou por vezes, um dos utentes dessa prestigiosa instituição. Sei que a situação é angustiante. Os livros encontram-se, muito mal arrumados, por toda a parte, e não há um espaço vago. As instalações para as pessoas que à Biblioteca se dirigem no sentido de ler, de estudar e de aumentar a sua cultura não lhes proporcionam aquele mínimo indispensável para se trabalhar em boa ordem e com um mínimo de comodidades, tão indispensável para que tirem o proveito requerido.

Nestas condições, junto a minha voz ao clamor de V. Exa. no sentido de que o Governo providencie, através dos departamentos competentes, para que seja dada a essa Biblioteca e tão depressa quanto possível, uma instalação perfeitamente condigna, de acordo com o papel altamente meritório e patrótico que esta instituição desempenha na vida cultural do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sinto-me muito honrado pelo apoio de V. Exa. a um problema que não é só regional, pois a Biblioteca Municipal de Coimbra pela sua projecção nacional, merece a atenção de todos os portugueses.

A situação é ainda mais grave se tivermos em conta que a cobertura do claustro se encontra em estado de ruína, perigando assim a conservação de um dos nossos mais belos monumentos. Importa, pois, transferir a Biblioteca, até para o restaurar e recuperar para o nosso património artístico.