estrada do Marão em condições que permitam um mais cómodo e rápido acesso ao Porto?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não seria isso contribuir para a maior expansão e desenvolvimento da depauperada região transmontana?

Ou não teremos nós sabido merecê-lo?

Aqui fica nestas interrogações um mundo de anseios que palpitam forte no coração das gentes de Trás-os-Montes e por que a sua imprensa representativa se vem batendo, ao lamentar ainda bem recentemente.

E nenhuma voz sensata e autorizada se faz ouvia e entender para que as comunicações de Vila Real se adaptem às necessidades prementes do nosso tempo.

Pois bem, a voz, não sei se muito autorizada, aqui fica a ecoar no seio da representação nacional.

Praza a Deus possa ser ouvida.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Dias das Neves: - Sr. Presidente: A representação que me cabe, como Deputado a esta Assembleia, dos interesses regionais do distrito que tenho a honra de representar e, mais do que isso, a certeza de vir defender uma causa justa levam-me a pedir a V. Exa. para usar da palavra nesta sessão a fim de falar de um concelho do distrito de Santarém que, pela sua importância económica, política e religiosa, ocupa posição de relevo no cencerto dos concelhos do nosso país.

Vila Nova de Ourem, pois deste concelho se trata, é hoje, como foi sempre, uma realidade viva no plano económico, político e social do meu distrito de Santarém, a que está indissoluvelmente ligado desde os alvores da nossa nacionalidade, já que no plano religioso se projecta muito para além do distrito e mesmo do próprio País, pois teve um dia a graça suprema de ter recebido num cantinho do seu território, em Fátima, a presença de Nossa Senhora, e que é hoje altar onde pode ajoelhar todo o mundo para um encontro espiritual com a Mãe de Deus, que é luz e farol que ilumina toda a Terra.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - De estrutura tradicionalmente agrária, está este concelho fazendo um forte esforço de industrialização e valorização económica, pois dispõe já de uma poderosa indústria cerâmica e de serração de madeiras e de algumas fábricas de azeite, betuminosos carpintaria, plásticos, resinas e destilação de produtos diversos, mas começa a sentir que não poderá ir mais além, pois lhe faltam instrumentos de foi mação e valorização de uma mão-de-obra especializada, cada vez mais necessária, paia a obtenção do progresso económico em que todo o nosso país está empenhado.

A todo o seu potencial económico, tradicionalmente representado pela agricultura, indústria e comércio, acrescenta valiosos elementos turísticos quase desconhecidos.

Além de Fátima, lugar de peregrinação que é também pólo de atracção turística, Vila Nova de Ourém dispõe da velha vila de Ourem, com o seu velho castelo e a colegiada e outros monumentos, donde se contemplam panoramas dos mais lindos de Portugal que não têm sido completamente aproveitados, mas que, através de um planeamento turístico consciencioso e correcto haverão de ser englobados no conjunto de Tomar, Abrantes, Torres Novas, Almourol e Santarém, conjunto monumental dos mais ricos do País, cujo valor artístico é património que, assolado aos panoramas naturais lindíssimos dos vales do Nabão, Zêzere e Tejo, constitui riqueza que o País tom de aproveitar devidamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Das mais vincadas tradições portuguesas, o concelho de Vila Nova de Ourem está sofrendo no seu corpo um dos maiores males que afecta o nosso país

- a sangria nos seus habitantes -, provocado por um surto de emigração que, fazendo sair para o estrangeiro inteligência e força criadora, provocará o seu empobrecimento total, e que teremos de sustar por todos os meios ao nosso alcance se não quisermos encontrar dentro em pouco as suas terras abandonadas.

É necessário criar neste concelho instrumentos de valorização da juventude para que este possa desenvolver todas as suas capacidades, realizar o progresso que se impõe e criar oportunidades de fixação das populações à terra que lhes serviu de berço.

O Sr. Calheiros Lopes: - V. Exa. dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Calheiros Lopes: - Apoio inteiramente o ponto de vista de V. Exa., pois o concelho de Vila Nova de Ourem está sofrendo não só no seu corpo, mas principalmente na tua alma.

O Orador: - E realmente esse o meu pensamento e agradeço a V. Exa. a achega que veio dar a esta modesta intervenção, que assim ficou mais valorizada.

A presença destes factores impõe, Sr Presidente, a criação nesta vila, sede do concelho, de uma escola técnica comercial e industrial. Por isso, daqui do alto desta tribuna, quero pedir a S. Exa. o Sr Ministro da Educação Nacional, a quem o País já tanto deve neste campo do ensino, e muito em particular o meu distrito, a quem S. Exa. fez a notada justiça, que muito me apraz aqui registar e agradecer, de dotar com uma secção de ensino liceal em Tomar e outras de ensino técnico no Entroncamento e Alcanena, que desejamos brevemente transformadas em estabelecimentos independentes, pedir a S. Exa., dizia, que no estudo sério e profundo a que está procedendo o Gabinete de Estudo do Planeamento da Acção Educativa seja incluída uma escola técnica para Vila Nova de Ourém, para entrar em funcionamento o mais rapidamente possível.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A população deste concelho, que desde sempre tem registado um aumento considerável, atingiu no último censo populacional 47 511 habitantes, ocupando neste aspecto o terceiro lugar no distrito, depois de Santarém e Abrantes, e tem mantido esta tendência, cujo ritmo só foi contrariado pela pressão da forte corrente migratória. Para toda esta população não dispõe o concelho de um único estabelecimento oficial de ensino secundário onde todos os seus jovens possam aumentar a sua cultura e valorizar as suas possibilidades e o estabelecimento particular que existe é apenas de ensino liceal.

Assim, podemos verificar que no ano de 1963 estiveram matriculados 5556 alunos e fizeram exame de instrução primária 930 e que este ano estão matriculados no ensino