O grande déficit de produtos, alimentares que caracteriza a economia da província de Cabo verde acentua-se muito em 1965, elevando as importações para cifra muito alta. Este facto repercutiu-se na vida financeira e produziu o desequilíbrio da balança de pagamentos, medido pela diferença entre cambiais entrados e saídos.

As tradicionais receitas da emigração e do porto de S. Vicente, em moeda estrangeira e volumosas entradas de escudos para financiamentos diversos, não foram suficientes para equilibrar a saídas.

Apesar dos esforços despendidos e de grandes quantias gastas com o objectivo de aumentar a produção interna de alimentos e, porventura, produzir géneros para exportação, os consumos e outras razões não têm permitido que esses esforços sejam coroados de êxito.

É paradoxal a situação e digna de ser estudada em pormenor. À medida que vão passando os anos, apesar do gasto em planos de fomento agro-pecuário e outros, vai aumentando o desequilíbrio, isto é, importam-se cada vez mais matérias do reino vegetal e produtos das indústrias alimentares, bebidas, etc., a ponto de em 1965 o somatório de animais vivos, matérias do reino vegetal e produtos de industrias alimentares ter atingido quase 90 000 contos, que se comparam com menos de 58 000 contos em 1963 e cerca de 69 000 contos em 1964. Crise agrícola em 1965? Condições climáticas desastrosas neste ano? Falta de orientação nas exportações? Erros de planeamento? No entanto, continuam a aplicar-se verbas altas em planos de fomento. Em

1965 o dispêndio para este fim for da ordem dos 48 000 contos, o que eleva para quantia superior a 500 000 contos (518 545 contos o total despendido nos I e II Planos de Fomento e Intercalar.

Todos os anos se procura dar ideia do aspecto financeiro destes planos indicando as somas gastas nos seus diversos objectivos, e no parecer de 1964 resumiu-se o custo de modo a ter ideia da obra realizada. E este ano, na secção respectiva se acrescentarão as verbas do passado e às de 1965.

Conjugando estes gastos com as cifras do comércio externo, tendo em conta a desvalorização da moeda no longo período considerado, chega-se à conclusão de que a preponderância dos planos, do enluto ponto de vista económico, não parece ter exercido qualquer influência de relevo. Talvez que o aumento de consumos tenha absorvido os reflexos da obra agro-pecuária, mas o aumento de importações põe em duvida esta possibilidade.

O financiamento dos planos de fomento levou ao aumento da dívida e houve necessidade de aliviar a província dos seus encargos. Foram esses financiamentos que auxiliaram a balança de pagamentos.

Em suma, parece de tudo deduzir-se que há grande necessidade de fazer um estudo cuidadoso das condições da província nos seus, aspectos económicos e financeiros e um exame das suas possibilidades e aplicar medidas que assegurem a reprodução de novos investimentos. Já se indicou a linha geral de ataque à situação actual, estagnada em matéria de produção, pelo desenvolvimento da pesca, dos jazigos de pozolanas, indústrias químicas, melhorias, na produção de café e bananas e outras, como a criação de artesanato nas indústrias de vestuário. Não parece razoável seguir o caminho trilhado até agora.

Comércio externo O deficit da balança do comércio continuou a aumentar, tendo atingido 200 300 contos em 1965, mais cerca de 28 000 contos do que em 1964.

A causa do agravamento proveio de maiores importações. O aumento nestas é sensivelmente igual ao acréscimo no deficit entre os dois anos.

Quem segue de peito a economia do arquipélago já está habituado a altos deficits na sua balança do comércio.

Mas o sentido ascendente dos últimos três anos elevou-os de 58 100 contos, o que é excessivo. Às importações atingiram 228 300 contos e, como as exportações mal dobraram a casa dos 28 000 contos, o déficit assumiu um valor fora de toda a expectativa.

Há necessidade de olhar esta situação de frente por meios adequados. Se não for possível aumentar a exportação de produtos de origem animal ou vegetal, e parece que não o é, ao menos que se intensifique a produção para consumo interno. No quadro seguinte indicam-se os valores da importação e exportação nos últimos três anos

Vê-se a subida do deficit. Em 1962 ele tinha-se elevado a 176 000 contos o as cifras dos dois anos seguintes datam ideia de que a situação melhorara definitivamente. Mas o caso de 1965 desvaneceu esta expectativa.

A situação da balança do comércio, em grande número de anos, transparece claramente do quadro que segue