Parece não haver dúvidas de que em Angola se processou um aumento de consumos bastante volumoso durante o ano de 1965. Ele reflectiu-se em diversos aspectos da vida interna.

Na falta de elementos seguros sobre os consumos, que só um serviço especial de colheita e previsão pode oferecer, os resultados das balanças do comércio e de pagamentos tendem a indicar melhorias apreciáveis na despesa interna. Há, com efeito, maiores valias em certos produtos importados, que pesam apreciavelmente nos resultados da balança do comercio, como bebidas, têxteis, automóveis e outras, e, até certa medida, oneraram as importações.

Este desenvolvimento de consumos não é um mal. Em contrário, mostra a vitalidade da província, que possui elementos para os satisfazer. Convém acrescentar, porém, que a produção interna é a base dos consumos. Não é possível a qualquer país viver de reservas, ou assentar a sua economia na estagnação das actividades económicas.

Neste aspecto também há a indicação de que certas produções melhoraram em 1965, ainda que a sua influência se não faça sentir em termos apreciáveis na exportação.

Nos últimos anos começou a sobressair, nas actividades angolanas, um núcleo de actividades industriais e mineiras que, a continuarem-se em ritmo idêntico, atenuarão a influência de dois ou três produtos na economia interna e no quantitativo das suas exportações. A dependência dos saldos dos pagamentos externos de boas colheitas, como, por exemplo, as do café, do sisal e de outros, é prejudicial e tem grave projecção, em certos anos, na balança do comércio externo e, indirectamente, no bem-estar interno. O ano de 1965, com a baixa sensível nas receitas do café e do sisal - juntas mostram o decréscimo de 376 173 contos na exportação -, suscita a necessidade de continuar o processo da diversificação de produções internas e de alargar na medida do possível a gama de mercadorias de mais fácil comercialização nos mercados externos. Neste aspecto parece haver possibilidades, que conviria aproveitar, no sentido de maiores consumos metropolitanos de produtos que podem ser produzidos em Angola, como o algodão, o amendoim, o tabaco, o açúcar e ainda outros.

Para esse efeito há necessidade de melhor organização e técnica e de maiores investimentos, que não abundam na província. Nas receitas ou rendimentos de actividades já existentes transferidas sob a forma de lucros ou dividendos, e a aplicado de regras de produtividade nos novos instrumentos de produção, além do estudo consciencioso e prático da escolha de prioridades no sentido de alta reprodução, são elementos com grande influência na economia angolana, tão importantes como os investimentos de origem externa.

Comércio externo Não se pode considerar favorável para a economia angolana o ano de 1965 em matéria do comércio com o exterior, apesar de ter fechado o seu balanço com um saldo de 146 200 contos.

As importações aumentaram muito, em valor e tonelagem, e as exportações, que haviam concorrido em 1964 para um saldo positivo muito alto, superior a 1 100 000 contos, desceram para cifras inferiores às daquele ano tanto em peso como em valor.

Diversos factores concorreram para esta situação desfavorável, relacionados com menos produções e cotação mais baixa de certos produtos de interesse no equilíbrio do comércio externo. Mas as quebras na exportação provieram em parte de muito menores valores na exportação de mercadorias fundamentais, como o café e o sisal; no primeiro caso, cotações mais baixas produziram menores valores para maior peso, no segundo caso, no do sisal, os dois factores têm idêntico sentido com o resultado final de valores inferiores aos de 1964, da ordem dos 204 000 contos.

Esta diminuição no saldo da balança do comércio não podia deixar de trazer dificuldades, reflectidas em diversos aspectos, em especial nas transferências Um exame rápido dos consumos, tal como se podem deduzir das produções durante o ano e das grandes importações, mostra ter havido progresso. Como a economia provincial é muito sensivelmente afectada por oscilações nos preços unitários dos produtos importados e exportados, a qualidade dos consumos influi directamente nos saldos.

Angola é hoje o segundo produtor de café em África, com cerca de 205 000 t em 1965, o que corresponde a 3 416 000 sacos de 60 kg. O consumo mundial não acompanha a produção, e daí as dificuldades, periódicas nas saídas e na cotação Por outro lado o café, o principal produto na exportação, é submetido a um regime internacional de quotas.

Deste modo, podem dar-se anomalias, como a de 1965, em que a uma exportação de mais de 20 468 t de café em grão correspondeu a diminuição de 172 015 contos. Tal é o efeito das cotações.

A comparação com 1964 não deixa de ser elucidativa. Neste ano saíram mais 2263 t de café do que em 1963, mas entrar am mais 964 000 contos, números redondos. Mas há outros produtos sujeitos a idênticas flutuações Um dos casos típicos que afecta Angola e Moçambique é o do sisal, com uma produção de 60 000 t em 1965, sendo cerca de dois terços no distrito de Benguela, digamos de 40 000 t a 45 000 t. A influência de menores produções e valor mais baixo originou uma crise que se prolongou pelo ano seguinte.